Nessa vida de mulher negra militante sempre me encontro com pessoas brancas aliadas e sempre existe uma postura em algumas delas que, disfarçada de cuidado, na verdade tenta silenciar. Então se você é uma pessoa branca, que gosta de partilhar incômodos com o que você chama de exageros dos movimentos negros, por favor, leia esse texto, possivelmente estou falando sobre e para você.
Por Viviana Santiago, no Palavra de Preta
Eu sou negra e sou mulher. Sou uma mulher negra de 36 anos e sempre fui negra. Então eu sei bem o que é o racismo, porque eu o senti na minha pele desde que eu lembro de mim. Denunciar o racismo e as práticas racistas para mim não é uma opção, é um imperativo ontológico. É daí que surge a possibilidade de resistir e re-existir.
Dito isso, eu gostaria de pedir a pessoas brancas que não se percebem racistas que, em meus textos no blog, postagens no facebook, artigos, conversas na esquina, que NÃO venham escrever : “ah, mas eu sou branque e não faço/nunca fiz isso”. Se você é uma pessoa branca e não se reconhece racista, então não estou falando sobre você certo, certo? Mas não significa dizer que o que estou denunciando não seja verdade. Não significa dizer que o racismo não existe.
Sou uma mulher cis e não transfóbica e não posso dizer por isso que a transfobia não existe, por exemplo. Então uma sugestão seria que ao invés de tentar me fazer parecer histérica, ou hipersensível, você pudesse usar sua compreensão sobre não ser racista e denunciar o racismo de pessoas que são brancas, como você, e que são racistas; que você pudesse usar sua voz não para negar o racismo, mas para enfrentá-lo. Isso sim é ser uma pessoa aliada da questão racial.
Agora deixa eu colocar aqui uma reflexão: se você pessoa aliada da luta antirracista se ressente comigo e com outras pessoas negras, toda vez que denunciamos o racismo, então eu realmente acredito que talvez você devesse se revisitar um pouquinho mais, porque incômodo é a palavra que você está escolhendo para nomear outra coisa.
