Temer quer ser candidato à Presidência? Dica: Cuidado ao escolher o vice, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

Com menos carisma que uma broca de dentista, ostentando uma capivara de declarações misóginas e gafes, tendo já confundido o real com o cruzeiro e a Rússia com a União Soviética, carregando um rosário de acusações de corrupção e compra de voto, reconhecido como o pai das propostas de Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência, sendo visto como alguém que rifou até a liberdade de escravos para se safar e diante de uma economia que não deve mostrar sinais vigorosos de crescimento do emprego formal antes do final do ano, Michel Temer é o anticandidato à Presidência da República.

Apesar disso, boatos e balões de ensaio têm sido espalhados sobre a possibilidade dele concorrer, em outubro deste ano, ao cargo que já ocupa. A menos que estejam borrifando alucinógenos pesados no Palácio do Planalto, ele deve ter consciência de que sua chance é menor que a de um lenhador cortar a maior árvore da Amazônia com um arenque. E está fazendo isso apenas para jogar com seus aliados e adversários.

Considerando que o seu governo, mesmo com centenas de milhões de reais investidos em criativa propaganda, mantém-se na casa dos 70% de desaprovação, a proximidade com Michel Temer segue radioativa para a maioria dos postulantes presidenciais. Um dos únicos que têm buscado seu abraço – e, ainda assim, com nojinho – é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Mas a chance dele ser eleito também não é maior que a de cortar a maior árvore do Cerrado com um pacu.

Os boatos dizem que Temer gostaria de sair candidato para aproveitar as viagens pelo Brasil e o tempo de rádio e TV a fim de fazer uma defesa contundente de seu governo diante do que acredita ser uma campanha negativa que estaria sofrendo. Alguém deveria explicar a ele que o grande culpado por essa campanha negativa também se chama Michel Temer e, coincidentemente, dorme diariamente ao lado de sua esposa.

Isso tem um inconveniente para quem defende as reformas: a votação de Temer se transformaria em uma espécie de plebiscito ao inverso sobre as propostas por ele patrocinadas. Aprovados a toque de caixa e reduzindo a proteção social da classe trabalhadora, projetos como a PEC do Teto dos Gastos, a Lei da Terceirização Ampla, a Reforma Trabalhista, entre outros, têm sua impressão digital.

Nesse sentido, como não amar uma candidatura Michel Temer?

Por outro lado, uma vez no páreo, ele pode ser o Grande Boi de Piranha de uma parte da direita e da centro-direita que lhe dão suporte. Qualquer candidato de seu partido ou da base aliada será questionado publicamente pela proximidade com ele e a corresponsabilidade nos já referidos projetos. Com ele mesmo na disputa, os questionamentos devem acontecer diretamente à sua pessoa e não a seus aliados, liberando para que ganhem corpo.

Claro que os aliados com candidatos próprios, como o PSDB, sonham com o apoio da máquina governamental e o tempo de TV do MDB nas eleições. Mas sabem que se chegarem muito perto de Temer podem ser arrastados pela mesma pororoca que o mantém eternamente coberto de lama. Como falar de ética junto com o homem?

Se ele atingiu a menor taxa de popularidade registrada por uma Presidência (3%, em setembro passado, segundo o Ibope) e seguiu respirando, talvez seja resiliente o suficiente para suportar mais esse serviço em nome de seu grupo político. Que, assim que eleito, pode inclusive dar uma ajudinha para que ele não seja encarcerado por algum juiz de primeira instância da Lava Jato após a perda do foro privilegiado.

Mas Temer não faz o estilo masoquista. Por exemplo, tem os pés atrás com relação ao governador de São Paulo Geraldo Alckmin, entre outros que guardam uma distância de segurança dele.

Temer quer ser amado. E ter alguém que defenda, em sua campanha, aquilo que ele chama de ”legado”. Difícil. Porque boa parte da população deve encarar sua passagem pelo poder como um ”passivo” que, infelizmente, vai durar por muito, muito tempo.

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