Declaração da Campanha Internacional para Deter as Árvores Transgênicas

Na WRM Uruguai

A Campanha internacional para Deter as Árvores Transgênicas [1] rejeita a declaração pública feita em 8 de junho pelo Centro de Biotecnologia da Universidade de Concepción (UdeC), Chile, [2], que acusa um protesto contra as árvores transgênicas que ocorreu no dia 7 de junho de ser “violento” devido a pichações . Os ativistas dizem que a verdadeira violência é perpetrada pela indústria de celulose e papel no Chile e em todo o mundo.

O protesto em questão ocorreu no Centro de Biotecnologia da UdeC durante a Conferência sobre Biotecnologia de Árvores da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO, na sigla em inglês), realizada em Concepción, na semana de 4 a 9 de junho. A UdeC organizou e sediou o evento. O protesto fez com que o Centro de Biotecnologia da UdeC cancelasse uma visita de campo da IUFRO às suas instalações.

A Campanha para Deter as Árvores Transgênicas participou da conferência, e de protestos e eventos contra a IUFRO durante a semana, organizados por grupos locais, comunidades e organizações mapuches.

A conferência da IUFRO foi organizada na região de Bío-Bío, que acaba de passar pelos piores incêndios florestais na história do Chile. A indústria madeireira tem sido fortemente criticada pelo papel que suas plantações de árvores cumprem no aumento considerável da probabilidade e da gravidade dos incêndios que queimaram comunidades inteiras e mataram onze pessoas. Imensas plantações de eucaliptos e pinheiros, responsáveis pela drenagem de água e altamente inflamáveis, são feitas em toda parte, inclusive até o borde das casas. O desastre do incêndio foi inevitável. O fato da UdeC promover a conferência florestal da IUFRO na mesma região desses incêndios desastrosos, representou uma bofetada na cara daquelas pessoas que perderam tudo.

“A Universidade de Concepción apresenta sua ciência como sendo apenas para o bem público, mas a conferência da IUFRO prova claramente que isso é mentira”, afirmou Anne Petermann, coordenadora internacional da Campanha para Deter as Árvores Transgênicas. “Todas as apresentações feitas na conferência da IUFRO ignoraram as consequências sociais e ecológicas da expansão das plantações de árvores para produção de madeira e explicaram como os cientistas estão trabalhando em maneiras de intensificá-las e expandi-las para obter lucratividade comercial”.

A primeira sessão da conferência da IUFRO foi denominada “Silvicultura chilena e adoção de novas tecnologias” e foi organizada pela Associação Chilena da Indústria da Madeira (CORMA, na sigla em espanhol) e pela Arauco, uma das maiores empresas de celulose do Chile. Estava cheia de distorções sobre a devastação causada pela indústria madeireira no país. Por exemplo, afirmou-se que ela converteu apenas 3% da floresta nativa em plantações industriais de árvores,  no entanto, o World Resources Institute mostra que 25% das florestas nativas em declives inferiores a 45°, tornaram-se plantações florestais.

Outra apresentação descreveu o uso da biotecnologia para ampliar a faixa geográfica de eucaliptos tolerantes ao congelamento no Chile. A pesquisadora Sofia Valenzuela foi citada pelo jornal El Sur, dizendo que ela faz pesquisas com árvores transgênicas somente em laboratório. Porém, em sua apresentação na conferência, um de seus pesquisadores mostrou um slide que descreve as novas regiões onde essas plantações de eucalipto tolerantes ao congelamento poderiam crescer, tanto no norte como no sul do Chile.

No Chile, o povo Mapuche e as comunidades rurais já sofrem os impactos das plantações de eucalipto não transgênico sobre a saúde humana, os direitos a terra, os recursos de água doce e a biodiversidade. A expansão adicional das plantações de eucalipto em novas partes do Chile irá acentuar esses problemas.

Lira Reyes, da Associação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas (ANAMURI) e da organização Solo el Pueblo Ayuda al Pueblo, disse: “O negócio florestal é um negócio de morte, que está devastando a terra. Assistimos a uma ampla militarização, e o povo mapuche está sendo criminalizado por defender suas terras. É por isso que continuaremos mobilizando e conscientizando sobre esses conflitos sociais e ambientais”.

Só em 2015, 185 ativistas ambientais foram mortos em todo o mundo, muitos deles por defender suas terras da exploração madeireira e da conversão em plantações industriais de árvores. [3]

O Centro de Biotecnologia da UdeC afirma que não faz pesquisas que promovam a produção ou comercialização de árvores transgênicas. No entanto, em outros países onde a IUFRO realizou esse evento, existe uma ligação clara entre a escolha do local para a conferência e a posterior promoção de plantações de árvores transgênicas.

Em 2011, A Conferência sobre Biotecnologia de Árvores da IUFRO ocorreu no Brasil e “… incluiu quase 100 laboratórios diferentes de dezenas de universidades, instituições de pesquisa e empresas privadas”. Quatro anos depois, o governo brasileiro aprovou um pedido da empresa FuturaGene para comercializar eucaliptos transgênicos no país.

A Conferência sobre Biotecnologia de Árvores da IUFRO de 2013 aconteceu nos Estados Unidos e foi patrocinada pela ArborGen. Atualmente, o país está considerando aprovar um pedido desta empresa para legalizar a produção comercial de plantações de eucalipto transgênico.

Empresas de biotecnologia e interesses comerciais estão trabalhando de mãos dadas com as universidades desses países para promover a tecnologia de árvores transgênicas.

Os protestos contra a Conferência sobre Biotecnologia de Árvores da IUFRO tinham como alvo a violência da indústria madeireira e o conluio do Centro de Biotecnologia da UdeC para ajudar a promover seus objetivos. Não se pode comparar a violência perpetrada pela indústria da madeira – incluindo roubo de terra, incêndios florestais, monopolização e roubo de fontes de água doce, contaminação por exposição química tóxica, militarização de comunidades e destruição de biodiversidade nativa – com pichações que denunciam essa violência.

NOTAS:

[1] A Campanha para Deter as Árvores Transgênicas é uma coalizão global de organizações e redes dedicadas à proteção de florestas, à biodiversidade e às comunidades dependentes da floresta, através da rejeição global de todas as árvores geneticamente modificadas. Ela inclui geneticistas, silvicultores, ecologistas, biólogos, cientistas que estudam plantas, povos indígenas e outros especialistas nos impactos dos monocultivos de madeira. Esses especialistas vêm trabalhando no problema das árvores transgênicas e das monoculturas de madeira há décadas.

Entre as organizações que participam da Campanha estão Biofuelwatch (EUA e Reino Unido), Canadian Biotechnology Action Network, Field Liberation Movement (Bélgica), Friends of the Earth Melbourne (Austrália), GE Free New Zealand, Global Justice Ecology Project (EUA), Indigenous Environmental Network (América do Norte), OLCA: Observatorio Latinoamericano de Conflictos Ambientales (Chile), e Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, WRM (Brasil e Uruguai). A geneticista Dra. Ricarda Steinbrecher, da EcoNexus, e a Federação dos Cientistas Alemães são os assessores científicos da Campanha.

[2] “Declaración pública ante actos vandálicos contra el CBUdeC“, apenas em espanhol, na página do Facebook do Centro de Biotecnologia da Universidade de Concepción.

[3] Reportagem da MSN: “Making the Ultimate Sacrifice for the Planet”

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ivonete Gonçalves.

 

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