Perry Anderson: O neoliberalismo, esse zumbi

Desde a crise de 2008, sistema nega a si mesmo e adota parte do que propugnam seus adversários – apenas para conservar-se vivo e manter sua essência. A causa crucial é falta de uma alternativa. Mas a História, às vezes, preenche esta lacuna…

Por Perry Anderson, na London Review of Books | Tradução: Antonio Martins, em Outras Palavras

Passado um quarto deste século, “mudança de regime” tornou-se uma expressão canônica. Significa a derrubada em todo o mundo — normalmente, mas não apenas, pelos Estados Unidos — de governos que não são do agrado do Ocidente; empregando-se, para esse propósito, força militar, bloqueio econômico, erosão ideológica ou uma combinação de tudo isso. No entanto, originalmente o termo significava algo bem diferente: uma mudança generalizada no próprio Ocidente. Não a transformação súbita de um Estado-nação pela violência externa, mas a instalação gradual de uma nova ordem internacional em tempo de paz. (mais…)

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O nexo entre neofascismo e neoliberalismo e a criação sistemática de crises. Entrevista especial com Adriano Correia Silva

Enquanto o neofascismo esfacela estruturas estatais, o neoliberalismo as combate. Comportamento fomentado pelas redes sociais interdita debate público, engaja indivíduos atomizados a consumirem discursos pré-fabricados e opera via desresponsabilização

Por Márcia Junges, em IHU

“Na sociedade de massas, que ainda é a nossa, onde cada pessoa é levada a se ver apenas como uma peça dentro de uma engrenagem maior, é comum que haja uma separação profunda entre a personalidade individual e o papel que se exerce, como se o desempenho de funções como empregado ou servidor público estivesse isento dos juízos morais normalmente aplicáveis a outras áreas da vida. Além disso, muitas vezes a identidade pessoal se confunde totalmente com a função desempenhada, reduzindo o indivíduo à condição de um agente anônimo dentro de uma estrutura burocrática, esvaziando a riqueza e a complexidade de sua humanidade”, reflete Adriano Correia Silva em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Para o pesquisador,

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O ovo do pato: notas sobre ideologia no capitalismo decadente. Por Mauro Iasi

“Alguém ainda acredita que a sociedade capitalista é a sociedade da igualdade? Alguém ainda acredita na ideia positivista de progresso? Em que escaninho empoeirado foi parar a ideia de fraternidade? As bombas que caem em Gaza são para defender a liberdade e a democracia? No dia da libertação, quem foi liberto?”

Por Mauro Luis Iasi, no blog da Boitempo

“Quanto mais a forma normal de intercâmbio da sociedade e com isso, as condições da classe dominante desenvolvem  sua oposição  às forças produtivas progressistas, quanto mais cresce, em decorrência, a discórdia na própria classe dominante e entre ela e a classe dominada, é claro que tanto mais inautêntica se torna a consciência (…) e descamba para meras frases de efeito idealizadoras, para ilusão consciente, para hipocrisia proposital” 
— Marx e Engels, A ideologia alemã (mais…)

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O caleidoscópio da direita radical no Sul Global. Entrevista especial com Tatiana Vargas Maia

Contexto do fenômeno no século XXI exige nova abordagem para analisar o que se passa nas sociedades da região. Reconfiguração dos paradigmas que caracterizavam as forças reacionárias foge do esquema convencional da direita

Por Márcia Junges, em IHU

“A direita radical contemporânea configura-se como categoria conceitual de maior abrangência e versatilidade analítica, capaz de apreender manifestações políticas que, embora compartilhem elementos autoritários e antiliberais, não derivam diretamente do legado fascista histórico”, observa a pesquisadora Tatiana Vargas Maia em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Em sua análise, “em vez da destruição formal e abrupta das instituições democráticas, a nova direita radical opera mediante uma progressiva colonização dos espaços institucionais democráticos, provocando, de forma gradual, seu esvaziamento interno”. Faz-se imprescindível uma outra estrutura analítica para estudar o fenômeno da extrema-direita no Sul Global, o que “não passa apenas pela inclusão de novos casos na discussão, mas sim por uma necessária renovação teórica e metodológica que reconheça as limitações das teorias eurocêntricas e desenvolva conceitos e abordagens capazes de apreender as complexidades políticas de sociedades marcadas por histórias, culturas e realidades socioeconômicas distintivas”. (mais…)

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Devastação de Trump já atinge a ciência brasileira

Interrupção unilateral, pelos EUA, de cooperação com laboratórios de todo o mundo põe em risco controle de doenças infantis graves, como diabetes e cegueira avitaminosa. USP é uma das universidades afetadas. Pesquisadora sustenta: alternativa está no Sul Global

por Gabriela Leite, em Outra Saúde

A pesquisadora Patrícia Rondó, coordenadora do Laboratório de Micronutrientes da Faculdade de Saúde Pública da USP, não se surpreendeu ao receber, na semana passada, um email do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano. A mensagem anunciava que o Laboratory Quality Assurance Program  (Programa de Garantia da Qualidade Laboratorial), ao qual o laboratório onde trabalha é associado, havia entrado em uma “pausa por tempo indefinido” devido à falta de financiamento. (mais…)

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Dowbor: Pra nos tirar da solidão

As crianças perderam as ruas e foram aprisionadas em telas. O trabalho tornou-se obrigação sem sentido. O laço entre as gerações se perdeu no apartamento exíguo. Mas busca-se, em todo o mundo, caminhos de reconexão. São flores no asfalto?

Por Ladislau Dowbor | Tradução: Antonio Martins1, em Outras Palavras

Trabalhei anos em países africanos com ambiente social rico: bairros com crianças, avós, tios e tias, muito barulho e correria, zero privacidade, mas também muitas risadas. Era vida pulsando. E as ruas eram um lugar para socializar. Na minha infância em São Paulo, lembro que minha mãe ficava rouca de tanto gritar para nos chamar do meio da rua na hora do almoço. O mundo nos permitia explorar, e aprender a identificar o que valia a pena correr atrás — e do quê era melhor fugir. (mais…)

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A cruzada fascista das Big Techs contra a democracia. Entrevista especial com Eugênio Bucci

Liberdade, no mundo mediado por redes (anti)sociais, se transformou em culto à autocracia, obscurantismo e compromisso com os mais baixos valores sociais

Por: Baleia Comunicação | IHU

Há cem anos Adolf Hitler publicou a primeira parte de Mein Kampf. No texto, repetiu mais de 170 vezes a palavra “propaganda”, que tinha o sentido de uma mentira repetida muitas vezes até que se tornasse uma “verdade”. O método, percebemos, é antigo, mas as configurações da estratégia hoje, tem suas particularidades. “As plataformas sociais favorecem, enormemente, à proliferação de valores e signos próprios do fascismo. Claro que estamos falando de um fascismo modificado, mas ainda assim um fascismo na medida em que prega o ódio ao estrangeiro, o expansionismo um pouco nacionalista, uma xenofobia em conjunto com misoginia, a lógica de expandir território e uma abordagem das relações internacionais em um tom de beligerância”, explica o professor, pesquisador e escritor premiado Eugênio Bucci, em entrevista por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. (mais…)

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