20 anos da morte de Sebastião Camargo e um assassinato que se repete muitas vezes

Trabalhador sem-terra foi assassinado por presidente de União Democrática Ruralista, no Paraná

Fernando Prioste*, Brasil de Fato

Há 20 anos, em Marilena, interior do Paraná, uma organização criminosa de fazendeiros realizou um despejo violento ilegal contra integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que ocupavam a Fazenda Boa Sorte, que já estava em processo de destinação para reforma agrária.  

Às 6h30 do dia 7 de fevereiro de 1998, pistoleiros armados, sob o comando da União Democrática Ruralista (UDR), chegaram no acampamento em que viviam 300 famílias. Sob tiros, agressões e insultos, os acampados foram arrancados de barracos de lona e obrigados a deitarem no chão, com o rostos virado para baixo, pois seriam colocados em caminhões de gado e despejados em cidades vizinhas.

Sebastião Camargo era um dos integrantes do MST, com 60 anos, cinco filhos, esposa, uma vida de trabalho no campo e o sonho de conquistar a terra. Tinha problemas na coluna e não conseguia permanecer com a cabeça abaixada.  Temendo ser reconhecido, e com a ira daqueles que não querem a repartição da terra, o então presidente da UDR do Paraná assassinou Sebastião com um tiro de escopeta calibre 12, na cabeça.

Sebastião não conquistou o sonho, mas seus companheiros deram seu nome ao assentamento criado nas terras em que seu sangue foi derramado. A viúva, Dona Alzerinda, teve a sorte de escapar dos tiros e criar os filhos em terras conquistadas com a luta. Os pistoleiros Osnir Sanches e Augusto Barbosa, assim como então dono da Fazenda, Teissin Tina, e o presidente da URD, Marcos Prochet, foram condenados. Outro integrante da UDR, Tarcísio Barbosa, ainda será julgado. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos afirmou que houveram graves violações de direitos humanos, e fez recomendações ao Estado brasileiro para não repetição do fato.

Infelizmente, a morte de Sebastião se repetiu muitas vezes nestes vinte anos. Poucas foram as situações em que o assentamento surgiu e os poderosos foram condenados. Ainda há muito que fazer para construir uma sociedade justa.

*Fernando Prioste é advogado popular da organização de direitos humanos Terra de Direitos

Edição: Franciele Petry Schramm

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