Igreja se preocupava mais com reputação do que em ajudar vítimas de abusos, diz cardeal australiano

Segundo George Pell, que falou a comissão investigativa da Austrália, havia ‘instinto de proteger a instituição’ quando eram feitas denúncias de abuso sexual

Opera Mundi

O cardeal australiano George Pell declarou nesta segunda-feira (29/02) que, diante de acusações de pedofilia, a Igreja Católica possuía um “instinto de proteger a instituição” e uma “predisposição a não acreditar” nas denúncias das crianças. Ele falou à Real Comissão para Respostas Institucionais ao Abuso Sexual de Crianças, grupo australiano que investiga casos de pedofilia no país, inclusive dentro da Igreja Católica.

“Não estou aqui para defender o indefensável, a Igreja cometeu erros enormes e está trabalhando para repará-los, mas em muitos muitos lugares, certamente na Austrália, a Igreja estragou as coisas e decepcionou as pessoas”, afirmou. Ele classificou como “catastrófico para as vítimas e para a Igreja” o modo com que as denúncias na cidade de Ballarat, foco da Comissão, foram conduzidas.

“Naquela altura, o instinto era mais de proteger a instituição, a comunidade da Igreja, da vergonha”, disse o cardeal. Ao ser perguntado, Pell disse que não tinha conhecimento se havia abusos sexuais em Ballarat. Ted Dowlan, padre na cidade, foi preso por ter violentado 31 garotos.

O cardeal Pell é tesoureiro do Vaticano e dirige a Secretaria de Economia da Santa Sé, o que o coloca na posição considerada a terceira mais alta na hierarquia católica. Ele afirmou que durante a década de 1970, quando começou a se deparar com denúncias de abuso sexual, esteve “muito fortemente inclinado” a acreditar na versão dos padres.

Por condições de saúde, o cardeal, que estava em Roma, não viajou a Sidney e falou com a Comissão por meio de uma videoconferência. Antes do interrogatório, que durou cerca de quatro horas, Pell fez um juramento com a Bíblia de que falaria a verdade. Ele voltará a falar com a Comissão nos próximos três dias.

Um grupo de 15 vítimas ou familiares de pessoas que sofreram abusos por membros da Igreja Católica na Austrália foi a Roma e assistiu ao interrogatório na mesma sala em que o cardeal se encontrava. Segundo eles, a intenção era submeter Pell à pressão que teria caso tivesse ido à Austrália.

“Eu acredito que as falhas foram esmagadoramente pessoais em vez de estruturais”, disse Pell. Ele afirmou que, nos últimos 20 anos, “muitos poucos países” avançaram tanto quanto a Igreja Católica australiana na condução de denúncias de pedofilia.

Foto: Vítimas e familiares foram a Roma e assistiram interrogatório na mesma sala do cardeal, que falou por videoconferência

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