O que deseja: Um PIB grande para alguns ou um país que dê prazer a todos?, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

Crescer é bom, mas esse crescimento deve beneficiar a todos e todas, caso contrário não significa desenvolvimento. Apenas progresso burro.

Fazer a economia crescer novamente é fundamental para garantir que o país volte a ser viável. Porém, muitos não se importam em sacrificar a qualidade de vida dos mais vulneráveis para que isso aconteça. Paradoxalmente acreditam no contrário: cortando leis que impedem a barbárie é que surgirá a redentora civilização.

Ou seja, abrindo mão de um patamar mínimo de dignidade aos trabalhadores e dificultando o acesso à sobrevivência dos mais idosos.

A economia do país cresceu 1% entre Janeiro e Março em comparação ao trimestre anterior. Após a informação ser divulgada, Michel Temer correu para dizer que isso representava o ”renascimento da economia brasileira” e chamar os créditos para si.

Coisa que os analistas do IBGE não cravam, dizendo que é cedo demais para afirmar com certeza que o país saiu da recessão e isso não foi um soluço causado pelo excesso de soja. Não é torcida contra, apenas bom senso.

Mas como temos perseguido essa volta ao crescimento? Aprovando um teto de gastos públicos que impedirá investimentos em educação e saúde nos próximos 20 anos. Permitindo a terceirização ampla e irrestrita. Usando o argumento de que vale sacrificar a qualidade de vida dos trabalhadores na ativa e dos aposentados em nome de um ajuste fiscal que garantirá segurança aos investidores.

Nada se fala sobre a taxação de lucros e dividendos pagos por empresas a indivíduos; a criação de alíquotas maiores para os mais ricos no imposto de renda e a isenção dos mais pobres e da classe média; a taxação de grandes fortunas e o aumento no impostos sobre grandes heranças. Não conseguimos, em muitas cidades, nem discutir a cobrança de um IPTU progressivo para grandes imóveis.

Poderíamos aproveitar este momento de crise para que o país voltasse a crescer em outros padrões. Mas não é isso que está sendo feito. Quando o PIB subir, seguirá fluindo mais para as mãos dos que puderam comprar ações do que daqueles que dependerão de salário mínimo ou de programas de distribuição de renda.

Quando tratamos do tema por essa ótica, sempre aparece a cantilena que “a população tem que entender que o crescimento do PIB vai beneficiar a todos. Não agora. Em algum momento”.  Os economistas da ditadura falavam a mesma coisa, mas de uma forma diferente, algo como “é preciso primeiro fazer o bolo crescer, para depois distribui-lo”. Traduzindo: Você ajudou a produzir o doce, mas tire a mão dele que não é hora de você consumi-lo. Hoje, são alguns que vão comer. Vai chegar a sua vez de provar do bom e do melhor. Enquanto isso, sorria, assista à novela e coma esse biscoito ultraprocessado.

Adotam um tom professoral (“A população tem que entender”), como se a elite econômica fosse composta de seres iluminados, dirigindo-se ao povo, bruto e rude, a fim de explicar que aquilo que sentem não é fome. Mas sim sua contribuição com a geração de um superávit primário para que sejam honrados os compromissos do país.

O debate sobre o PIB não deveria ser apenas sobre crescimento econômico, mas sobre qualidade de vida. Que só será efetiva caso não exclua a população mais pobre dos benefícios trazidos por ele e não seja resultado da dilapidação dessa mesma população.

As perguntas que temos que fazer são: estamos conseguindo fazer as mudanças para melhorar a divisão do bolo, não por igual, mas com ênfase em quem mais precisa por ter sido historicamente dilapidado? Estamos conseguindo diminuir a concentração de riqueza na maior velocidade possível? Ou poderíamos ir além e implementar medidas para que não apenas os filhos dos mais pobres usufruam de uma boa vida em um futuro distante, mas eles próprios, aqui e agora?

Perguntas que cismam em não ser respondidas por nossa economia machista, forjada por homens e mulheres inseguros, que acreditam piamente que o que importa é tamanho e crescimento. E não o prazer que ele, uma vez distribuído, realmente proporciona.

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