Nota de Apoio do Instituto Kaeté ao Povo Ka’apor (Amazônia-Brasil)

“O poder é o afrodisíaco dos impotentes”. (Autor desconhecido)

Nosso país tem uma dívida histórica com todos os lutadores e defensores de uma existência humana digna e menos portadora da vaidade do dito homem civilizado. Há um abismo gigantesco entre os megalomaníacos que controlam o estado brasileiro e os verdadeiros donos desta terra tropical, abençoada por Tupã e bonito por natureza.

Desde as malditas capitanias hereditárias até a decretação de reservas, unidades e áreas de proteção ambiental, massacres, criminalizações, infâmias, calúnias e extermínios de povos e comunidades tradicionais têm sido a consequência mais nefasta e vil de um status quo perverso, por isso excludente e injusto, que somos obrigados a experienciar, cujas couraças encontram na grande mídia nacional e internacional seu baluarte-mor.

Contudo, como diria um poeta, há  situações que não permanecem obscuras: O sol, a lua e a verdade. Das três, a verdade parece ser a mais temida, porque libertadora. A mais perigosa, porque reluzente. A mais obnubilada, porque essencial, substancial, vital. O filósofo Michel Foucault (1926-1984) argumenta que a produção de verdades é o ardil mais estratégico para a manutenção do “estado de coisas”. Foucault considera o poder algo que além de opressor também é criador de saberes e verdades; é a imposição de uma vontade sobre terceiros, que não caracteriza uma posse, mas uma prática social interpessoal. E o que segue-se a isso é a criação da verdade.

Pierre Joseph Proudhon (1809-1865), declarava que “a propriedade é um roubo”. Pegando o gancho provocativo deste intelectual fecundo,  a grande propriedade seria, então, uma afronta ao bom senso e uma ofensa à temperança. Enfim, seria uma característica humana, inumana, mais adquirida que inata; vício de um sistema que passa a ilusão de que “o poder é doce, tem vitaminas e é erótico”. De acordo com Proudhon, a propriedade privada é o principal pilar do capitalismo, seu sustentáculo, seu alicerce mais profundo.

Neste prisma, cogitar a coletividade como parceira torna-se um atributo inconcebível para quem o dinheiro exerce um fascínio quase divino. Pra estes, é melhor perder amigos que perder “cifrão”. Se assim nutrem seus espíritos, aliam-se aos seus pares; constroem consórcios; edificam perspectivas; elegem parlamentares; contratam justiceiros e deleitam-se nas orgias de uma vida sórdida, alimentada pela ânsia do ter em detrimento do ser, cuja substância é oca, porque despida de uma racionalidade para além do capital.

Queremos dizer com isto que nos juntamos aos que fazem coro a um outro mundo possível. Possível porque o ser humano, em grande medida, não está perdido, apenas seduzido por uma sombra de materialidade finita, onde a aparência é o guia, mas, ao penetrar o olhar, enxerga-se a opacidade da solidão.

Queremos dizer com isto que a racionalidade pautada no atual modelo de produção e consumo está nos levando ao colapso generalizado. A natureza está agonizando. Há um grito vindo de lá. Este lá que mencionamos é aqui, posto que nossa Amazônia é a última fronteira de recursos naturais do planeta… “Norte não é com M”!

Este padrão de vida, inventado pela revolução industrial e alimentado pela ideologia norte-americana, é insustentável e, sobretudo, irresponsável e homicida, mesmo sendo travestido com a nova roupagem do desenvolvimento sustentável, que sustenta o desenvolvimento, mas não desenvolve a sustentabilidade. O exemplo disso, lamentavelmente, é que nunca, na história da humanidade, a depressão e a falta de sentido foram tão intensas e chocantes, gerando muitos suicídios. Dados da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos-SMDH revelam que há no Brasil 30 suicídios por dia, significando 1 suicídio a cada 47 minutos. Mas este fato não pode virar notícia. Esta verdade é inconveniente demais. Este acontecimento é impactante e pode produzir reflexões diversas e indagações inaceitáveis. Ficar como está tem serventia somente aos donos do poder.

