Na Fiocruz
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) manifesta sua solidariedade à comunidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), particularmente ao seu reitor, Jayme Ramires; à vice-reitora, Sandra Goulart; à ex vice-reitora, Heloisa Starling; e aos demais professores e funcionários da instituição que no dia de ontem (6/12) foram conduzidos coercitivamente às dependências da Polícia Federal, em Belo Horizonte. Os laços de cooperação entre a Fiocruz e a UFMG são antigos e profundos. Muitos de nossos pesquisadores, técnicos e professores têm origem naquela Universidade, sendo expressiva a colaboração científica entre nossas instituições, por meio da Fiocruz Minas (Instituto René Rachou, localizado em de Belo Horizonte).
Em 2014, recebemos em nosso campus sede, no Rio de Janeiro, a professora Heloisa Starling, convidada a proferir uma aula inaugural sobre o trabalho da Comissão da Verdade, ocasião em que nos trouxe também o Museu Itinerante Sentimentos da Terra, sobre a luta pela terra no Brasil.
Entendemos que investigações que assegurem o bom uso dos recursos públicos devem ser feitas sempre e de forma permanente, com cuidado, rigor e isenção. Entretanto, a condução coercitiva dos reitores, professores e funcionários, ocorrida após a invasão das dependências da Universidade, o que já constituiu um desrespeito à autonomia universitária, é de todo inaceitável e injustificável. É uma violação às normas do Estado de Direito, uma vez que nenhum deles tinha sido sequer citado ou intimado a depor acerca da investigação que apura supostas irregularidades na construção do Memorial da Anistia, que visa à preservação da memória dos tempos do arbítrio, da intolerância e da luta pela liberdade e pela democracia.
O Memorial da Anistia, proposto em 2008 pela Comissão Nacional da Anistia em parceria com a UFMG, com inauguração prevista para o dia 12 de dezembro de 2017, é um ato de afirmação da democracia, dos direitos humanos, da liberdade, de preservação da memória da luta contra o arbítrio, a truculência e a intolerância. Um símbolo importante para os tempos de hoje, em que muitos direitos e garantias sociais e democráticas conquistadas com enorme sacrifício pelo povo brasileiro estão sob ameaça e para que todos os que aqui estamos e também as gerações futuras não nos esqueçamos que a democracia e o Estado de Direito são valores fundamentais para a afirmação de uma sociedade inclusiva, próspera, desenvolvida e fraterna.
Nísia Trindade Lima (Presidente da Fiocruz)