Antissemitismo continua a proliferar no mundo, diz secretário-geral das Nações Unidas

Por ONU Brasil

No Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que o antissemitismo continua a proliferar no mundo atual, ao lado de “um profundo e perturbador crescimento do extremismo, da xenofobia, do racismo e do ódio contra os muçulmanos”.

Segundo ele, seria um erro perigoso imaginar que o Holocausto é simplesmente o resultado da insanidade de um grupo de criminosos nazistas. “Ao contrário, o Holocausto foi o apogeu de milênios de ódio, culpabilização e discriminação contra os judeus, o que nós agora chamamos de antissemitismo”, disse em mensagem de vídeo.

“Hoje, honramos as vítimas do Holocausto, uma tragédia incomparável na história da humanidade. O mundo tem o dever de lembrar que o Holocausto foi uma tentativa sistemática de eliminar o povo judeu e tantos outros”, declarou.

Para Guterres, “tragicamente, e ao contrário da nossa vontade, o antissemitismo continua a proliferar”. “Temos visto um profundo e perturbador crescimento do extremismo, da xenofobia, do racismo e do ódio contra os muçulmanos. Irracionalidade e intolerância estão de volta”, completou.

Essa situação é uma completa disparidade aos valores universais consagrados na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, declarou. Segundo o secretário-geral, “nunca podemos permanecer em silêncio ou indiferentes enquanto seres humanos estiverem sofrendo”. “Sempre devemos defender os vulneráveis e levar os opressores à justiça”.

A data deste ano tem como tema a educação como provedora de um futuro melhor. “Depois dos horrores do século 20, não deveria haver nenhum espaço para a intolerância no século 21. Eu garanto a vocês que, como secretário-geral das Nações Unidas, estarei na linha de frente da batalha contra o antissemitismo e todas as formas de ódio”.

“Vamos construir um futuro de dignidade e igualdade para todos — e assim honrar as vítimas do Holocausto, que nós jamais permitiremos que sejam esquecidas”, concluiu.

Assista ao vídeo da mensagem do secretário-geral da ONU:

 

Mensagem da UNESCO

Em 27 de janeiro de 1945, o exército soviético descobriu o horror do campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Alemanha nazista. Mais de 1,1 milhão de indivíduos foram assassinados nessa enorme máquina de matar, com quase 1 milhão deles sendo judeus.

A Alemanha nazista também perseguiu e massacrou milhões de outras pessoas por causa de sua raça, orientação política ou sexual. O sítio de Auschwitz-Birkenau, incluído em 1979 na Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), é um símbolo da “desumanidade do homem para com o homem”, e a prova perene dos crimes cometidos por causa do ódio racista e antissemita, disse a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, em sua mensagem.

“O antissemitismo pode mudar de rosto, adquirindo feições religiosas, sociais, raciais ou políticas, mas ainda é o mesmo ódio que fere e mata. É por isso que a lembrança dos crimes do regime nazista e de seus colaboradores deve ser uma memória ativa, para que possamos entender os mecanismos de exclusão, reconhecer o ponto a que a violência pode chegar quando é combinada com a indiferença, a negação ou o esquecimento, e evitar que crimes em massa ocorram novamente”, disse.

Segundo ela, a história nos fornece uma melhor compreensão da natureza específica desse ódio, inclusive quando ele se esconde por trás da crítica sistemática e odiosa a Israel. “A luta contra todas as formas de antissemitismo, racismo e intolerância é a base do respeito pelos direitos de todos”.

“Que seres humanos tenham sido considerados ‘supérfluos’ e mortos porque nasceram judeus é um crime universal que diz respeito a toda a humanidade, para além de diferenças de religião, opinião ou origem. Na violência desencadeada hoje sobre populações civis em várias partes do mundo, assim como no discurso de ódio predominante nas redes sociais, não é difícil de se detectar o eco dessas ideologias totalitárias.”

Em resposta a isso, a diretora-geral da UNESCO afirma estar convencida do poder do conhecimento, da informação e da educação como uma fortaleza contra o antissemitismo, a negação do Holocausto e todas as formas de racismo.

“Quanto melhor conhecemos a nossa própria história e a de outros, mais fortes são os laços que construímos com a humanidade. A transmissão da história encoraja a solidariedade e molda uma humanidade que é mais unida, mais justa e mais pacífica”, disse.

De acordo com Bokova, sítios do patrimônio, museus, documentos e vestígios do passado desempenham um papel essencial na educação e podem ajudar todos os cidadãos, de qualquer idade, a denunciar as falsidades e as mentiras daqueles que desejam explorar a ignorância, o medo e o ódio do outro.

“A UNESCO se compromete todos os dias a ensinar a história do Holocausto e de outros genocídios, ao lado de estudantes, professores e gestores de políticas educacionais em todas as partes do mundo”, afirmou.

“Essa aspiração à cidadania global se encontra no cerne do trabalho das Nações Unidas, e mais uma vez eu peço que os Estados-membros incluam em seus currículos a história do Holocausto e de outros genocídios e crimes contra a humanidade, como uma introdução à tolerância e à paz”, concluiu.

Escritório de Direitos Humanos cita ‘horror’

Também nesta sexta-feira (27), o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, disse que o dia de memória às vítimas do Holocausto nazista força o mundo a contemplar os horrores para os quais intolerância, racismo e discriminação levam.

“A brutalidade sádica das atrocidades cometidas pelo regime nazista contra judeus, ciganos, eslavos, pessoas com deficiência, dissidentes políticos, homossexuais e outros foi nutrida por camadas e camadas e de propaganda, falsificações e incitações ao ódio”, disse, acrescentando que as vítimas foram denegridas e difamadas; seus direitos foram violados e, finalmente, mesmo sua humanidade lhes foi negada.

“‘Aconteceu, portanto, pode acontecer de novo’, escreveu Primo Levi, que enfrentou e sobreviveu a um campo de concentração em Auschwitz Birkenau. Enquanto homenageamos as vítimas do Holocausto, precisamos também reconhecer a necessidade de prevenir a recorrência do antissemitismo em todas as suas formas de ódio religioso e discriminação hoje”, disse o chefe da ONU.

Segundo ele, é importante manter o Estado de direito e a imprensa livre, que pode responsabilizar líderes e estabelecer registros confiáveis dos fatos. É crucial manter o respeito aos direitos humanos, especialmente em relação ao direito à vida e ao bem-estar de todos independentemente de sua origem ou etnia.

Uma cerimônia para a ocasião ocorre nesta sexta-feira na sede da ONU em Nova York, com participação da subsecretário-geral para Comunicações e Informação Pública, Cristina Gallach. Entre os porta-vozes, estarão presentes Peter Thomson, presidente da Assembleia Geral; Danny Danon, representante permanente de Israel na ONU; e Michele J. Sison, vice-representante dos Estados Unidos na ONU.

Imagem: Memorial do Holocausto em Berlim, na Alemanha. Foto: Anders Adermark/Flickr (CC)

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