Índios afetados por hidrelétrica de Belo Monte cobram estruturação da Funai

Representantes de 11 terras indígenas foram ao Ministério do Planejamento pedir nomeação de aprovados em concurso público. MPF quer implantação de medidas que atenuem impacto da obra

Procuradoria-Geral da República

Representantes de 11 terras e nove povos indígenas afetados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no médio Xingu, compareceram ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MPDG), no dia 20, para cobrar a nomeação de servidores aprovados no último concurso da Fundação Nacional do Índio (Funai). O certame destinou 220 vagas, a maioria para indigenista especializado. A estruturação da Funai na região de Altamira (PA) é uma medida condicionante, requisito para liberação da licença de instalação da obra, e que até hoje não foi cumprida, razão pela qual o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma ação civil pública.

Lideranças presentes na reunião alegaram que a chegada da usina provocou um caos social na região, em vez de trazer benefícios. O número de aldeias, por exemplo, subiu de 14 para 54, refletindo a divisão gerada. Nesse contexto, o papel da Funai é fundamental, pois é o órgão responsável pela interlocução direta com os povos indígenas e pela fiscalização da implementação de medidas atenuadoras dos impactos da hidrelétrica, sob responsabilidade da Norte Energia.

Segundo as lideranças, quando teve início o processo de Belo Monte em 2010, houve uma reestruturação que tirou a Funai de Altamira. Nessa época havia grupos de recente contato (indígenas que mantém suas dinâmicas coletivas próprias) que até então tinham um chefe de posto na aldeia. “Com a vinda de Belo Monte houve uma grande luta dos indígenas para que a Funai voltasse para Altamira. E conseguimos. Mas foi só promessa. A Funai não acompanhou as ações de Belo Monte voltadas aos povos indígenas, que tiveram que fazer movimentação, fechar estrada, para exigir da Norte Energia compensação porque o projeto não está sendo feito de forma correta”, explicou o líder indígena Luiz Xipaya.

Concurso – O coordenador regional da Funai no Centro-Leste do Pará, Gilson Lopes, estima que para garantir o atendimento adequado seriam necessárias 25 nomeações, entre pessoal especializado e de apoio administrativo. Ele destaca ainda a necessidade da volta da Procuradoria Federal da Funai para o município de Altamira, que foi desativada recentemente.

Para a procuradora da República Thaís Santi, a presença efetiva da Funai na região serve, sobretudo, para balizar as iniciativas voltadas a diminuir os efeitos nocivos do empreendimento. “A estruturação da Funai é medida indispensável para romper com o processo de etnocídio em curso. Não há chances de corrigir o componente indígena de Belo Monte sem a presença efetiva da Funai. E trata-se de uma obrigação reafirmada por decisão judicial, pendente de cumprimento deste 2015”, disse, fazendo referência às ordens da Justiça Federal que determinam a estruturação da fundação.

Solução pendente – Ao fim da reunião, o diretor de programa do Ministério do Planejamento, Marcelo Leandro Ferreira, se comprometeu a levar o pedido ao ministro da pasta, Dyogo Henrique de Oliveira. “Aqui no ministério, temos elementos para sensibilizar o ministro da importância de encaminhar nomeação de pessoas para concurso da Funai. Também levaremos os questionamentos a uma reunião com presidente da Funai para tentar solucionar a questão. Vamos dar todo apoio para que se busque solução”, informou.

Foto: Antonio Augusto/Secom/PGR.

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