Por Alexandra Lucas Coelho, no Público
1. Com o Brasil a abrir brechas, uma multidão de cariocas lotou uma sala de cinema. Aconteceu num sábado de manhã, no pino do Verão. Não se tratava, pois, de fugir a pensar (para isso tinham a praia), nem propriamente de pensar, e sim de experimentar outro pensamento, como diria Eduardo Viveiros de Castro, o antropólogo que apresentou o filme. Um mês depois, e já tendo passado pelos Óscares, O Abraço da Serpente, de Ciro Guerra, estreia em Portugal na próxima quinta-feira. Mas antes de tudo isto foi visto por índios que viajaram durante dias até à maloca onde seria a projecção. Maloca é a casa comunal amazônica, hoje desaparecida em muitos povos indígenas, tal como tantas línguas. O velho xamã do filme, por exemplo, é interpretado por um índio ocaina, língua que só tem 16 falantes. Mais do que um filme sobre a Amazônia, O Abraço da Serpente será um filme em que o fim do mundo fala do que tem visto. A floresta sabe que o apocalipse não é de agora. Os índios estão à nossa frente, não atrás. (mais…)