Promotor de Justiça omite infiltrado em denúncia de jovens presos em manifestação

No Justificando

Na última semana, 18 manifestantes foram denunciados pelo promotor de justiça do Ministério Público de São Paulo, Fernando Albuquerque Soares de Souza, por corrupção de menores e associação criminosa, em decorrência do episódio ocorrido na manifestação contra o governo Temer, quando foram presos na saída de um metrô, antes de chegarem ao protesto pacífico.

O episódio ficou nacionalmente conhecido pela participação ativa, contra a lei e sem qualquer autorização judicial, do capitão do exército Willian Pina Botelho, que se infiltrou entre os jovens detidos com o nome falso de “Balta Nunes” e foi responsável pela emboscada que resultou na prisão, como revelaram em matéria a Ponte Jornalismo e o El Pais Brasil.

Apesar de toda a repercussão da participação do militar, que despertou inúmeras críticas e motivou o próprio Exército e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de irem a público se explicar, Fernando Albuquerque denunciou os jovens sem qualquer referência ao episódio. Pelo contrário. O membro do Ministério Público utilizou uma narrativa baseada tão somente no depoimento na delegacia dos policiais que efetuaram a prisão, ao dizer “que populares notaram o que estava por ocorrer e acionaram policiais militares”. Além disso, o promotor sequer indicou Willian como testemunha do caso.

A denúncia do promotor não indica quem eram “os populares”, nem como eles teriam levado a Polícia Militar a mover, instantaneamente, dez viaturas, um ônibus e um helicóptero logo na saída do metrô.

Agora caberá ao juiz ou juíza responsável pelo caso a decisão de receber a denúncia ou então rejeitá-la. Leia a denúncia na íntegra com os nomes dos acusados preservados – 1 2 3 4 5

Relembre o caso

Logo que saíram do metrô Vergueiro, próximo ao protesto, os jovens se depararam com uma dezena de viaturas da polícia militar, que efetuou a prisão em flagrante. Nesse momento, “Balta” entrou em um carro separado e desapareceu do restante do grupo.

Com os jovens foram apreendidos materiais de primeiros socorros, vinagre e até um chaveiro do Pateta. Como material de possível uso para depredação, a polícia apresentou uma única barra de ferro que foi contestada por todos os depoimentos, que afirmam que a barra foi plantada por um soldado de sobrenome “Farani”, o qual teria os agredido com soco nas costelas. Farani é investigado em um inquérito que apura a denúncia da agressão.

Os manifestantes ficaram presos por horas e foram interrogados sem advogados, embora cerca de dez profissionais estivessem à porta da Delegacia na procura de entrar e conversar com os presos. A situação só foi resolvida na madrugada, quando o ex-Senador Eduardo Suplicy, o Deputado Federal Paulo Teixeira e o Vereador Nabil Bonduki chegaram para pedir explicações.

No dia seguinte, o Juiz Rodrigo Telline determinou a soltura dos acusados. No despacho, o magistrado afirmou que “vivemos dias tristes para nossa democracia. Triste do país que seus cidadãos precisam aguentar tudo de boca fechada”.

No último mês, o exército admitiu a participação do policial oficialmente e afirmou que o grupo não era uma organização criminosa – “Não há que se falar em infiltração, uma vez que o grupo que foi preso, naquela data, não era uma organização criminosa, mas sim de livre adesão. Manifestava-se de maneira ostensiva no ambiente cibernético e nas ruas, podendo receber tantos e quantos fossem os interessados em participar” – afirmou documento assinado pelo general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, chefe de gabinete do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.

Promotor já agrediu um advogado 

Em 2011, o mesmo promotor foi processado por esmurrar um advogado durante um tribunal do júri. O processo chegou ao fim dois anos depois, com Albuquerque aceitando uma transação penal proposta pela Procuradoria Geral de Justiça e oferecendo o pagamento de dois salários mínimos.

Com informações da Ponte Jornalismo.

 

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