Por Manaira Medeiros, Século Diário
A ArcelorMittal tem operado em plena capacidade no Complexo de Tubarão, atingindo o nível de 7 milhões de toneladas de aço bruto, o que representa quase o total (7,5 milhões) que consegue produzir por ano na usina da Serra. O ritmo atual é motivado pela recuperação do mercado internacional, como apontam informações do jornal Valor Econômico. A produção máxima intensifica a poluição do ar na Grande Vitória, cujos índices de emissões são alvos de constantes denúncias e reclamações da população. A empresa também aumentou o volume destinado à exportação de 60% para 70%, superando a média nacional.
Em entrevista ao Valor, o presidente da Arcelor, Benjamin Baptista Filho, afirmou que a usina de Tubarão está embarcando tanto placas como bobinas laminadas a quente para o exterior, compensando a retração da demanda no mercado brasileiro de aço, que teria reduzido em 14% as vendas do grupo no País (números da própria Arcelor).
O presidente da empresa diz que o mercado no exterior se recuperou no final de 2015. “As bobinas a quente chegaram a ter alta de US$ 200 a tonelada no mercado chinês, enquanto nos Estados Unidos ‘superou fácil a marca de US$ 500”, pontuou ao Valor.
De acordo com o relatório financeiro da siderúrgica, publicado recentemente, o aumento da produção teve início no ano passado, já para atender à demanda internacional.
Os números apontam que a produção chegou ao nível de 6,7 milhões, com 50% do volume para exportação, seguindo no mesmo ritmo crescente em 2016.
O período de plena capacidade da empresa na usina da Serra coincide com o aumento da poluição do ar na região metropolitana, cujos índices desde 2015 são apontados como insustentáveis pelos moradores. Nas estações de monitoramento de Vitória, a poluição também tem ultrapassado os limites permitidos, como mostram números do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
Enquanto a poluição só aumenta, as prefeituras e o governo do Estado não fiscalizam nem tomam medidas eficazes para enquadrar as empresas que respondem pelas emissões, além da Arcelor, a mineradora Vale.
Com o agravante, no caso da siderúrgica, de poluir o ar com enxofre sem nenhum tratamento, o que prejudica ainda mais a saúde e qualidade de vida da população. A Arcelor tem três usinas e apenas duas unidades de dessulfuraração, com risco ainda de funcionar apenas uma, como denunciado ao Ministério Público do Estado (MPES) pela Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-ES), em fevereiro último.
A plena capacidade de produção da Arcelor não considera os números da usina de Cariacica, que produz 1 milhão de toneladas, das quais 600 mil toneladas de aço bruto e de 400 mil toneladas de produtos laminados por ano.
Já a Vale bombardeia a Grande Vitória com poluentes de oito usinas de pelotização. As sete primeiras com capacidade total de produção de 25 milhões de toneladas de pelotas/ano e a oitava de 7 milhões de pelotas por ano.
As duas empresas e a Samarco Mineração foram apontadas pela investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Pó Preto na Assembleia e na Câmara de Vitória como responsáveis pelos danos ambientais e coletivos gerados pela poluição do ar à população capixaba, com obrigação de compensá-los e repará-los imediatamente. No entanto, embora o relatório tenha sido divulgado em outubro do ano passado, nenhuma providência nesse sentido foi tomada.
Ao contrário da população, a Arcelor não tem pressa. Convocada pelos deputados estaduais há dois meses para “prestar conta” das ações para minimizar os impactos de sua produção após a investigação, anunciou que irá instalar o Filtro de Manga (Gas Cleaning Bag Filter), que seria considerado pela Comunidade Europeia a melhor tecnologia atualmente disponível no mundo, com capacidade de reduzir em 90% a emissão de poluentes. Previsão: janeiro de 2018.
—
Imagem: Os poluentes formam densas nuvens pretas, vistas a quilômetros – Foto: Leonardo Sá.