Alexandre de Moraes deveria ser exonerado do Supremo Tribunal Federal

Por Brenno Tardelli, no Justificando

Começo com uma deprimente novidade: de uns tempos para cá, Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), anda destilando pílulas de sabedoria em formas de comentários de leitor do portal G1 pelo Twitter. O professor da USP brindou os brasileiros e brasileiras com a seguinte pérola: “chega de hipocrisia. Traficantes de armas, drogas, assassinos, chefes de organizações criminosas devem responder duramente por seus crimes”.

Caro Alexandre, se os dados carcerários brasileiros não lhe fazem concluir que estamos punindo demais; se os incontáveis escaninhos no seu gabinete lotados de processos, com pedido de respiro por presos e presas encarcerados por esse crime, não lhe dão mostras empíricas da besteirada que fala; se a convivência com um debate supostamente elevado não lhe fizeram abrir os olhos para não digitar qualquer senso comum que lhe passou nessa mente sem criticidade, creio que seu caso é pior do que imaginava. Punir duramente os traficantes! Como ninguém pensou nisso antes?! O ineditismo de suas reflexões é de deixar o mofado se sentir fresco.

Não satisfeito, o ministro do Supremo (sempre bom frisar, para não esquecermos de quem estamos falando e do quão baixo nível chegamos enquanto sociedade) manda a seguinte pergunta: “Vocês concordam com o glamour do tráfico de drogas, banhado a sangue contra o trabalho sério do povo brasileiro?”. Não consigo nem começar com a desonestidade intelectual posta. Não sei que glamour é esse que ele está falando. Justo ele, que foi escolhido para o Supremo logo após uma noitada com senadores em um barco de luxo (isso sim é glamour, ministro!). Já sobre o sangue, sabemos bem quem está sangrando em nome da guerra e de discursos violentos, porém naturalizados, de políticos medíocres, os quais acabam se tornando ministros do Supremo. O sangue, perceberá esse ministro, tem sido justamente do povo brasileiro que trabalha sério e vê suas casas vilipendiadas dia e noite por homens fardados em busca de farelos perto dos montantes transportados em helicópteros e aviões Brasil afora.

Não deixa de ser irônico ver Alexandre de Moraes se arrogar da condição de defensor do “trabalho sério”. Como que os trabalhadores e trabalhadoras sérios desse país se sentiriam se o defensor deles fosse um ministro com diversos casos de plágio em sua “obra”? Ou então de um professor, cuja carreira estranhamente meteórica teve titulações inexistentes? Seja sincero: você jura que se considera um “trabalhador sério”, prezado ministro? Se sim, talvez uma terapia lhe venha bem a calhar… Não vou nem falar da famosa patacoada de ir ao Paraguai manusear um facão de forma destrambelhada para cortar pés de maconha a fim de exaltar sua “masculinidade” e “ética” – porque é desnecessário comentar o ridículo, que no fim das contas fala por si.

Em seguida, o ministro retuíta um general e elogia a ação do Exército em presídios brasileiros, uma questão que provavelmente irá julgar, mas que já sabemos de antemão qual será a chance de contestação à essa ação frente a esse ministro tão brilhante e parcial.

A proximidade pública entre um ministro da estirpe de Alexandre e um general do Exército, em tempos cujo golpe militar é falado abertamente sem qualquer reprimenda, é o namoro inevitável entre o oportunista e o homem da farda. Foram feitos um para o outro e, na verdade, orna com a gestão de Alexandre na Secretaria de Segurança Pública e no Ministério da Justiça, onde aprovou medidas contrárias aos direitos humanos de presos, presasindígenasrefugiadosvítimas de torturaadvogados, advogadas, entre tantas outras pessoas.

O legado de Moraes ainda é um espantalho que assombrará por muito tempo a população brasileira.

Só mesmo a covardia no jornalismo justifica uma vida tão boa e pacífica para um sujeito tão farsesco no Supremo Tribunal Federal. São os mesmos atributos que garantem a Gilmar Mendes, o capo di tutti capi, uma vida mansa e tranquila, sempre com a contrapartida de boas pautas e furos aos domesticados portais de notícias que esqueceram a função básica de que jornalismo não é assessoria de imprensa.

Ao invés do afago, jornalistas poderiam começar a honrar a justa revolta de juristasmovimentos sociais e às mais de 270 mil assinaturas contrárias à presença de Alexandre de Moraes no Supremo. Se não vivêssemos nos tempos do absurdo, a medida nº 1, 2 e 3 de qualquer governante preocupado com os trabalhadores sérios desse país seria exonerá-lo do cargo que jamais teve condições intelectuais, éticas e morais para assumir.

Há inúmeros outros episódios para serem lembrados em outros textos que podem e devem ser escritos por outras pessoas. No mais, fica esse texto para Alexandre de Moraes responder em seu próximo tuíte, uma vez que infeliz dele frente às pessoas que têm memória.

Brenno Tardelli é diretor de redação no Justificando.

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