Principais fazendas do Vale do Café avançam na discussão sobre o turismo de valorização da história e cultura negras

Reuniões, debates e visitas estão programados para este mês com o fim de aprofundar a discussão sobre o turismo de memória e valorização da história e da cultura negras na região

Procuradoria da República no Rio de Janeiro

O Ministério Público Federal em Volta Redonda (MPF/RJ) está realizando neste mês diversas reuniões e visitas nas principais fazendas do Vale de Café para aprofundar a discussão de modelos de realização do turismo de memória na região que contemplem uma visão não racista sobre a contribuição do negro na história local e dê visibilidade a personagens antes silenciados. 

As discussões são decorrência de uma recomendação expedida em julho, construída após audiência pública e constituição de grupo de trabalho que conta com a participação do poder público, das comunidades e de representantes de fazendas da região.

Em reunião realizada ontem (16), o presidente do Instituto Preservale, Nestor Rocha, manifestou o apoio da instituição à iniciativa e ressaltou o caráter positivo da proposta. Ele relatou algumas preocupações dos fazendeiros, mas considerou que elas podem ser superadas com o diálogo e o convencimento.

Nos próximos dias 18, 25 e 26, o MPF/RJ realiza reuniões em algumas fazendas (Ponte Alta, São Luiz da Boa Sorte, Prosperidade e Florença). No dia 31, haverá um debate dos representantes das fazendas com historiadores na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, quando serão apresentados projetos já realizados e discutidas parcerias. Essa discussão ampla busca consolidar o projeto “turismo sem racismo”, do MPF/RJ, prevenindo violações e garantindo o fortalecimento da atividade turística no Vale do Café.

A maioria das fazendas tem se mostrado aberta à discussão e implementação de propostas. Como nem todas realizam encenações ou turismo de experiência, alguns dos temas discutidos não se aplicam a todas. Mesmo assim, há um interesse de quase todas as fazendas em contribuir com as discussões. Segundo o procurador Julio José Araujo Junior, até agora apenas as Fazendas Vista Alegre e do Paraizo indicaram claramente que não pretendem atender à recomendação ou aprofundar a discussão.

TAC com Fazenda Santa Eufrásia –No começo de maio deste ano, o MPF e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro celebraram Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para assegurar a não utilização de funcionários com vestimentas de pessoas escravizadas, bem como para estabelecer medidas reparatórias na Fazenda Santa Eufrásia. No local, pessoas negras vestidas como escravas serviam os turistas que visitavam o local e eram recebidos pela proprietária, que se vestia com roupas de época, representando uma sinhá. O MPF já havia recomendado em janeiro a não realização da encenação, que já não vinha sendo feita pela proprietária.

A situação foi objeto de investigação no MPF (Inquérito Civil Público nº 1.30.010.000001/2017-05), após uma reportagem publicada pelo site “The Intercept Brasil”. Conforme a matéria, a proprietária também teria se manifestado da seguinte forma a uma pergunta da jornalista: “Racismo? Por causa de quê? Por que eu me visto de sinhá e tenho mucamas que se vestem de mucamas? Que isso! Não! Não faço nada racista aqui!”.

O TAC foi construído a partir de sugestões das comunidades quilombolas da região, do movimento negro e de professoras da Universidade Federal Fluminense. Foram realizadas reuniões no Rio de Janeiro e em Volta Redonda, com o envolvimento também da Comissão de Igualdade racial da OAB.

Em audiência pública em 23 de maio de 2017, estiveram presentes lideranças negras, gerentes de fazendas históricas e representantes de instituições que cuidam do turismo, autoridades do turismo no município e no Estado, representantes de movimentos sociais, professores de universidades. No evento, todos convergiram para a necessidade de ser repensado o turismo de memória no Vale do Café na região. Para tanto, foi formado Grupo de Trabalho para apresentação de propostas de atuação para as fazendas, para o Executivo e para o Legislativo.

Imagem: Divulgação/MPF.

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