Que sistema é este que produz mais morte do que vida?

Como defender um paradigma de sociedade consumista que nos direciona para o abismo, abismo de uma existência fugaz, onde a alegria não reluz sequer em sonho?

Basta!!

Tarde demais pra ser pessimista!

Dito isto, os Ka’apor, indígenas do Maranhão-Amazônia-Brasil, com suas especificidades étnicas e culturais, costumes, línguas, crenças e tradições, têm uma sugestão a nos apresentar: “a união faz a força e juntos somos mais”. Ao estreitarmos relações com eles, percebemos tratar-se de um povo aguerrido, ligado à terra, enraizado à floresta, defensor da preservação dos recursos naturais e verdadeiros donos do território onde habita.

Apoiamos suas lutas!

Aliamo-nos ao protagonismo de suas próprias experiências culturais!

Colocamo-nos à disposição para somar força contra os povos da mercadoria: Madeireiros, Mineradores, Agroindustriais, Agropecuários, Latifundiários, Fazendeiros, etc..!

Reconhecemos sua autodeterminação!

Reconhecemos seu Conselho de Gestão!

Reconhecemos seu Centro de Formação de Saberes Ka’apor como espaço de difusão dos conhecimentos tradicionais!

Respeitamos seu ponto de vista e sua idiossincrasia, pois o seu plano de vida é a floresta. A floresta é o elemento fundante e imprescindível da e para a sobrevivência da espécie humana. Sem a floresta, esgotam-se as fontes de água. Água, como é sabido, não é somente hidrogênio e oxigênio, é Potássio, Magnésio, Sódio, etc..!

Reconhecemos, enfim, a existência da nação Ka’apor!!

Belém-Pará-Amazônia-Brasil, 21 de dezembro de 2017, quinta-feira.

Coordenação colegiada do Instituto Kaeté:
Jorge Costa
Danielly Braga
José Carlos Borges

Comments (14)

  1. Wirá Murutinga Baré,

    Então, pelos seus argumentos, pode-se presumir que a disputa por políticas indigenistas no nosso país não é por interesse ideológico e humanitário, mas sim por questões financeiras de quem ocupa cargos na FUNAI. É isso?

    A propósito, na sua opinião, procede a informação de que a FUNAI, de um modo geral, gerencia um orçamento anual de:
    R$ 547,9 milhões (2017) ?
    R$ 533,7 milhões (2016) ?
    R$ 639 milhões (2015) ? (Fonte: The Intercept Brasil / UOL / Lei Orçamentária Anual-LOA)

    Esse montante é pra todo o território nacional. Mas quanto cabe à FUNAI-Maranhão?
    Eles prestam conta de seus gastos diversos?
    Onde está publicada a transparência dessas contas?
    Quem são os nomes e sobrenomes dos ocupantes desses cargos?

    Parece-nos, portanto, que a tentativa de respostas destas perguntas lançará luz sobre várias trevas…Né não?

    De acordo com o LOA

  2. Só ocorreu esse descaso com os parentes ka’apor, por que enquanto os malfeitores dividirem os cargos público em troca de apoio político e continuarem usando a máquina pública pra grupos se darem bem, haverá uma aceleração no estado de putrefação desse modelo homicida de políticas públicas indígenas, pois o grande mistério não estar no DSEI e nem na FUNAI, mas no senado que julga o STF, e são eles que dividem os cargos públicos, os mesmos que não tem competência nenhuma para coordenar, mas como fazem parte do grupo, pouco importa quantos vamos ter que enterrar até chegarmos a um denominador comum. Ao instituto kaete sentimos orgulhos de assistir essa luta de Davi e Golias, e o final já sabemos quem não aceita armadura do gigante para ir ao combate, vence por que lutou com a verdade que é sua arma e escudo, não temas Tupã é nossa Fortaleza

