Transexuais lutam pelo direito de viverem num país de ampla maioria cristã

Paulo Emanuel Lopes – Adital

“- Você acredita em Deus?”. Foi a pergunta que uma atendente fez a Dediane Souza, ativista transexual, quando, há poucos dias, se encontrava na sede da Polícia Federal de Fortaleza, tentando retirar documentos.

“Eu acredito em Deus, mas não creio que seja esse mesmo que você acredita. Acho que você está com problemas de concepção de Deus”. Dediane respondeu.

Para a ativista, em entrevista à Adital, a religiosidade é algo importante na vida de uma pessoa, desde quando não utilizada como instrumento de “negação de direitos” àqueles em situação de vulnerabilidade, como é o caso das/os transexuais. “Quando criança, eu frequentei uma igreja evangélica, na qual eu não tinha compreensão, mas já sofria violência [psicológica], por ser uma criança efeminada. Quando eu me afirmei trans, já não fazia parte dessa Igreja”, conta Dediane, que, apesar de afirmar acreditar em um Criador, transparece um certo “desconforto” com o Cristianismo, fruto dessa relação conflituosa com a espiritualidade experimentada quando criança.

Brasil: país que mais mata transexuais no mundo

Não por acaso, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), 318 pessoas LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais] foram assassinadas no Brasil, em 2015, um crime homofóbico a cada 27 horas; desses, 7% foram heterossexuais assassinados porque confundidos com homossexuais. No Brasil, de ampla maioria cristã, o risco de uma pessoa trans ser assassinada é 14 vezes maior do que um homem gay. Segundo agências internacionais, mais da metade dos homicídios envolvendo transexuais no mundo ocorrem no Brasil. (disponível no site “Quem a Homotransfobia matou hoje?”).

“É importante mantermos uma data como esta porque, dentro da comunidade LGBT, as travestis e transexuais são o grupo que mais sofre violência, preconceito”, explica, em entrevista à Adital, o ativista Carlos Magno Silva Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), ao comentar sobre o Dia da Visibilidade Trans, no último dia 29 de janeiro. “O Brasil, aliás, é o país onde mais se mata travestis no mundo. E, pior, muitos desses casos nem são solucionados; os assassinos permanecem soltos”, explica.

Transcidadania: um projeto de dignidade às pessoas trans

Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), cerca de 90% das pessoas trans trabalham no mercado da prostituição. Garantir cidadania a essas pessoas passaria por iniciativas de empoderamento econômico.

Neste sentido atua o projeto Transcidadania, da Prefeitura de São Paulo. A iniciativa oferece uma bolsa de cerca de 800 reais para que a população LGBTT em situação de vulnerabilidade social na maior cidade brasileira, muitas das quais vivem nas ruas, possa estudar e se profissionalizar, reinserindo-se no mercado de trabalho.

“Há um ciclo de exclusão e preconceito que rodeia as travestis. Começa na família, segue para a escola e chega ao mercado de trabalho. Elas acabam deixando a escola, o trabalho, restando a prostituição, como forma de sustento. Não cremos que a prostituição seja um caminho errado, mas queremos que as travestis sejam respeitadas e tenham oportunidades, como todas as outras pessoas. Por isso, na minha opinião, os maiores desafios, hoje, para essas meninas, são educação e emprego”, defende Carlos Magno, da ABGLT.

Para Carlos Magno, presidente da ABGLT, os maiores desafios hoje para as/os transexuais é a luta por igualdade de oportunidades econômicas, pois o preconceito e a discriminação acabam por afastar esse grupo das escolas e do mercado formal de trabalho. Foto: blogueiras feministas.

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