“Polícia Federal e Militar é pra eles e não pra nós”, denunciam Conselhos da aldeia Ximborenda e de Gestão Kaapor

População Kaapor está morrendo por causa do abandono do Dsei do Maranhão e polo base de Zé Doca

Nos lideranças da aldeia Ximborenda reunimos com nosso Conselho de Gestão Kaapor e decidimos denunciar mais um descaso e abandono do Polo Base de Zé Doca com a saúde de nosso povo.

Há quase dois anos o Polo Base de Zé Doca vem abandonando nossa saúde. Os funcionários do polo base sempre tiveram dificuldades de trabalhar com nosso povo. Eles não são preparados para trabalhar com a gente. Eles não entende nossa língua, não entende nossa cultura, não tem paciência com a gente, não acompanha nossa saúde nas aldeias, não trata bem os pacientes quando vem para o polo base, abandona nossos parentes doente nos hospital da região e nem acompanha.

Por causa de tudo isso a gente decidiu em novembro do ano passado chamar o responsável do polo base e pedir pra ele esclarecer pra gente. Mas a técnica de enfermagem Hildilene que sempre mente e ajudou dividir nosso povo, fala mal de nossa organização e nosso trabalho de proteção do nosso território e da nossa jeito de cuidar da saúde. Ela é parente de madeireiro por isso ela não aceita o jeito dos índios de trabalhar. Ela e o responsável técnico do Polo Base de Zé Doca são crente, não aceita a gente tratar com pajé, não aceita a gente tratar nossos parente com remédio do mato, eles não aceita as pessoas que apoia a gente a valorizar nossa cultura e jeito da gente tratar a saúde nossa. Eles chamam nossas lideranças religiosas e pessoas que apoia a gente cuidar da saúde do jeito tradicional de macumbeiros, feiticeiros, serpente e outros nomes para ofender nosso trabalho.

Por causa deles que a gente decidiu não ir mais para o Polo Base de Zé Doca e levar nossos pacientes para os municípios perto das aldeias. O Dsei do Maranhão e o pessoal do Polo Base de Zé Doca não quer entender e ajudar a gente. Não quer aceitar o erro e falha deles. O juiz decidiu em fevereiro para eles atender a nossas aldeias, mas eles se recusaram de atender e ainda mentiram para empresa EMIP para demitir a enfermeira, os técnicos de enfermagem que apoiava, entendia nossa cultura e tratava bem os nossos parentes na nossa aldeia. E ate hoje não resolveram nada para organizar nossa saúde.

Eles estão cometendo crime por que trata mal nossos parentes, abandonou nossa saúde e por causa deles morreram vários parentes nesse ano:

  • Kuxipu Kaapor da aldeia piquizeiro, ele era idoso, morreu em março desse ano na aldeia por causa de abandono do polo base que não manda mais técnico para aldeia
  • Tykyri Kaapor da aldeia piquizeiro, ela era idosa, morreu no mês de maio deste ano, cuidava de seu filho que é deficiente; o polo nunca deu atenção para o deficiente, nuca deu apoio pra eles; como não tinha apoio do polo base, estava desidratada, fraca, morreu no polo base por causa de abandono deles;
  • sairá Kaapor da aldeia Cumaru, ele era jovem, morreu no mês de abril desse ano, ajudava nosso conselho Kaapor não deixando o pessoal da aldeia beber , respeitava nosso acordo de convivência, era guarda florestal Kaapor, não deixava ninguém vender madeira e invasor entrar. Ele foi para o povoado do Betel chamar os parentes que estavam bebendo e foi morto por estaqueiros e madeireiros do povoado do Betel. A ambulância de Araguanã que foi buscar ele no povoado e levou para São Luiz. O polo base não ajudou socorrer ele, não acompanhou ele no hospital em São Luiz, quando ele morreu e trouxeram o corpo para Zé Doca o polo base escondeu o corpo e enterrou sem chamar os parentes dele. E ainda mente pra defender os brancos madeireiros do povoado diz que ele foi morto por outro índio.
  • Ta’iran Ka’apor da aldeia Myrawyrenda, ele era jovem, morreu no mês de maio deste ano, passou mal na aldeia com diarreia e muito sangue, não tinha técnico de enfermagem e nem remédio no posto de saúde do Ximborenda, não teve atendimento do polo base. Depois que ele morreu os parentes enterraram na aldeia.
  • Kwaran Ka’apor da aldeia Myrawyrenda, ela era idosa, morreu no mês de junho na aldeia Jaxipuxirenda com diarreia. Ela foi para a casa dos filhos dela porque já estava doente. Toda vez que ela ia para o polo base cuidar da saúde ela voltava do mesmo jeito. Como não tinha atendimento no posto da aldeia Ximborenda ela foi para a casa dos filhos dela, ficou com diarreia e morreu. Os parentes enterraram na aldeia Ximborenda.
  • Naciara Ka’apor da aldeia Capitão Mirá, era jovem, morreu no mês de junho deste ano. Aconteceu acidente no mato com tiro e ela morreu. A técnica de enfermagem estava na aldeia, mas não quis dar atendimento na hora. As pessoas do povoado da B 3 que foram buscar o corpo da parente no mato e a família dela enterrou.
  • Filho de Marari Ruwi Kaapor da aldeia Ximborenda. Ela estava com 07 meses grávida. A criança nasceu morto no dia 15 de julho de 2017 na aldeia Ximborenda. A mãe nunca recebeu acompanhamento pré-natal do Polo Base de Zé Doca.
  • Filho da Maria Creti Ka’apor da aldeia Ximborenda. Ela estava com 05 meses grávida. A criança nasceu morto no dia 20 de julho de 2017 na aldeia Ximborenda. A mãe nunca recebeu acompanhamento pré-natal do Polo Base de Zé Doca.

– nasceram nas aldeias sem atendimento do Polo Base de Zé Doca: filha Nana Ruwi Ka’apor, filha Juruwe Putyr Ka’apor, filha Cristina Ka’apor, filha Kunha Tawari Ka’apor, filha Juwandahyran Ka’apor, filha Iraceri Ka’apor.

Nos acreditamos nas nossas lideranças do conselho de gestão Kaapor e conselho das aldeias. Vamos continuar fazendo tudo do nosso jeito: proteção territorial com nossos guardas florestais Kaapor, nossas áreas de proteção, nossa educação da EJA Ka’apor com Alternância, formação de professores Kaapor e Alfabetização Bilíngue, nossa assistência com apoio do nosso conselho de gestão Kaapor, nossa saúde com pajé e curadores e nosso centro de saúde tradicional. Enquanto o Dsei Maranhão e o Polo Base de Zé Doca manda policia pra cima da gente porque a gente fiscaliza eles e cobra saúde de qualidade porque abandonaram nossa saúde. Enquanto eles continua falando mal do trabalho do conselho de gestão Kaapor e dos nossos apoiadores que incentiva nossa autonomia que gente não vai parar. Vamos para nossa 3ª semana solidaria em educação em saúde e meio ambiente com nosso projeto de saúde tradicional com apoio de pessoas voluntarias, enfermeiros, médicos, curadores, terapeutas que trabalha com curas e tratamento valorizando nossa cultura.

Eles tem que responder porque não deram atendimento e deixaram nossos parentes morrer.

Vamos criar nossos polo base e fortalecer nosso centro de saúde tradicional porque nosso futuro depende da gente e não deles.

Conselho da Aldeia Ximborenda

Conselho de Gestão Kaapor

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