Indiciados, presidente e diretor da Samarco são afastados

Empresa diz que executivos se licenciaram para cuidar de defesa

O Globo

A Samarco, dona da represa que se rompeu em Mariana, afastou ontem o presidente da empresa, Ricardo Vescovi, e o diretor de Operações, Kleber Terra. Eles haviam sido indiciados pela Polícia Federal por crimes ambientais causados pelo desastre, que matou 17 pessoas há dois meses. Uma semana após terem sido indiciados pela Polícia Federal por crimes ambientais decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, e o diretor de Operações, Kleber Terra, foram afastados de suas funções na companhia. O licenciamento foi pedido pelos próprios executivos para que possam se dedicar às respectivas defesas e acatado em reunião do Conselho de Administração, realizada ontem.

Em nota, a Samarco garantiu que “todos os compromissos já assumidos e as ações em curso serão rigorosamente mantidos”. A empresa afirmou que o afastamento é temporário, porém não foi divulgada nenhuma previsão de retorno aos trabalhos dos dois executivos.

DIRETOR COMERCIAL ASSUME

Interinamente, a função de presidente será assumida pelo atual diretor Comercial, Roberto Lúcio de Carvalho. Formado em metalurgia pela Universidade Federal de Ouro Preto, ele ingressou na Samarco em 1985, como engenheiro de processos, e esteve à frente de funções estratégicas de operações da unidade de Ubu, no Espírito Santo. A função de diretor de Operações será exercida interinamente pelo diretor de Projetos e Ecoeficiência, Maury de Souza Junior, que passa a acumular as funções.

Da Samarco, empresa responsável pela barragem, foram indiciados, além de Ricardo Vescovi e Kleber Terra, a gerente de Geotecnia, o gerentegeral de Projetos e responsável técnico pela barragem de Fundão, o gerente-geral de Operações e o coordenador de monitoramento das barragens. Esses últimos não tiveram os nomes divulgados pela Polícia Federal.

Ainda foram indiciadas a Vale, uma das controladoras da Samarco, e a empresa Vogbr, que atestou a estabilidade das barragens de Germano, Fundão e Santarém.

O desastre em Mariana, o maior da História em volume de material despejado por barragens de rejeitos de mineração, deixou 17 mortos e dois desaparecidos. A PF esclareceu que tem a atribuição de investigar crimes ambientais, uma vez que a lama atingiu o leito do Rio Doce, um bem da União que corta Minas Gerais e Espírito Santo.

Da PF, o inquérito seguiu para o Ministério Público Federal, que avaliará se oferece denúncia à Justiça. Tanto as empresas quanto os executivos e técnicos foram indiciados por “tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana”, “causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade” e “dificultar ou impedir o uso público de praias”. A pena para esses crimes varia de um a cinco anos.

Paralelamente, a Polícia Civil de Minas investiga as mortes de moradores do distrito de Bento Rodrigues e de funcionários da Samarco e de empresas contratadas pela mineradora. A fase atual é de verificação de laudos.

As reparações financeiras da tragédia estão em negociação. Na última segunda-feira, o governo federal anunciou que aceita dialogar com a Samarco e suas controladoras, a Vale e a BHP Billiton, e fechar um acordo para a recuperação do Rio Doce. A expectativa é que a definição possa ocorrer até o início do mês que vem.

No fim de dezembro, a Advocacia Geral da União (AGU) obteve na Justiça uma liminar em seu favor, determinando que a Samarco deposite os primeiros R$ 2 bilhões em contas judiciais para iniciar, assim, a reparação dos danos ambientais e a indenização às pessoas afetadas pelo acidente.

O retrato do casal e o escudo do time do coração resistiram na parede do lar destruído. Foto de Márcia Foletto / O Globo.

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