Milonga macrista

Por Lara Schneider

Além do interesse pessoal que possuo em saber o que ocorre na América Latina, tenho buscado acompanhar o que, especialmente, ocorre na Argentina. Em grande parte por todo o afã que a mídia (aqui) teceu em comparações feitas sobre a eleição de Macri, na Argentina, com a eleição de um candidato similar aqui no Brasil. Por lá, e não negando os problemas que temos aqui, o que vemos nesses últimos dias?

Chama a atenção o fim dos subsídios para gás e eletricidade; o que, na prática, vai significar um aumento de mais de 300% na conta das pessoas. Essas mesmas pessoas estão sendo despedidas aos montes, e demonstram muito receio pois, aqueles que permanecerem empregados, já sabem que o reajuste de seus salários deve ser muito mais baixo do que se imaginava.

É claro que o argumento para os ‘ajustes’ realizados pelo governo Macri segue a velha máxima de culpabilizar o governo anterior pelo açoite imposto no lombo do cidadão comum. Nada de novo. Mas, que não se esqueça que os impostos para exportação baixaram, e para alguns produtos se extinguiram as restrições existentes sobre à exportação; isso terminava por obrigar que nem tudo fosse para o mercado externo…

Também começaram algumas conversas onde os números da ditadura argentina (que foi brutal, assassina, torpe, como todas as ditaduras e seus requintes de vileza) são ‘diminuídos’; algo como: ‘30.000?! não, não… são uns 8 ou 9 mil…’. O governo Kirchner (como todos seus defeitos) bateu de modo dolorido neste tema tão sensível (Ditadura), e fica a sensação que o governo Macri está tentando ‘assoprar’… Não sou adepta do punitivismo, mas sou menos adepta (ainda) dessas tentativas de reescrever a história para imiscuir ou relegar ao esquecimento criminosos fardados e asseclas civis que permitiram essa época tenebrosa.

E como saber onde tudo isso vai dar? Se vai dar em tango ou em cumbia?

Não dá para saber… Macri já anunciou a extinção do Indec (Instituto Nacional de Estatísticas), alegando que não haverá a divulgação de dados de inflação, PBI e pobreza, os principais indicadores, porque “não existem recursos humanos nem materiais” para produzir dados confiáveis. Somem-se a isso os recentes ataques ensejados por Macri contra a Lei da Mídia… e…

Não dá, mesmo, para saber muita coisa… porém, desconfio a respeito de quem não é possível confiar. E desconfio que nada seria muito diferente aqui, em Brasil, caso aquele outro filhote neoliberal houvesse chegado ao governo federal.

(E havia esquecido de mais um ingrediente da milonga macrista: o recente decreto de ‘Estado de Emergência em Segurança’… De modo bem sensacionalista, muitas das mazelas são atribuídas ao tráfico de drogas, o que legitimaria uma série de medidas de exceção para ‘salvar’ a Argentina da violência… Que coincidência, não?! Fortalece-se o poder punitivo e repressivo justo quando se delineia um cenário onde, muito provavelmente, movimentos estarão tomando as ruas. Será preciso muita imaginação para supor onde o ‘couro vai comer’?)

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