“Quando olhei para os dois garotos, não consegui ver outra coisa diferente do que dois aniquilados. Eles já estavam mortos, só faltavam cair”
Por José Rodrigues – Outras Palavras
Há lembranças que nos habitam como se fantasmas fossem. Pois, o presente insiste em atualizar o que gostaríamos que fosse apenas passado. Por isso, já superado. Eu não posso — e nem devo, ou quero — esquecer daquilo que em mim é ferimento, angústia, revolta, mas que no outro é a própria sentença de morte, em vida. “O comandante quer sangue”. A frase ouvida numa conversa entre um policial e um taxista, alguns anos atrás, no Rio de Janeiro, tem a sinistra potência de permanecer atual; como se, a cada novo ato de violência policial, cada novo “auto de resistência”, a mesma se atualizasse ferozmente. “O comandante não quer que prenda. Ele quer que mate”. O alvo da conversa eram dois meninos franzinos que circulavam próximos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) pedindo esmola e engraxando sapatos. Há sangue no chão. (mais…)