‘Conquista’, diz líder Yanomami ao receber sangue repatriado em RR

MPF entregou 100 frascos de sangue repatriado dos EUA nesta terça (19). Colhido em 1960 e 1970, material foi levado aos EUA sem aval dos índios.

Emily Costa, do G1 RR

Índios Yanomami receberam nesta terça-feira (19) do Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR), em Boa Vista, mais um lote de amostras de sangue colhido por cientistas norte-americanos. O material foi coletado sem o consentimento dos índios e do governo brasileiro nos anos 60 e 70. Esta é a terceira remessa que chega ao país.

Os cerca de 100 frascos de material genético foram entregues ao líder Yanomami Davi Kopenawa, presidente da presidente da Hutukara Associação Yanomami, que comemorou o retorno do sangue indígena. As amostras, que estavam em universidades norte-americanas, só voltaram ao Brasil devido a intervenção do MPF.  Não se sabe exatamente que tipo de pesquisa foi feita com o material.

Para Kopenawa, a repatriação do sangue, que levou mais de 40 anos, é uma conquista para o povo Yanomami.

“Foi uma conquista muito difícil. Muitas pessoas ajudaram. O governo federal brasileiro conversou com os americanos, que levaram nosso sangue sem consultar nosso povo e a Funai [Fundação Nacional do Índio]. Foi uma falta de respeito”, explicou.

Ao receberem a primeira remessa das amostras, em abril de 2014, os índios fizeram uma cerimônia de mais de três horas para enterrá-la na comunidade Piaú, na região de Toototobi, divisa entre os estados do Amazonas e Roraima.

“O sangue é prioridade na cultura Yanomami, ele pertence ao nosso povo. Agora, vamos levá-lo de volta onde nossa família nos espera e iremos enterrá-lo na nossa comunidade”, afirmou Davi. Ainda não há data para a cerimônia de enterro das 100 amostras entregues nesta terça pelo MPF.

O material genético foi entregue aos Yanomami pelo procurador da República Fábio Brito Sanches, titular do Ofício de Defesa dos Direitos Indígenas. Ele afirmou que a devolução do sangue foi resultado de negociações que ocorrem desde 2005.

“Temos um procedimento instaurado desde 2005 e várias tentativas foram realizadas até que recentemente o MPF conseguiu com auxílio do Itamaraty celebrar um acordo extrajudicial que garantiu a devolução desse material biológico”, explicou.

Ainda segundo o procurador, após a entrega desta terceira remessa, o MPF trabalha para obter o retorno do último lote de amostra.

“Duas remessas já foram realizadas, sendo que uma foi entregue na Terra Indigena Yanomami e outra pelo procurador Rodrigo Janot. Agora, falta essa última remessa para que esse caso seja definitivamente solucionado”, destacou.

Sangue Yanomami
O caso, que ficou conhecido como ‘Sangue Yanomami’, ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970 quando um antropólogo e um geneticista coletaram amostras de sangue de indígenas no Brasil e na Venezuela sem autorização das lideranças do povo.

O acordo para a repatriação do sangue foi articulado pela Secretaria de Cooperação Internacional, e foi assinado entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Universidade da Pensilvânia em março de 2015.

Os trabalhos começaram em 2002, quando as lideranças indígenas procuraram o MPF e, segundo o órgão, em 2005 a Procuradoria da República em Roraima instaurou um procedimento administrativo. O material chegou ao país no dia 26 de março.

Imagem: Reprodução do G1 RR.

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