Aprovação a Temer desaba a 5%. Quem são os que o consideram ótimo ou bom?, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

A aprovação de Michel Temer chegou a 5%. Ou seja, apenas um em cada 20 brasileiros e brasileiras considera seu governo ótimo ou bom, de acordo com a nova pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta quinta (27).

Esse número é menor que o piso de 9% alcançado por Dilma Rousseff, durante o processo que culminou em seu impeachment, e de 7%, por José Sarney – quando o Brasil era o rascunho do mapa do inferno da hiperinflação.

E dada a dificuldade de encontrar semoventes que defendam abertamente o governo, podemos já estar na margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos. No limite, periga de não ser um em 20, mas um em 33. Ainda mais porque a pesquisa foi realizada após as denúncias de corrupção e obstrução de Justiça oriundas da delação de Joesley Batista, dono da JBS, virem a público, mas antes do anúncio da alta nos impostos nos combustíveis.

Apesar dele e Dilma Rousseff empatarem em 70% no quesito reprovação, 52% já consideram seu governo pior que o de sua antecessora.

Considerando que o seu percentual de ótimo bom era de 10%, em março, seguindo esse ritmo, em breve sobrarão só aqueles que estão transformando este momento de crise política e econômica em oportunidade para tirarem o máximo possível do Estado brasileiro.

São políticos com a lâmina da guilhotina da Lava Jato no pescoço que buscam refúgio no poder; deputados que vendem seus votos por emendas parlamentares e cargos no governo; grandes empresários e parte do mercado que dão suporte a Temer desde que ele reduza o Estado de proteção social em nome da competitividade e de lucros; ruralistas que tentam barganhar seu apoio em troca de direitos de populações indígenas e da legislação ambiental; e uma parcela mais rica da população que demanda que o custo da crise não caia em seu colo, ficando apenas com os trabalhadores.

É por conta de interesses desses, que representam menos de 1% da população, que Temer continua lá.

Diante de parte de um povo atordoado com uma situação que parece nunca melhorar, de grupos alienados que acham que o único problema do país é o PT ou de pessoas bestializadas que assistem a tudo pela TV sem esperança de que algo mude, esses interesses vão se mantendo.

Ajuda o fato que a substituição por Rodrigo Maia, o próximo na linha sucessória, codinome ”Botafogo” na lista da Odebrecht, não traz muita esperança e embaça ainda mais o cenário eleitoral do ano que vem. E que uma parte da elite política e econômica do país não quer saber de mudanças que permitam uma eleição direta por medo de que a Reforma da Previdência não seja votada ou que Lula seja eleito, por mais que isso seja muito difícil.

Surfando nessa zorra, Temer e aliados abrem os cofres públicos e transformam a relação do Congresso Nacional com o Palácio do Planalto, que nunca foi totalmente republicana, em um mercado a céu aberto. Votos de deputados são comprados com o nosso dinheiro e sem cerimônia alguma para o negar a abertura de ação penal contra ele na Suprema Corte.

Diante disso, qual a motivação para um cidadão comum, que rala o dia inteiro e não tenta levar vantagem sobre o vizinho, quando vê que o presidente da República e sua cúpula envolvidos em tanta porcaria e nada acontecendo com eles? Vendo alguém com 5% de aprovação e denunciado formalmente por corrupção determinado o seu futuro? Ou quando constata que, apesar da punição de alguns grandes empreiteiros, ricos empresários, como donos de frigoríficos e banqueiros, tendem a continuar encarnando Marco Aurélio, na cena final de Vale Tudo, dando uma banana para o país? Nenhuma.

Nesse contexto, quem age honestamente no emprego sem ”levar o seu por fora” é considerado um mané por chefes e colegas. Os que criticam linchamentos públicos e tatuagens na testa de pessoas que teriam transgredido a lei são acusados de fazer apologia ao crime. Quem pondera e tenta o diálogo e não usa os mesmos métodos agressivos que seu adversário político ou ideológico é tido como burro. Os que reclamam do tratamento dado a pessoas que sofrem de dependência de drogas são xingados e instados a levar uma Cracolândia para suas casas. Um país que se diz fundado em valores humanísticos, vai optando por trocar o ”amar ao próximo como a si mesmo” por ”cada um por si e Deus por todos”.

E começam a ser consideradas saídas rápidas, vazias, populistas e, não raro, autoritárias e enganosas para resolver tudo isso que está aí. A negação às balizas republicanas abre as portas para quem se coloca, em um momento de crise como este, como ”salvador da pátria” a fim de ganhar espaço a fim de nos ”tirar das trevas” sem o empecilho da ”política”. Ou seja, de regras e limites. Como já disse aqui várias vezes, quando instituições nacionais estão esgarçadas e desacreditadas, a melhor maneira de combater a escalada de violência de Estado e convulsões sociais seria devolver ao povo o direito de escolher diretamente um novo mandatário para governá-lo.

Ao que tudo indica, isso não deve acontecer. E quanto menor o número de brasileiros que aprova esse governo, maior o número daqueles que perdem a fé na política, como a arena das soluções da vida cotidiana, e na democracia. A manutenção de um governo vivo por aparelhos ainda vai nos custar muito caro no futuro.

Foto: Alan Marques/Folhapress

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