Unesco aceita candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade

O pedido de inclusão na lista da Unesco, feito pelo Iphan, ocorreu ano passado

Simone Candida – O Globo

RIO – Já declarado patrimônio carioca e nacional, o Cais do Valongo, na Zona Portuária, está mais perto de obter mais um reconhecimento: o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas américas teve sua candidatura aceita pelo Centro do Patrimônio Mundial para ser reconhecido como Patrimônio da Humanidade. Revelado durante as obras de revitalização da Zona Portuária, o Valongo tornou-se monumento da cultura negra no país. Foi no Valongo que desembarcaram mais de 500 mil negros escravizados, entre 1811 e 1843, vindos, em sua maioria, do Congo e de Angola.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a prefeitura do Rio, receberam na terça-feira um comunicado da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, informando que o dossiê da candidatura como foi aceito como “completo e apto a iniciar os trâmites de análise por suas instâncias técnicas.”

No segundo semestre deste ano, uma missão com vários representantes da Unesco vem ao Rio visitar o Cais do Valongo e a Zona Portuária para conhecer o local e avaliar a pessoalmente candidatura. A decisão final só sairá em julho de 2017, durante a Sessão Anual do Comitê do Patrimônio Mundial, em julho de 2017.

O pedido de inclusão na lista da Unesco ocorreu ano passado no contexto das comemorações dos 450 anos de fundação da cidade do Rio de Janeiro e da década do afrodescendente, instituída pela Assembleia Geral da ONU. A candidatura faz parte de um processo de valorização e reconhecimento das origens africanas da cidade. O trabalho foi acompanhado pelo Comitê Consultivo da Candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade, composto por membros de associações sociais e comunitárias, pesquisadores e representantes das três esferas de governo.

O Valongo foi declarado patrimônio nacional em novembro de 2015. Na ocasião, a Unesco considerou o local parte da chamada “Rota do Escravo”, projeto lançado pela instituição em 2006 para destacar o patrimônio material e imaterial relacionado ao tráfico de escravos no mundo. Construído para ser ponto de desembarque e comércio de escravos, em 1843 ele foi transformado no Cais da Imperatriz para receber Teresa Cristina, que se casaria com dom Pedro II. Em 1911, ele foi aterrado e deu lugar à Praça do Commercio.

No início das obras da Zona Portuária, em 2009, a prefeitura foi informada por arqueólogos e historiadores de que haveria restos do cais, o maior porto de escravos das Américas no século XIX, onde hoje é a Rua Barão de Teffé. O projeto foi alterado, e o sítio arqueológico, revelado pela equipe da arqueóloga Tania Andrade Lima, passou a ser exposto ao público. Construído em 1811, o Cais do Valongo foi soterrado por ordem da Coroa, para a construção do Cais da Imperatriz, que em 1843 receberia dona Teresa Cristina, trazida para se casar com dom Pedro II. A área estava aterrada.

Ruínas do Cais do Valongo, na Zona Portuária – Márcia Foletto / O Globo

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Alenice Baeta.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

dezesseis − 5 =