A hastag #MeuProfessorRacista e uma branquitude que não quer se olhar no espelho

Por Viviana Santiago para o Palavra de Preta

A hastag #MeuProfessorRacista foi criada no dia 27/03 como uma reação aos processos opressivos e reiteradores de estereótipos e preconceitos raciais vigentes em práticas pedagógicas.

A origem da hastag é uma experiência numa aula no discussão na aula de Teorias do Texto na FFLCH – USP quando a abordagem de conteúdos racistas ganhou o tom de piada e chacota.

Essa vivência na USP por estudantes negras e negros não é isolada, nós pessoas negras trazemos na nossa história profundas marcas- superadas ou não- de racismo vivenciado no nosso percurso formativo e a hastag tem tido força para demonstrar isso.

Trazer a tona esse conteúdo não é um exercício simples, para muitas pessoas somente a simples leitura pode se constituir em trigger, atualiza um sofrimento,  uma dor de ter sido exposta, destituída, deslegitimada, ridicularizada… Mas a hastag saiu e muitas e muitas pessoas reuniram coragem mexera no seu passado ou falaram de violências do presente.

A partilha de histórias a partir da hastag  se constitui numa oportunidade única de pensar a prática pedagógica e as instituições de ensino a partir da análise do quanto podem ser reprodutoras e produtoras de racismo e preconceito e essa deveria ser a principal aprendizagem

Mas falar sobre racismo no brasil é um exercício dos mais difíceis, somos um país com uma resistência enorme e se perceber racista. Falando mais explicito: Somos um país no qual a população branca que se beneficia até hoje da escravidão, do racismo e do lugar subalterno produzido para população negra não quera admitir o racismo.

Diante de uma oportunidade de se debruçar sobre os relatos da violência racista e se revisitar, começa a espernear, e o piti vem em forma de outra hastag, agora com relatos de profissionais não racistas. Sério? o que isso significa?

O fato de identificarmos a segunda hastag como um movimento reacionário À primeira é profundamente revelador. É revelador do desconforto causado pela primeira, de quando se ouve algo que arranha a autoimagem perfeita que se tem de si mesmo, arranha a pintura e nos obriga a olhar o retrato, e talvez tal como Dorian Grey, identificar que na hastag um depositário de toda a violência e atos vis que já se praticou numa vida. Dorian Grey deixa o retrado trancado e a branquitude brasileira cria uma nova hastag, mas é o mesmo movimento.

Reconhecemos que existiram e sempre existirão professoras e professores com uma prática pedagógica progressista, que indo para além do racismo trazem uma visão humanizada e humanizante da população negra, que estão para além de preconceitos e estereótipos. OK, mas quando com tanta pressa decidimos trazer a luz essas pessoas, parece que a intenção é silenciar a critica e isso é muito desonesto.

A pressa em criar a nova hastag sobre boas práticas e a urgência em mostrar que houveram pessoas que agiram diferente é silenciadora, porque tenta camuflar com a exceção, a regra que vem destituindo  a população negra de uma processo de aprender que não  seja patado por medo. A existência da exceção não anula a regra, e isso precisa estar nítido. O fato de identificarmos práticas progressivas e comprometidas com a igualdade racial não anula o racismo do processo educativo.

A denúncia do racismo na prática pedagógica nos ajuda a entender como as instituições de ensino a partir de suas dinâmicas, currículo, metodologia, abordagem legitimam o racismo e o reproduzem, trazem como discurso oficial para cada estudando a noção de serem inferiores ou superiores a partir de seu pertencimento racial.

É preciso que as pessoas brancas tenham  a capacidade de ouvir a denúncia do racismo, de voltar-se sobre si mesmas e iniciar um profundo processo de  reflexão e revisita  que lhes possibilite nova postura diante das denúncias de racismo e engajamento com a construção da solução antirracista, e preciso dizer nesse momento: silenciar hastag do povo preto seguramente não é o caminho.

Enviado para Combate Racismo Ambiental por Viviana Santiago.

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