Violência contra índias cresce e MS traduz cartilha sobre Maria da Penha

Distribuição começa em setembro e deve atingir 60 mil mulheres indígenas. Informações do material foram traduzidas para etnias guarani e terena.

Do G1 MS com informações da TV Morena

Jejopy Rehegua Maria da Penha é como os indígenas chamam a Lei Maria da Penha na língua materna dos terena em Mato Grosso do Sul. Para reduzir os casos de violência contra mulheres indígenas, que em quatro anos aumentaram quase 6 vezes, a Defensoria Pública traduziu a Lei Maria da Pena e lançou a cartilha de orientação no Dia Internacional da Mulher Indígena, celebrado nesta segunda-feira (5).

O material começa a ser distribuído neste mês nas aldeias do estado. O objetivo é atingir cerca de 60 mil mulheres indígenas. Segundo a coordenadora do Núcleo de Proteção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, Edmeiry Silara Broch Festi, a iniciativa é uma forma de aproximar as indígenas dos direitos que elas têm.

Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do país, com cerca de 80 mil pessoas. Desse total, 46 mil falam a língua guarani e pouco mais de 23  mil a língua terena. A dificuldade de acesso a serviços básicos como saúde, educação e justiça, por conta do idioma, é uma reclamação antiga da comunidade indígena.

A partir disso que surgiu a ideia de traduzir a cartilha, segundo Edmeiry. Ela comenta que os casos de violência doméstica contra mulheres indígenas aumento muito de 2010 para 2014.

“O número é alarmante e tem só crescido. Em 2010, o número de 104 agressões físicas para 2014 com 619 agressões físicas. Com a cartilha, elas teriam, com certeza, maior entendimento já que há uma grande dificuldade das mulheres indígenas com a língua portuguesa”, comentou.

Indígena Roseli já foi vítima e hoje ajuda outras pessoas (Foto: Reprodução/ TV Morena)
Indígena Roseli já foi vítima e hoje ajuda outras pessoas (Foto: Reprodução/ TV Morena)

Intérprete
A indígena guarani Roseli Carmona já fez parte das estatísticas de violência doméstica. Ela foi vítima de agressão do companheiro quando tinha 14 anos. Na época, o filho dela tinha 11 meses e acabou sendo morto pelo agressor.

“Eu casei muito cedo, tive filho, perdi meu filho por causa da violência doméstica, então, eu tinha que ficar calada. Eu sou mulher, tenho meus direitos e não preciso apanhar”, afirmou.

Hoje ela trabalha como intérprete na Casa da Mulher Brasileira, na capital, e ajuda outras mulheres indígenas que passaram por situações parecidas. É uma forma de ajudar no atendimento das vítimas que não falam português.

“Ela [vítima] se sente aliviada, uma segurança de chegar e contar o que está acontecendo. A gente orienta o que deve fazer para ajudar, que ela tem que ser firme nisso. Eu como sou guarani atendo as indígenas e as paraguaias”, contou.

Roseli acredita que a questão do idioma pode aproximar as vítimas das delegacias e encorajar as denúncias. “O idioma é o principal, eu acredito, que tanto na delegacia, no hospital e tantos outros lugares onde as indígenas recorrem é preciso ter um intérprete. Vão no posto de saúde e não sabem como falar, algumas não sabem nem explicar nem a dor que sentem”, ressaltou.

A distribuição das cartilhas vai começar na região sul do estado, nos municípios de Amambai e Dourados, onde mais acontecem casos de violência. A etapa do projeto prevê palestras nas aldeias para apresentar e explicar a cartilha e também a conscientização dos homens indígenas de que a violência contra a mulher é crime.

Serviço: O disque-denúncia contra violência doméstica é o 180. A ligação é gratuita e a pessoa não precisa de identificar.

Comments (1)

  1. Bom dia, Muito boa iniciativa. Desejo saber onde podemos adquirir essa cartilha inclusive em idioma indigena, pois fazemos parte de comissões da OAB MULHER e também temos povos indigenas aqui no estado. No aguardo de v. resposta.

    Att,
    Dra. Glaucia Advogada

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