Em currículo enviado ao Senado, Moraes (também) apresenta Pós-Doutorado inexistente

No Justificando

O ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, apresentou pós-doutorado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no período de 1997-2000, em seu currículo encaminhado ao Senado. Moraes, que foi indicado pelo presidente Michel Temer para o cargo de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF), alterou também o currículo na plataforma Lattes da USP, em que apresentava o mesmo estágio.

As distorções no currículo já haviam sido reveladas pelo Justificando, quando apurou o Lattes do Ministro da Justiça, que constava um pós-doutorado que não existiu. Naquela oportunidade, ele atribuiu o “engano” à sua secretaria. No entanto, não apenas no documento do Lattes da USP constava a desinformação, como também reafirmou o estágio ao enviar um currículo para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Justificando teve acesso ao currículo de Moraes com exclusividade. Veja abaixo:

Currículo de Alexandre de Moraes encaminhado ao Senado

A falsa atribuição de pós-doutor compôs o relatório do senador Eduardo Braga (PMDB/AM) para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.  No documento, Braga afirma sobre Moraes que quanto a sua formação e atividades acadêmicas, é bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, Doutor em Direito (2000), Pós-Doutor em Direito (2000) e Livre-Docente pela mesma instituição (2002). Leia a íntegra do relatório.

Até o momento, não houve retratação por parte de Alexandre de Moraes no Senado. Não bastasse, o currículo da USP e CNPQ, após a matéria do Justificando, foram alteradas não só as datas de formação, como também a nomeação de pós-doutor. É possível visualizar o currículo do ministro antes e depois da alteração, nos dias 13/02 e 16/02 respectivamente:

Currículo de Moraes na plataforma da USP, no dia 13/02/2016
Currículo de Moraes na plataforma da USP, no dia 16/02/2016

No currículo público no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPQ), reconhecido pelo MEC, o ministro está descrito apenas enquanto Doutor e Livre-Docente – sem menção ao polêmico pós -doutorado. De acordo com o próprio site, a última atualização aconteceu no dia 14.

Para a reportagem do Justificando na segunda-feira (13), a assessoria de Moraes informou que ele não possui pós-doutorado e a informação no Lattes trata-se de “um erro de preenchimento da sua Secretaria e que já foi corrigido”. Quando questionada no dia seguinte (14) sobre o currículo enviado ao Senado, a assessoria não respondeu ao portal.

Falsidade ideológica e PGR

A reportagem questionou dois juristas sobre o caso e como proceder acerca do estágio inexistente. O Promotor de Justiça no Ministério Público de São Paulo, Gustavo Costa, afirmou que “à primeira vista, é falsidade ideológica”. “Acredito que, assim como na questão do plágio, esse currículo [como pós-doutorado] deveria ser entregue ao [Rodrigo] Janot“, disse.

Seguindo o mesmo pensamento, o advogado criminalista, Luiz Fernando Pacheco, acredita que essa questão merece um exame aprofundado por parte da Procuradoria Geral da República e relembrou outros processos de indicação. “Essa fase de menção de um ministro de Supremo para que ele seja aprovado no Senado Federal, exceto o governo de Floriano Peixoto – que teve a indicação de ministro rejeitada – no Brasil, nunca houve rejeição”, explicou.

O promotor Costa acrescentou ainda que “qualquer pessoa pode encaminhar isso ao Janot solicitando ao MP que tome providências“.

 

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