No Brasil, o machismo é o preconceito mais praticado

Estudo revela que sete em cada 10 brasileiros já fizeram comentários intolerantes, mas só 17% acredita que é preconceituoso

por Tory Oliveira, Carta Capital 

“Mulher tem que se dar o respeito” e “não sou preconceituoso, até tenho um amigo negro” estão entre as frases preconceituosas mais faladas no Brasil, segundo pesquisa Ibope encomendada pela Skol, que buscou traçar um retrato do preconceito no Brasil. A pesquisa focou-se em quatro tipos de discriminação: racial, LGBT, de gênero e estética.

O vasto repertório brasileiro de frases, comentários ou piadinhas discriminatórias com as mulheres faz o machismo ser percebido por 99% dos entrevistados, além de fazer dele o preconceito mais praticado, ainda que não seja notado ou admitido por alguns (61%).

Os resultados do levantamento, realizado em todas as regiões brasileiras entre 21 e 26 de setembro, apresentam uma distância entre o que se fala e o que se faz. Só 17% dos 2002 entrevistados reconhecem que são preconceituosos, mas 72% admitiram ter feito pelo menos um comentário intolerante ou ofensivo.

Isto é, sete em cada dez brasileiros já fizeram observações carregadas de prejulgamentos contra mulheres, negros, LGBTs e outros. O índice varia regionalmente: no sudeste, o preconceito declarado corresponde a 21%, já no norte e centro-oeste o índice é de 18%, enquanto no sul e no nordeste a taxa fica em 13%.

Além de questionamentos diretos sobre como cada indivíduo se enxerga, as pessoas foram perguntadas se já ouviram ou disseram determinadas frases, como “pode ser gay, mas não precisa beijar em público”, “toda negra tem samba no pé” ou “ele é bonito, mas é gordinho”, entre outras.

Entre as discriminações mais presentes no dia a dia do brasileiro, estão o machismo, percebido por 99% dos entrevistados, a discriminação racial (97%), contra LGBTs (97%) e estéticas, como a gordofobia, percebidas por 92% dos ouvidos no estudo.

Além disso, 45% respondeu já ter visto preconceito nos comentários feitos por pessoas do seu convívio, mas metade decidiu não reagir diante da situação. Quando há reação, as mulheres são as que mais agem: 60%.

Entre as discriminações declaradas, a mais prevalente é a homofobia, expressa por 29% dos brasileiros que admitem ter preconceito. Em seguida, há o preconceito religioso (20%), mais alto entre os jovens de 18 a 24 anos: 35%. Já o machismo é admitido por 7%, com uma taxa maior entre adultos de 25 a 34 anos (16%).

No rol de frases mais ouvidas estão: “mulher tem que se dar o respeito” (92%), “mulher no volante, perigo constante” (90%), “isso é coisa de viado” (88%) e “toda negra ou mulata tem samba no pé” (87%).

Confira alguns dos principais resultados:

O preconceito mais praticado, mesmo sem ser notado, é o machismo:

• Machismo: 61%
• Racial: 46%
• LGBTQ: 44%
• Gordofobia: 30%

Frases preconceituosas apontadas como as mais faladas

• Mulher tem que se dar ao respeito – 49%
• Mulher no volante, perigo constante – 28%
• Não sou preconceituoso, até tenho um amigo negro – 26%
• Pode ser gay, mas não precisa beijar em público – 25%
• Ele(a) é bonito, mas é gordinho (a) – 25%
• Toda negra ou mulata tem samba no pé – 24%
• Isso é coisa de viado. É viadagem – 23%
• Ela não é mulher para casar – 22%

Expressões preconceituosas apontadas como as mais ouvidas pelos entrevistados:

• Mulher tem que se dar ao respeito 92%
• Mulher no volante, perigo constante – 90%
• Isso é coisa de viado. É viadagem – 88%
• Toda negra ou mulata tem samba no pé – 87%

Imagem: 45% já viu preconceito nos comentários feitos por pessoas do seu convívio, mas metade decidiu não reagir diante da situação. Na foto, protesto contra o machismo em São Paulo, em 2016 – Rovena Rosa/Agência Brasil/Fotos Públicas

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