  3. Parabéns pelo comentário, Sr. Krempontire Kayapó.
    Texto lúcido, questionador…
    Seria por demais interessante que a Associação Ka’apor ta Hury pontuasse o nome da diretoria de tal entidade,para que as verdades ficassem mais evidentes.
    Vc poderia desenvolver mais a respeito do termo “acamponesamento indígena”. Parece ser um tema instigador?

    a) Antonio Queiroz

  4. Interessante os comentários dessa associação kaapor ta Hury. Vale a pena observar de que local a pessoa que escreveu o comentário esta falando . Já deu pra perceber que não é do povo, nao representa a fala do povo, de pessoas e índios que lutam por defender a Cultura , a proteção do território e muito menos na melhoria da saúde. Seria interessante que essa pessoa que diz defender essa associação (que representa uma estrutura alienigena na vida e na Cultura indígena e só tem deslegitimado as organizações próprias do povo na luta pela defesa e proteção dos direitos originários ) pudesse apresentar suas verdades sobre que quem compõe a diretoria dessa.associação, que representatividade ela tem junto ao povo, quais os reais objetivos de quem coordena politicamente as ações da associação, qual a origem, trajetória, atuação promíscua politicamente de quem a diz assessorar. Chega de colonialismo político e um falso marxismo que sonham com um acamponesamento indígena. Ideologia desastrosa que só levou a um processo acelerado de violência contra lideranças e defensores de direitos humanos indigenas com duros ataques e processos de ddesterritorializacao indígena levando a uma luta de classes entre as sociedades indígenas: indígenas que detém forças produtivas , acumula meios de produção para manter grupos de indígenas subalternos aos seus interesses espúrios . Associação kaapor ta hury mostra a sua cara.

  5. Marcos Andrade, Claudio Duarte e Pedro Dantas,
    Boa Noite e que possam nesse momento tá em Paz e com Saúde,
    inicialmente quero lhes tranquilizar, que em nenhum momento nossa intenção foi dividir e sim SOMAR forças para que o Povo da Nação Káapor possa continuar sua trajetória de Guardiões da Floresta, com seu conselho de Gestão Autônomo, sua Guarda Florestal Soberana, nossa iniciativa só foi possível porquê alguém em um momento falhou, ESSE É O FATO, a liberdade de visitar a dialogar com as lideranças dos Káapor, acredito que estar aberta ao dialogo com todos, assim como dialogamos com eles, afinal, seria, eles a mais fiéis testemunhas de todo esse emaranhado virtual, nossa culpa pode estar exatamente por termos a sensibilidade ao constatar essa situação e a nossa AÇÃO foi direta e inloco e assim não SER mais um grupo omisso, pois encontrar vários parentes enfermos de inúmeras enfermidades como: hanseníase, leishmaniose, tuberculose e quadro graves de desnutrição humana, os quais ainda encontram em tratamento fora do território, afinal a saúde é um direito universal.
    outro ponto que quero partilhar é o fato de algumas indagações sobre a sede, sitio ou outros dados do Instituto Kaeté, pois bem queria aqui lembrar a memória de um sábio e santo Missionário Xaveriano, Savino Mombelli, que sempre afirmava que apção da partilha e doação é pessoal e pode ser coletiva, mais nossa sociedade só reconhece sua ação quando o ESTADO a “legaliza”, de forma que o IK já está vivenciando a partilha e a troca de saberes há mais de 2 anos, porém em 2017 estamos sentido a necessidade de nos “legalizar” perante o ESTADO, que ora nos cobra pelo que fazemos, que muitas das vezes a percepção que temos, que se os parentes continuarem a morrerem como está acontecendo e desde já sugiro a visita ao território para chegar tal afirmativas.
    Grato e disponham
    José Carlos Borges
    Zé Carlos
    [email protected]
    [email protected]

  6. Bom dia. Estou acompanhando esta lastimável situação e gostaria de saber os contatos do Instituto kaeté e dos senhores Jorge Costa, Danielly Braga e José Carlos Borges. Fico no aguardo.

