O Memorial Cacique Djalma kaxixó será inaugurado em Minas Gerais

Lembranças de um guardião da memória indígena e arqueológica

por Alenice Baeta para o Combate Racismo Ambiental

A casinha simples do Cacique Djalma Kaxixó situada no Capão do Zezinho município de Martinhos Campos, no vale do rio Pará, Minas Gerais, foi reformada pela comunidade e se tornará um espaço cultural ou memorial destinado a valorizar a história e o patrimônio indígena Kaxixó.

A ideia partiu da comunidade indígena, em especial da Escola Estadual Kaxixó Taoca Sérgia, que está promovendo a inauguração do memorial, além de uma exposição no dia 28 de outubro, quando haverá ainda o pronunciamento de várias lideranças indígenas.

Em 1996 estive pela primeira vez na área Kaxixó, quando conheci lideranças idosas detentoras de muitas histórias indígenas, como os queridos Vó Chica, Dona Antonieta, Senhor Zezinho e o seu irmão, o Cacique Djalma. Todos já falecidos… mas a memória e os seus ensinamentos  continuam muito vivos para os estudantes indígenas. O Senhor Djalma, falecido em 2011, era o principal guardião dos lugares dos índios do passado e dos sítios arqueológicos do rio Pará. Ele passava dias na mata “vigiando” e “cuidando” desses locais.

O motivo da minha primeira ida ao Capão do Zezinho foi devido uma denúncia feita pelo Cacique Djalma e pelo Vice Cacique Jerry Adriane Kaxixó, que informava que sítios arqueológicos estariam sendo depredados periodicamente por outros moradores da região, que queriam “apagar a memória dos antepassados”, pois naquela ocasião os Kaxixó reivindicavam o reconhecimento étnico indígena e a identificação de um território tradicional. O Cacique Djalma alertava: “Estão querendo esbagaçar os lugares dos índios antigos e dos índios caboclos…

Passei dias andando nas matas com o Cacique Djalma Kaxixó que me levou em vários lugares situados nas margens direita e esquerda do rio Pará, tais como, os sítios Criciúma, Prainha, Salitre,  Vargem do Galinheiro, Fundinho, Sertão dos Buritis, Quati, Ponte Alta, Itaoca ou Gruta de Baixo, além de estruturas de casas subterrâneas pré-coloniais remanescentes e outros tantos sítios de interesse histórico e etnográfico.

O patrimônio arqueológico que se conhece hoje na região dos Kaxixó foi indicado cuidadosamente pelo Xamã Djalma, que não se cansava de dizer que “ a história dos antigos índios e os seus segredos estavam bem escondidos na mata, e não era qualquer um que sabia… no claro ou na escuridão da noite... Jagunço não acha”.

Muito obrigada pela oportunidade de ter percorrido lugares mágicos e inesquecíveis ao seu lado nas brenhas do Pará e do Pompeu Velho. Que este memorial acolha a sua história, dos velhos Kaxixó, bem como a memória indígena e arqueológica do vale do rio Pará, que tanto lutou para proteger.

Recentemente o Ministério Público Federal em Minas Gerais pediu que a Justiça Federal julgue improcedentes os pedidos formulados de anulação do processo administrativo de demarcação da terra indígena Kaxixó. Todos pela conclusão do processo de demarcação da Terra Kaxixó! Je suis Kaxixó!

Bibliografia:

BAETA, Alenice. Vistoria Arqueológica Preliminar na Bacia do Rio Pará.  Municípios: Martinho Campos e Pompeu, MG. (Laudo Técnico) Setor de Arqueologia do MHNJB/UFMG e CEDEFES. Belo Horizonte, Janeiro de 1996.

CALDEIRA, Vanessa (Coord.); BAETA, Alenice; MATTOS, Izabel M. de & SAMPAIO, José Augusto L. Kaxixó: quem é esse povo? (Relatório Técnico) CEDEFES/ANAI, Belo Horizonte, 1999.

OLIVEIRA, João Pacheco de. Os Caxixós do Capão do Zezinho: uma comunidade indígena distante de imagens da primitividade e do índio genérico. (Relatório Técnico) Museu Nacional/UFRJ- FUNAI, julho de 2001.

OLIVEIRA, João Pacheco de & SANTOS, Ana Flávia M. Reconhecimento Étnico em Exame: dois estudos sobre os Caxixó. Editora Contracapa, v.1, Rio de Janeiro, 2003.

SANTOS, Ana Flávia M. A História tá é ali. (Relatório Técnico Antropológico) MPF, Belo Horizonte, Outubro de 1998.

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