Funcionário da Funai foi sócio de cooperativa indígena, representou fazendeiros em negociação de multa e confirma “lavagem de soja” de ruralistas

Servidor confirma que indígenas vendem soja de área não licenciada para uma empresa que mistura com grãos dos fazendeiros

Por Tatiana Merlino, em O Joio e o Trigo

Um servidor da coordenação regional da Funai em Mato Grosso vem extrapolando suas atribuições como funcionário público do órgão indigenista onde atua: representou ruralistas e associações indígenas em uma negociação de multa e foi diretor administrativo e sócio de uma cooperativa indígena. (mais…)

Ler Mais

A ‘governabilidade’ tem as mãos sujas de sangue. Por Eliane Brum

O Congresso do Brasil, com maioria formada por predadores, não ‘emparedou Lula’, mas a humanidade

em Sumaúma

Nas últimas semanas assistimos ao Congresso desmatar gravemente o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e decidir que o Ministério dos Povos Indígenas não tem competência para tratar da demarcação das terras indígenas. Assistimos a tudo isso acontecer com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Assistimos a ministros petistas e deputados e senadores da base do governo nem sequer fingirem que tentavam barrar a destruição. E assistimos à maior parte da imprensa reduzir todos esses movimentos ao jogo de uma política de tabuleiro pequeno. Não é Lula que “foi emparedado pelo Congresso”. Somos nós e todos os outros.

Essa é parte significativa da desgraça. Parece não existir maneira de tirar a crise climática do gueto e trazê-la para o centro do debate. É reduzido demais o número de pessoas que compreendem que os atos do Congresso comprometem a sobrevivência da nossa e de outras espécies ao arrancar dos dois ministérios diretamente ligados à proteção da natureza e dos povos-natureza a capacidade de protegê-los. E isso – talvez – na última chance de impedir que a floresta amazônica chegue ao ponto de não retorno.

As pessoas ainda não entenderam que os dias para barrar o aquecimento global estão contados – e acham que tudo se resume a um jogo de quem ganha e quem perde, uma rotina já vista muitas vezes no palco pobre de Brasília. Ora, dizem os petistas e parlamentares da base aliada, “não tinha alternativa, é a governabilidade”. Quem não tem alternativa somos nós. É preciso resistir à vontade de dizer que o nome desses políticos – os que fizeram, os que compactuaram e os que permitiram – irá para a história como vilões, porque pode não haver história.

Quantas catástrofes, isso que é chamado de “eventos extremos”, serão necessárias para que compreendam que quase não há mais tempo para impedir a aceleração da crise climática e da extinção da biodiversidade, que nos condenarão a um planeta hostil à espécie humana e a muitas outras? De quantas secas e alagamentos, quantas migrações em massa, quantas espécies exterminadas precisaremos para tirar a crise climática da periferia do debate e nos levantarmos contra aqueles que decretam nossa morte?

Não, não nos venham falar em “governabilidade”. A governabilidade já avalizou horrores demais no Brasil em anos recentes. A governabilidade tem sangue nas mãos. Alegar governabilidade não vai salvar ninguém da extinção.

Quem percebe o tamanho da emergência que chamamos “climática” acorda em pânico porque nossa existência está nas mãos de gente que diz asneiras deste tipo: os indígenas “não vivem de comer minhoca” ou “são escravizados pela esquerda” ou “querem viver como os brancos”. Frases como essas foram ditas por parlamentares ao aprovarem a atrocidade chamada “marco temporal” na Câmara. Quem descobre que a vida está nas mãos dessa estirpe de gente, que arrota ignorância com a certeza de que está arrasando, nem sequer acorda porque não dorme.

Só a tese de demarcar apenas as terras indígenas dos povos que estavam em seus territórios em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, já é uma perversão que merece estudos psiquiátricos. Se os indígenas não estavam nas terras em que seus ancestrais viviam fazia séculos ou mesmo milênios não é porque foram dormir nas sarjetas da cidade mais próxima porque gostam de lixo, mas porque foram expulsos por grileiros ou pelo próprio governo ou porque fugiram para não ser exterminados.

Se Lula é o presidente, os fatos mostram que quem segue determinando nossa caminhada para o abismo climático é um Congresso de mentalidade bolsonarista. O atual Congresso, ainda pior do que o anterior, é um constrangimento. Assistir às sessões é um caminho seguro para a depressão, porque não é apenas que grande parte dos parlamentares vote pensando no bem próprio – e não no bem comum, como se deveria esperar. É que também uma parcela significativa é estúpida, diz coisas inacreditáveis, encena um espetáculo patético. Precisamos parar de chamar homens que pensam apenas em lucro próprio e vantagens pessoais de “conservadores”. Autoproclamarem-se conservadores é um truque barato para dar um verniz ao projeto pessoal de locupletação. Seria ótimo se fossem conservadores de fato, porque aí haveria convicção, princípios e inteligência para travar um debate real. Mas não é o caso da maioria. A maioria deste Congresso – Câmara e Senado – é composta não de conservadores, mas de predadores.

É importante, porém, lembrar que eles – a maioria são homens – foram eleitos e portanto têm legitimidade para estar ali. É lamentável, mas a população escolheu esse tipo de gente para representá-la. Seria infinitamente pior se fosse uma ditadura, rumo que tomava o governo do extremista de direita Jair Bolsonaro (PL), porque aí nem sequer haveria os contrapesos. E foram justamente os contrapesos que Bolsonaro e sua quadrilha tanto tentaram eliminar, assim como também queriam os golpistas de 8 de janeiro.

