MPF pede regularização urgente de áreas de agricultores familiares no Pará ameaçados por pistoleiros

Enquanto o poder público não toma providências, há denúncias de homicídios e queima de casas

Ministério Público Federal no Pará

O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Justiça decisão urgente para obrigar a União e o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária a regularizarem as glebas 11 e 12 da fazenda Petrópolis, em Tucuruí, no sudeste do Pará.

As 80 famílias de agricultores ocupantes das terras denunciaram ao MPF que estão sendo pressionadas por pistoleiros a abandonarem a área, e que já houve homicídios e ateamento de fogo a residências.

A ação do MPF foi encaminhada nesta segunda-feira (26) à Justiça Federal em Tucuruí pelo procurador da República Hugo Elias Silva Charchar. Caso a Justiça acate o pedido liminar (urgente) e a regularização não seja realizada dentro de seis meses, o MPF sugere que a União e o Incra sejam multados em R$ 1 mil por dia de atraso.

Segundo lideranças dos agricultores familiares, ainda em 2014 o Incra e o programa Terra Legal haviam se comprometido a realizar vistoria na área, para levantamento da situação da cadeia dominial e patrimonial e para identificação dos ocupantes. A vistoria, no entanto, nunca ocorreu, informaram as famílias.

Enquanto isso, a tensão tem aumentado na região, e lideranças relataram ao MPF novos conflitos.

Situação fundiária – Segundo a Superintendência Nacional de Regularização Fundiária na Amazônia Legal, do Incra, a gleba 11 havia sido destinada a projeto agropecuário, mas o contrato foi cancelado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário porque o beneficiário descumpriu o acordo.

Após ter sido notificado sobre o fim do contrato, o ex-beneficiário entrou com recurso contra a decisão, ainda não julgado. As famílias dizem que os pistoleiros estariam agindo a mando de fazendeiro que se diz ainda proprietário da área.

A gleba 12 é área pública federal sem qualquer expedição de título e atualmente não há nenhum impedimento para a regularização fundiária das 50 famílias que ocupam a área, sendo preciso apenas que os ocupantes façam os procedimentos administrativos necessários, informou a Superintendência Nacional de Regularização Fundiária na Amazônia Legal ao MPF.

“Entretanto, o programa Terra Legal impôs indevidamente aos ocupantes da fazenda Petrópolis o ônus de realizar o georreferenciamento, quando na verdade tal custo deveria ser pago pelo próprio poder público”, critica o procurador da República Hugo Elias Silva Charchar.

O membro do MPF pediu à Justiça Federal que, no julgamento do caso, o Incra seja condenado a pagar R$ 100 mil em danos morais às famílias ocupantes dos lotes 11 e 12 da fazenda Petrópolis, pela violação dos direitos dessas famílias.

“Afeta-se a boa-imagem da proteção legal a estes direitos e afeta-se a tranquilidade do cidadão, que se vê em verdadeira selva, onde a lei do mais forte impera”, destacou o procurador da República, citando o procurador regional da República André de Carvalho Ramos.

Íntegra da ação

(A numeração do processo não havia sido divulgada pela Justiça Federal no momento da divulgação desta notícia)

Imagem: Agricultores familiares dizem que governo federal não cumpriu promessa de fazer vistoria para levantar dados das famílias ocupantes da área (imagem ilustrativa por Binyamin Mellish em licença CC0 via Pexels.com)

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

4 × três =