O povo votará em deputado que apoiar a Reforma da Previdência?, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

Discordo quando alguém diz que o eleitor brasileiro não tem memória. Ele tem. A questão é que ela é seletiva.

Se você perguntar a uma pessoa em quem votou para deputado federal na última eleição, há uma chance grande dela não se lembrar. Pesquisas variam algo entre 30 a 45% de eleitores que não se recordam do parlamentar que mereceu seu voto.

Caso a escolha de um representante fosse fruto de uma construção individual que levasse tempo e reflexão, o nome do semovente não cairia no esquecimento tão rápido. Consequentemente, a fiscalização e o monitoramento do político poderiam ser mais efetivos. Não vou entrar no mérito das razões que levam alguém a escolher um desconhecido para falar em seu nome e defender seus interesses no Congresso Nacional – até porque não estou a fim de ficar triste.

O governo Michel Temer afirma que vem caindo a resistência à Reforma da Previdência, número que, segundo ele, estaria em pouco menos de metade da população. O último levantamento Datafolha sobre o tema – pesquisa que não foi encomendada pelo poder público – apontava para 71% de repúdio.

O levantamento que vem sendo citado pelo governo teria sido realizado após a campanha de desinformação levada a público pelo próprio. Ela afirma, por exemplo, que a mudança não vai mexer na aposentadoria rural – o que não é verdade. A reforma estabelece a necessidade de 180 contribuições mensais a essa categoria. Hoje, basta a comprovação de trabalho e o recolhimento de imposto no momento da venda da produção. A alteração deve inviabilizar a aposentadoria de muita gente no campo.

Daí chegamos na questão da seletividade da memória do eleitor. Ele pode não se lembrar em quem votou na última eleição. Mas o ódio, a raiva e a indignação são componentes fortes, marcantes. Portanto, muito se lembrarão quais deputados votaram a favor de uma impopular Reforma da Previdência, produzida e tramitada sem o devido debate público. Uma reforma que deve dificultar a vida dos trabalhadores rurais, como já explicado, reduzir o tamanho das pensões dos mais pobres (quem se aposentar por idade e 15 anos de contribuição, vai receber 60% da aposentadoria integral e não mais 85% como é hoje) e tornar a integralidade da pensão algo para poucos resistentes que chegarem aos 40 anos de pagamentos mensais.

Desconfio que mesmo que esses eleitores tentem esquecem, a sociedade civil, sindicatos, associações de moradores e parte da imprensa fará questão de lembrá-los. Sem contar que o Google existe para isso.

Não tenho bola de cristal para saber se o desejo de vingança será maior que a preguiça ou o deixa-pra-lá-esse-país-é-assim-mesmo.

Mas pelos receios que circulam pelos corredores da Câmara dos Deputados, eu diria que muita gente por lá já sentiu o cheiro de queimado.

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