MST denuncia o descaso do poder público com os assentamentos de Mato Grosso do Sul

A situação se agravou no último período com as fortes chuvas

Por Karina Vilas Boas
Da Página do MST

Enquanto os grandes latifúndios possuem suas estradas cascalhadas, conservadas, muitas vezes com recurso público, para o escoamento de suas produções, os assentamentos de Mato Grosso do Sul sofrem com o descaso dos poderes constituídos e no período de chuvas, como foram os últimos 60 dias a situação piora ainda mais e fica praticamente impossível transitar pelas estradas e muitas famílias estão ilhadas, perderam suas plantações e ainda não conseguiram calcular o tamanho do prejuízo que tiveram.

Essa é a situação dos Sem Terra do Conquista na Fronteira, localizado na Nova Itamarati, distrito do município de Ponta Porã, área da antiga Fazenda Itamaraty, desapropriada em 2002 para reforma agrária e implantação de um assentamento. Desde então as famílias assentadas tem batalhado e tirado dinheiro do próprio bolso para manter as estradas e garantir o escoamento da produção.

De acordo com o assentado Sebastião Simão, a situação está tão crítica, que eles se reuniram e estão pagando do próprio bolso, nos grupos coletivos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cerca de R$ 5 mil reais para jogar terra seca, patrolar e nivelar as estradas.

“Estamos em verdadeiro estado de emergência e se não tirarmos dinheiro do próprio bolso não vamos conseguir sair com a nossa produção do assentamento, pelo menos o pouco que sobrou depois de tanta chuva. Além disso, tem o leite que é a sobrevivência de uma grande maioria que está se perdendo todos os dias, por isso nos unimos e estamos fazendo o papel que deveria ser feito pelo poder público, mas é a nossa única saída”, afirma.

Já para Rosangela Vieira de Souza, assentada e agente de saúde, o momento é de muita tenção, pois além das perdas financeiras, agora vem as consequências do período de chuvas. “Como agente de saúde e mãe temo muito, principalmente pelas crianças, porque com essa chuvarada e a umidade toda vem as bactérias, os fungos e nada das autoridades tomarem uma providência. Aqui na minha região a água entrou dentro das casas e eu minha família só ficamos porque tínhamos mantimentos suficientes, muitas tiveram que abandonar o pouco que possuem”, disse.

Moisés Escobar Osório, assentado há 15 anos no Conquista na Fronteira, foi um dos que teve que deixar tudo o que tinha e levar a mulher e os filhos para a casa de parentes.

“Dá uma dor no peito ver tudo o que construímos acabado, até as árvores nativas que plantamos quando entramos na terra morreram, é uma vida toda que se perde e sei que sozinho não vamos dar conta de nos reerguemos, precisamos com urgência de ajuda política para poder nos recuperamos. Minha esperança vem com o sol dos últimos dias e com as notícias dos esforços que o movimento tem feito”, conclui.

Nos últimos dias o MST tem feito diversas articulações nacionais e locais, com órgãos como prefeituras, governo do Estado, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para garantir recursos que possam ser investidos na infraestrutura dos assentamentos, principalmente nas estradas que garantem o escoamento da produção.

Está pré-agendado para o início de fevereiro uma agenda com diversos órgãos públicos e agentes políticos, como INCRA, MDA, governo do Estado, Exército, Integração Nacional, prefeitos, deputados, em Brasília, para se debater a situação.

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