“Quero continuar estudando e ensinar outras pessoas a ler e escrever”

Já na reta final da campanha de combate ao analfabetismo, Dona Ivaneide abria um tímido sorriso quando falava da formatura

Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

Aos 44 anos de idade, Ivaneide dos Santos não perde um dia de aula no bairro de Santa Quitéria, localizado no distrito de Piau, no município de Piranhas, Alto Sertão alagoano. A aula acontece dentro da paróquia da igreja da comunidade, local que abraçou a campanha nacional de alfabetização “Sim, eu posso!” construída pelo MST e todas as noites recebe a turma de jovens e adultos, que nos últimos três meses aprenderam a ler e escrever com o método cubano de alfabetização.

“Eu estudei até a 3ª série. Sai da escola que lá eu não era bem recebida por ser pobre e da roça. Sofria preconceito do pessoal, teve um tempo que eu cheguei a passar mais de 15 dias sem pisar na escola, com vergonha”.

Ivaneide nasceu e se criou no Sertão Alagoano. Lá teve cinco filhos, dois deles faleceram. “A vida aqui foi muito sofrida, cheguei a passar fome com minha família e não saber o que fazer. Mesmo com todo o sofrimento, sempre vivi aqui com meus filhos, nunca sai para canto nenhum, o Sertão é minha casa”.

A mesma resistência frente aos problemas para criar os filhos no Sertão, Ivaneide também enfrenta na sala de aula. A sertaneja, mesmo com fortes problemas de vista é uma das 266 formandas das turmas de alfabetização do “Sim, eu posso!” em Alagoas, que nos últimos três meses atuou nos municípios de Delmiro Gouveia, Olho D’Água do Casado e Piranhas, onde vive Ivaneide.

Jovens do MST, assentados e acampados da Reforma Agrária de todo o país, compuseram a Brigada Nacional de Alfabetização Nise da Silveira que saíram de seus estados na tarefa de contribuir na diminuição dos índices de analfabetismo no Sertão de Alagoas. Uma das brigadistas é a jovem Sem Terra Geizi Santos, que veio da Bahia e é a educadora de Ivaneide e sua turma.

“Aqui eu já aprendi a ler muitas palavras. Nessa escola a gente tem incentivo para aprender o que a gente nunca aprendeu ou que aprendeu e já esqueceu. O melhor ainda é que todo mundo se respeita, nessa turma todo mundo é igual e se ajuda”.

Ivaneide relata que tem nos filhos a maior inspiração e incentivo para seguir estudando: “no começo quando eu ficava desanimada, eram meus filhos que me animavam para não desistir. Uma das minhas filhas chegou a ir comigo nas aulas”.

“Aprender assistindo TV ficou muito mais fácil. Eu já tinha esquecido muita coisa, até de assinar meu nome. Agora já assino, posso tirar documentos novos e quero continuar estudando para ensinar outras pessoas a ler e escrever”.

Já na reta final da campanha, Dona Ivaneide abria um tímido sorriso quando falava da formatura. Ela imagina uma linda festa para celebrar o aprendizado dos últimos três meses.

“Vai ser um dia bonito, estou contando os dias. Mesmo com as aulas do ‘Sim, eu posso!’ terminando, vou voltar a me matricular na escola e dar continuidade aos estudos. A nossa professora vai fazer uma falta danada aqui no bairro para nós. Mas agora que vi que consigo aprender, vou continuar”.

*Editado por Rafael Soriano

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