Mergulho nas ideias do pensador indígena, em possível diálogo com Heidegger e Butler. Eurocentrismo, diz, gesta a humanidade zumbi, sem memória e identidade. A perda do nós plural e criativo é o fim do mundo. E o ancestral, antídoto
por Piero Detoni, em Outras Palavras
I. Eduardo Viveiros de Castro, no posfácio de Ideias para adiar o fim do mundo, do intelectual e ativista indígena Ailton Krenak, contextualiza as/os leitoras/es do livro que se trata, assim como faz Davi Kopenawa e Daniel Munduruku, de uma reflexão em busca da história da descoberta do Brasil pelos índios. Quer dizer, uma contra-história e, também, uma contra-antropologia atravessa o ensejo de Krenak. Seu objeto é a desnaturalização da história única da humanidade, aquela mesma da cultura dominante do Estado-nação moderno que se voltou belicosamente contra as populações indígenas. Krenak é propositor, segundo Viveiros de Castro, de perguntas inquietante: somos uma humanidade? Uma humanidade única e não diversa? Uma humanidade e não uma rede “inextrincável” e “interdependente” de humanos e não humanos? Quem seria esse “nós” no questionamento krenakiano? “Nós” relativo a quem? Ao quê? Uma pergunta sobre identidade? Sobre o quem somos? Estamos ante, pois, de questionamentos existenciais, em que esse “nós” deixa de se portar unívoco e unidimensional, voltando-se para um nós pluralista, móvel, criativo e variável – diferencial. Para os Krenak isso incluiria a terra, as pedras, as montanhas, os rios, os seres em geral. Esses são alguns dos questionamentos, ou ideias propositivas, para se lançar, então, o adiamento do fim do mundo. (mais…)
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