Lula nos livrou dos generais, por Roberto Malvezzi (Gogó)

Na CPT

Lula nos livrou dos generais, ao menos por hora. Sua prisão sacia o rancor da classe média, o interesse dos empresários, a vingança da velha mídia (Globo, Folha, Veja, etc.), a ética hipócrita de juízes e promotores, principalmente, a honra dos generais.

Mas, o problema é que a questão não está resolvida, o golpe ainda não fechou. É preciso julgar o mérito dessa questão, isto é, se a prisão em segunda instância vai ser sempre automática ou vai depender do Supremo Tribunal Federal a última palavra, como está na Constituição. Então, o Supremo terá que decidir novamente sobre a questão.

Mais uma vez a mídia, uma parte dos juízes e promotores, a classe média e os generais vão pôr a espada no pescoço do Supremo, particularmente da ministra Rosa Weber, que tem suas convicções, mas não tem coragem de enfrentar essa turba. Parece que a questão será pautada para Setembro.

Na Quaresma, para nós cristãos, sempre volta aquela frase de Caifás: “é preciso que um só homem morra por todos” (João 11,45-46). Jesus era o bode expiatório da sede de rancor do povo e das autoridades de Israel, sobretudo, o pavor de perder ou dividir o poder. Pilatos vacila, tem até pena de condenar aquele inocente, mas, temendo o povo, o entrega para ser crucificado. Esse exemplo não serve apenas como metáfora, mas tem sua pertinência histórica, já que o bode expiatório veio antes de Jesus, tornou-se Nele “cordeiro de Deus”, mas segue pelos meandros da história.

E nosso povo? “Sangrado e ressangrado, capado e recapado” (Capistrano de Abreu) age sempre com pragmatismo. O silêncio muitas vezes é a arte da sobrevivência. A espera pelo tempo mais oportuno. As artimanhas para sobreviver, como dizia Paulo Freire. Nossos índios, negros e empobrecidos conhecem essa arte como ninguém, por isso estão vivos.

O povo sabe onde está o poder e engole a seco. Rumina.

Quanto a Lula, vai para a cadeia – vai saber por quanto tempo! -, mas, estará para sempre nos pesadelos de seus algozes e na perigosa memória do povo.

Comments (1)

  1. Tem muita coisa mal construida nesse mundo, por exemplo: fé, convicções e ideologias infalíveis, inquebrantáveis. A distância entre certezas bíblicas e convicções do Boka-haram parece tênue. A cada dia reflito sobre o poder do discurso na cabeça das pessoas angustiadas ou carentes em em vários níveis, em busca de heróis [excelente o livro de Jon Lee Anderson: CHE Guevara, uma biografia]. Nessa hora muitos busca salvadores e milagreiros. Quando as coisas desandam buscam supostos culpados. Nossos sonhos são matéria que se desfaz no ar. Os problemas reais estão sob nossos pés, no bairro, na nossa rua, na escola pública do bairro e até dentro de casa. A maior parte dos militantes de esquerda vê a origem dos problemas nos EE.UU e “na Globo” [antes da Globo diziam “família Marinho”]. Quanto à suposta perfídia americana, curiosamente o povo da pequenina Costa Rica está muito melhor e mais democrático do que um certo membro da OPEP [Venezuela, inimiga dos “states”], é também do que a mais que cinquentenária e revolucionária Cuba. Quando garoto acreditava nesses bordões. Na verdade somos uma sociedade que adora fazer reverência a “vacas sagradas”, que acredita demasiadamente em santos, demônios e duendes; não percebem que somos produto de nós mesmos, do que construímos. A classe política que parimos [e alimentamos com fartas tetas e imunidade] é uma tristeza. Quase cortaram a cabeça do Pelé quando ele ousou afirmar que o brasileiros não sabiam votar. O que vocês acham, amigos?

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