Indígenas, Negros, Periféricos, Feministas: novas forças políticas se preparam para 2018

Encontro em Belo Horizonte debate experiências recentes de mandatos coletivos e anuncia pré-candidaturas de ativistas para as próximas eleições.

“Sou mulher, sou indígena e trago a voz dos povos calados pelas forças do agronegócio, pelas forças do capitalismo”, discursava Sonia Guajajara, enquanto anunciava sua pré-candidatura à presidência da República em 2018. Coordenadora executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e uma das principais lideranças indígenas do Brasil, seu nome já havia sido proposto pelo Setorial Ecossocialista do PSOL, mas foi apenas neste sábado que a índia maranhense aceitou publicamente entrar na corrida eleitoral. “Está na hora de reavaliarmos: até quando vamos ficar apenas na linha de resistência? Acho que é sim hora de dar um passo à frente, de ocupar a política desse país. Então, por que não uma indígena? ”.

 

A notícia foi dada no #OcupaPolítica, evento que reuniu diversos ativistas e movimentos sociais para debater os caminhos para as eleições de 2018. O encontro ocorreu neste fim de semana em Belo Horizonte e trouxe mais de 300 ativistas de 21 estados brasileiros, 50 cidades e cinco países. “Temos que ampliar nossa presença em espaços de poder”, explica Áurea Carolina, vereadora (PSOL) em Belo Horizonte e participante do movimento Muitas pela Cidade que Queremos. “Nós deixamos um espaço na programação para que todos aqui que tenham intenção de se candidatar em 2018 se coloquem. Assim, podemos ver como colaborar para que essas candidaturas se viabilizem”.

Dezenas de pessoas manifestaram seu desejo de se candidatar, entre indígenas, quilombolas, periféricos, mulheres, negros e LGBTs. No entanto, menos do que o lançamento de um indivíduo como representante, as candidaturas e os eventuais mandatos servirão para a construção de uma experiência democrática mais radical e participativa.

Mandatos e Candidaturas coletivas para 2018

A advogada Anjuli Tostes, do grupo O DF é Nosso,anunciou sua pré-candidatura pelo PSOL ao governo do Distrito Federal. Ela, junto com outros três ativistas, propõe construir um programa de forma coletiva, inspirando-se na experiência da Muitas pela Cidade que Queremos, em Belo Horizonte. O movimento mineiro chamou atenção durante a campanha eleitoral de 2016. A legenda se comprometia em construir mandatos coletivos, transparentes e representativos e dedicava-se à inclusão de mulheres, negros e LGBTs. Com a bandeira “votou em uma votou em todas”, a iniciativa deu certo: a cientista política Áurea Carolina, com um discurso antirracista e feminista, foi a candidata mais votada na cidade, com 17.420 votos. Ela e a dramaturga Cida Falabella, que também conseguiu se eleger, retiraram a divisória de seus respectivos gabinetes ao chegarem na Câmara Municipal e criaram um espaço comum para as duas vereadoras. A “Gabinetona” se sustenta por um princípio de horizontalidade, que serviu para inaugurar diversas práticas e para construir um mandato mais participativo e inclusivo, como a criação de laboratórios e grupos fortalecedores.

O desafio agora será ver se essa experiência também consegue funcionar em uma escala maior. A Muitas anunciou que vai lançar nomes para disputar cargos legislativos nas esferas estaduais e federais em 2018, sendo Áurea Carolina a pré-candidata para o congresso federal. “Vamos fazer uma gabinetona universal poligabinetona, plurigabinetona. O amor vencerá. O amor vai ser nossa chave” discursou a vereadora.

Movimento Muitas pela Cidade que Queremos anuncia pré-candidaturas para congressos estadual e federal. Fotografia por Pedro Maia.

Outra frente compromissada com a defesa dos direitos humanos e da construção de um mandato transparente, a Bancada Ativistaconseguiu eleger em 2016 a vereadora mais jovem na cidade de São Paulo: a líder feminista Sâmia Bonfim. Para o próximo ano, eles planejam tentar algo ainda mais radical. “A gente precisa se desafiar a construir um processo coletivo, que ouse identificar uma unidade naquilo que parece muito diverso e muito disperso”, disse a vereadora. Inspiradas na experiência belorizontina, a Bancada propõe fazer uma candidatura coletiva para deputado estadual no próximo ano. “Serão entre 10 a 15 candidatos, compostos por vários ativistas, cobrindo o maior número possível de causas, lutas e territórios”, explica Márcio Black, membro da Bancada Ativista. “A ideia é que para todos esses nomes haja somente um número, para dar unidade. Todas as decisões serão feitas com base no diálogo e no consenso”.

 Pensando para além das eleições

A maioria das atividades do #OcupaPolítica aconteceram em uma ocupação urbana, a Ocupação Carolina Maria de Jesus. Reivindicando o direito constitucional à moradia digna, cerca de 200 famílias ocuparam um prédio no Bairro Funcionários, região nobre de Belo Horizonte. Umas das representantes da ocupação, Poliana Souza reconhece a importância das eleições de 2018, no entanto, pensa que vitórias nas urnas não é o suficiente para melhorar a atual conjuntura do Brasil. “Eu não acredito que uma eleição vá resolver os problemas da classe trabalhadora. Precisamos sim disputar esse espaço, mas ele não é a solução de nossos problemas. A solução é o povo organizado na rua fazendo luta”.

Para o analista político, Antônio Martins, é necessário se unificar na proposta dos referendos revogatórios. Fotografia por Mídia Ninja.

Já o analista político e editor do site Outras Palavras, Antônio Martins, considera que independentemente de quem assumir os cargos executivos em 2018, eles estarão limitados a vários retrocessos impostos pelo Governo Temer. “Por mais de esquerda que seja o presidente, ele estará submetido a PEC de Teto de Gastos Sociais, a contrarreforma trabalhista, a contrarreforma do Ensino Médio, a entrega do Pré-Sal”.  Como alternativa, ele defende unificar as diversas frentes da esquerda com o compromisso de colocar as principais medidas de Temer à consulta popular. “Essas medidas são ilegítimas porque foram propostas por um governo não eleito e por um congresso corrupto. Então, precisamos submetê-las a referendos revogatórios, em que a sociedade pode decidir diretamente sobre seu futuro”.

Imagem destacada: #OcupaPolítica (09/12/2017). Fotografia por Caio Santos/ Jornalistas Livres.

Enviado para Combate Racismo Ambiental por Amyra El Khalili.

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