É porque ainda existem contrapesos que nesta quarta-feira o Supremo Tribunal Federal retoma o julgamento do marco temporal e temos uma chance de essa aberração ser sepultada em vez do planeta. É comprovado que a Amazônia e também os outros biomas – o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pampa – resistem onde há indígenas e populações tradicionais. Dessa decisão, portanto, também depende a nossa vida.

Estamos num momento crucial. Não apenas os indígenas, não apenas os brasileiros, mas a humanidade. Não apenas as pessoas humanas, mas também as pessoas não humanas. Deve ser assustador viver em qualquer outro país do mundo e saber que a sobrevivência da Amazônia, grande reguladora do clima, está nas mãos de homens que não entendem o básico da crise climática nem estão interessados em entender. Se pudéssemos compreender a linguagem das outras espécies, talvez conseguíssemos escutar seus gritos de pavor.

Ao ver o menino de 4 anos chegar sozinho para comprar um picolé, a moça do clube perguntou: “Onde está sua mãe?”. O menino respondeu: “Está ali”. Ela então questionou: “Onde está seu pai?”. E o menino retrucou: “Morreu na guerra”. O menino é filho de Bruno Pereira, indigenista assassinado há um ano, em 5 de junho de 2022, junto com o jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, na Amazônia. Sua mãe é a antropóloga Beatriz Matos. Ela contou essa história numa conversa com Alessandra Sampaio, viúva de Dom, promovida por SUMAÚMA.

O menino está certo. Seu pai morreu na maior guerra do nosso tempo, possivelmente de todos os tempos, a guerra movida contra a natureza. Seu pai estava na linha de frente, como estão os indígenas que hoje ocupam Brasília. Só será possível reduzir o número de órfãos se mais gente se juntar a eles já, agora, nas trincheiras da natureza contra os predadores de terno.

O CONGRESSO NACIONAL PREPAROU UMA OFENSIVA CONTRA A AGENDA AMBIENTAL DO GOVERNO LULA, DESMATANDO OS MINISTÉRIOS DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA E DOS POVOS INDÍGENAS. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

Ler Mais

Para lideranças indígenas e apoiadores da causa, aprovação do marco temporal representa genocídio dos povos e territórios

No segundo dia de acampamento, em Brasília, indígenas, representantes de órgãos públicos e advogados debatem tese do marco temporal 

Cimi

No segundo dia do Acampamento da Mobilização Nacional Contra o Marco Temporal – 6 de junho, véspera da retomada do julgamento do caso de repercussão geral sobre direitos originários –, cerca de duas mil lideranças indígenas acompanharam, na tenda principal do acampamento, debates sobre questões territoriais, garantia de direitos e proposições que tramitam nos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. (mais…)

Ler Mais

Julgamento de repercussão geral no STF é interrompido por pedido de vista e indígenas garantem que a mobilização contínua

O acampamento contra o marco temporal em Brasília também foi suspenso; os indígenas cobram a retomada urgente do julgamento

Cimi

Na tarde desta quarta-feira (7), o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou o julgamento do caso de repercussão geral sobre direitos originários. Paralisado desde setembro de 2021, quando o ministro Alexandre de Moraes pediu vistas, o julgamento foi retomado hoje com o placar empatado em 1×1: um voto contrário ao marco temporal, do ministro e relator do caso, Edson Fachin, e um voto favorável, do ministro Nunes Marques. (mais…)

Ler Mais

Ailton Krenak, tradutor do Bem Viver. Por Álvaro Faleiros

Pensador aponta: noção quechua de sumak kawsai nos chega por traduções. Seu sentido forte vem, tenso e fértil, no encontro com a cosmovisão originária: “Corpos vivos em uma Terra viva. Não podemos incidir nela como a retroescavadeira”

No Outras Palavras

Não é difícil constatar hoje o ingresso da Natureza na política. A pauta ambiental faz parte de todos os grandes encontros internacionais e a consciência dos riscos e perigos da crise climática, do aquecimento global e do esgotamento dos recursos naturais não escapa às preocupações de qualquer pessoa minimamente conectada com o nosso tempo. (mais…)

Ler Mais

Em cerimônia ritual Guarani e Kaiowá, UFGD inaugura casa tradicional indígena no campus

No Folha de Dourados

“Onde germina o tekoha-território para que as forças dos ñanderu/ñandesy conduzam o caminho da resistência na busca do belo tekoporã.” A frase na placa de aço escovado que contrasta com a rusticidade do sapé e da terra vermelha resume o ideal da construção tradicional inaugurada na última sexta-feira (02/06), na área externa da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Unidade 2 da instituição.

Na presença de centenas de estudantes e seus familiares, professores, técnicos administrativos e convidados externos, de diversas entidades, o Espaço de Práticas Pedagógicas Interculturais Oga Pysy foi entregue à comunidade acadêmica como símbolo da resistência do povo Guarani e Kaiowá, pela primeira vez erguido dentro de uma universidade no Brasil. (mais…)

Ler Mais

STF volta a suspender julgamento do marco temporal de terras indígenas

Ministro André Mendonça pediu vista e adiou análise do caso

Por André Richter – Repórter da Agência Brasil

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a suspender hoje (7) o julgamento do processo que trata da legalidade do marco temporal para demarcação de terras indígenas. A suspensão foi ocasionada por um pedido de vista do ministro André Mendonça. Pelas regras internas do STF, o caso deverá ser devolvido para julgamento em até 90 dias. (mais…)

Ler Mais