Qual a diferença entre policiais e bandidos?
Se você respondeu que uns são bons e outros são maus, parabéns, já deve ter terminado seu lanchinho e deve estar pronto para a naninha. Então, pode sair e deixar a conversa para outras pessoas, ok?
A questão não é entre bem e mal (o que está cada vez mais difícil de definir, aliás), mas garantir o cumprimento da lei através de formas que a lei previamente permite. Lei, aquelas regras que nós criamos e aperfeiçoamos ao longo dos tempos para evitar que nos devoremos uns aos outros ao viver em sociedade e acabemos cometendo vingança com as próprias mãos.
É função de policiais zelar pela coisa pública e garantir que quem estiver em desacordo com a lei, principalmente em casos de violência, seja investigado e, quando for o caso, detido para que cesse o mal que está fazendo aos outros e à comunidade, e levado a julgamento. Punição não está no rol de atividades que lhe são permitidas.
Nesse processo, policiais devem garantir que o tratamento dado ao infrator seja firme, mas de respeito, independentemente dele ser um ex-governador do Estado envolvido em corrupção, um presidente de Assembleia Legislativa pego em negociatas com empresas de ônibus ou uma liderança do tráfico de drogas.
A partir do momento em que qualquer pessoa estiver sob custódia do Estado, o poder público é responsável pela garantia de sua integridade. Ele não deve sofrer violência física ou psicológica, ser alvo de humilhação, passar por tortura ou qualquer outra situação aviltante. Por pior ser humano que seja, por mais dor que tenha causado.
Porque essa é a diferença entre bandidos e policiais. Bandidos não seguem regras no exercício de suas atividades, mas policiais devem segui-las sob o risco de se tornarem aquilo que querem combater.
Ver um capturado Rogério 157 aparecer como ”troféu” de policiais em êxtase envolvidos na operação remete às lembranças de transformação de seres humanos em souvenirs de caça ou objetos de diversão. Apesar de estar longe de ser a mesma situação, tem o mesmo DNA das fotos tiradas pelos soldados norte-americanos com presos iraquianos no complexo penitenciários de Abu Ghraib, por exemplo. E, com isso, ajuda a reduzir o mérito da ação policial.
Além disso, a polêmica selfie tirada por policiais civis após prender Rogério 157, apontado como o líder do tráfico de drogas da Rocinha, dificilmente se repetiria com o ex-governador Sérgio Cabral ou com o presidente da Assembleia Legislativa Jorge Picciani. Apesar de ambos terem causado mais mal à população carioca que Rogério 157 e a prisão dos dois ter sido mais aguardada que a de um chefe do tráfico.
Afinal, negro e pobre tem na cadeia todo o dia – o sistema de Justiça brasileiro é feito com esse objetivo. Branco e rico que é a surpresa.
Mas olhe novamente a foto. Há dois ”troféus nela.
Pois os policiais tornaram eles próprios, com seu ato, troféu de Rogério 157, glamourizado pela selfie, transformado por eles em celebridade. Isso apenas reforça o poder do traficante junto a seus subordinados ou junto à população.
Quando policiais e bandidos tornam-se troféus uns dos outros, um Estado precisa de uma DR, depois zerar e começar de novo. Porque algo deu muito, mas muito errado.
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Imagem: Redes Sociais/Reprodução.