  7. Todo apoio CONSELHO DE GESTÃO KA,APOR! O CGK é a instância colegiada e verdadeiramente legítima que representa o Povo Ka,apor, que luta pela autonomia e dignidade dos Ka,apor da Terra Alto Turiaçu!
    Cumprimentos cordiais aos apoiadores do Povo Ka,apor! E Olho Vivo com os falsos apoiadores dos Ka,apor!

  8. Pessoas que usam a máquina do Estado, como usaram a Funai desviando recursos públicos para enriquecer a custa do sofrimento dos povos indigenas no maranhao em nome de interesses proprios e depois ser procurada pela polícia Federal, exonerada, extirpada da máquina pública como foi o caso de Maria Jose Lopes (vulgo Zezé ) não poderia falar outra coisa de pessoas justas e honestas que apoderaram os indigenas ao ponto de buscarem caminhos proprios para exercer sua autonomia. Uma alienigena que caiu no territorio dos Kaapor em 2015 trazendo divisao interna do povo; golpeando de forma suja e desrespeitando as organizações internas em nome de um projeto de agressao ao povo e ao territorio. Contribuindo para que a ação madeireira se fortaleça e o território venha ser destruído como tem acontecido na região Sul do território onde o grupo assessor da associação kaapor do governo se faz presente. De fato, desde em que trouxe a divisão entre o povo Kaapor, o grupo da senhora Zezé nunca aceitou e desrespeita de forma ousada a única e legitima instância de decisão e organização interna do povo que é o Conselho de Gestão Ka’apor. Por que essa instância não aceita que os indígenas sejam tutelados; representa e defende interesse do povo e não de partidos e governos como tem feito a associação kaapor tá hury do governo. Essa instancia interna tem desenvolvido experiências inovadoras no campo da educação, assistência, sustentabilidade, defesa territorial. Iniciativas e ações com recursos próprios e doações de quem acredita no potencial das lideranças que ousam resistir em não serem mais manipulados por instâncias governamentais e partidos políticos que subestimam a capacidade e habilidades desses povos. Quiçá o Conselho de Gestão Ka’apor continue firme e não se curve a pessoas e grupos partidarios medíocres e covardes que usam das estruturas politico-jurídica desse Estado repressor para perseguir, difamar, caluniar e criminalizar verdadeiros defensores dos direitos humanos que tem sido reconhecidos nacionalmente e internacionamente por defender um povo aguerrido e capaz de continuar lutando por um bem viver na floresta.

  9. Boa noite, Coordenação colegiada do Instituto Kaeté:
    Jorge Costa
    Danielly Braga
    José Carlos Borges

    Preciso de seus contatos, na internet não encontrei nada sobre Instituto Kaeté. Obrigado.

  10. Se há tal Associação, por que os Ka’apor estão morrendo por falta de assistência à saúde?
    Por que há tantos casos de Hansianiase, Lashimaniose, Tuberculose, AVC?

  11. Uma bela iniciativa, se isso tudo não fosse controverso e cheio de inverdades. O povo Ka’apor tem a Associação Ka’apor Ta Hury e seus líderes são unidos e tem uma representatividade grande e que merece respeito. Lutam e são eles que falam em nome de todo povo Ka’apor. O Instituto Kaeté deveria, antes de se aliar a brancos que tem sua índole bastante questionável, como é José Andrade (que responde por dois processos criminais e está proibido pelos Ka’apor, que sofreu anos de exploração e enganos, de entrar em 95% de suas terras, ).
    É desprezível ler um texto desse tão cheio de desinformações, e de clichês, e que só atrapalham a vida deste povo. Sugiro que entrem em contato e se informem acerca das verdades.

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