Edwirges Nogueira – Repórter da Agência Brasil
“O machismo também afeta os homens. Eu, particularmente, quero que eles sejam feministas”, disse hoje (29) Lola Aronovich, uma das vozes do feminismo mais ativas no Brasil, em palestra no 1º Colóquio Feminista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para Lola, que mantém o blog Escreva, Lola, Escreva, o movimento beneficia toda a sociedade, na medida em que promove a igualdade entre os gêneros.
“Gostaria que os homens pensassem em um mundo onde as mulheres não precisem temê-los e onde eles não precisem provar que são másculos o tempo todo. O feminismo é uma luta para emancipar a vida de todo mundo.”
Lola, que também é professora da UFC, reconhece que o caminho em busca de igualdade de direitos entre homens e mulheres ainda está longe de ser alcançado. Para ela, há uma resistência por parte dos homens em aceitar a liberdade das mulheres e as consequências disso se refletem nos dados sobre violência contra a mulher. A professora, inclusive, faz parte dos dados: precisou registrar sete boletins de ocorrência, devido a diversas ameaças que sofreu por causa de posições divulgadas em seu blog.
“Ainda não entendemos porque tantos homens se ressentem e não querem essas mudanças. Acho que ainda é pelo chamado merecimento. Em geral, promete-se aos homens lugares de comando e de destaque na sociedade. Muitas vezes, quando esse lugar não chega, eles ficam revoltados, não contra o sistema explorador, mas contra as mulheres e outros grupos oprimidos, como homossexuais e negros. Se continuar, essa revolta está fadada ao fracasso.”
Sexualidade reprimida na velhice
Diante do crescimento da população idosa devido ao aumento da expectativa de vida e de terapias que promovem a qualidade de vida na velhice, está em curso a chamada feminização da velhice. O geriatra e professor da Faculdade de Medicina da UFC, Jarbas de Sá Roriz Filho, percebe isso no dia a dia do Ambulatório de Geriatria da universidade, onde mais da metade dos pacientes são mulheres. Segundo ele, as mulheres vivem cerca de 8 anos a mais do que os homens.
O professor Roriz Filho, em sua palestra, afirmou que esse fenômeno trouxe mudanças significativas no comportamento de homens e mulheres idosos. “O ‘equipamento sexual’, sobretudo o feminino, não tem validade. Enquanto houver saúde, é possível ter relações sexuais, e a medicina contribuiu para isso com as terapias de reposição hormonal e da disfunção erétil.”
Apesar desses avanços, Jarbas disse que ainda há tentativas de inibir a sexualidade dos idosos. Para as mulheres, conforme ele, isso é ainda mais repressor. “Há uma inversão de papéis. Ao envelhecer, os filhos começam a interferir e a regular o comportamento sexual das pessoas idosas, especialmente das mulheres. Há que se preservar a reputação daquela senhora. Não pode vestir determinadas roupas, ou ir a determinados bailes da terceira idade”, afirmou.
Edição: Maria Claudia