Ninguém estava chorando pelo Lula

Em A feminista

Acho que é “natural” que as pessoas gostem do Lula. Ele é uma figura pública complexa. Foi nosso presidente por 8 anos. Sindicalista, puxou um monte de greve. Bufão, faz discursos falando de cachaça e futebol e no faz corar de vergonha e afeto. Também por isso uns não gostam do Lula. Normal também. O que me incomoda é dizerem que estamos prostrados aos pés de um líder messiânico. Não estamos. É mentira. Nos diminuem, nos humilham e nos colocam num lugar que só existe para aqueles que o detestam.

Querem explicar o Lula por isso. Porque seríamos um bando de alienados que votamos 13 só porque ele é lindo e carismático. E não é por isso.

Não existe uma pessoa que se candidata. Cada candidato reúne forças sociais e faz sua candidatura com elas. Os aspirantes fazem jantar na FIESP, participam das reivindicações de 1o de maio. Arrumam apoiadores famosos que representam negros, mulheres, militares, funcionários públicos, as gay, o pequeno agricultor. E os grupos vão se reunindo em torno de uma candidatura. E vão dando uma cara a ela e passam a representar um projeto de país que queremos.

Eu tenho um primo liberal em economia que tem asco de conservadores de costume. Embora não acredite no Estado interferindo em nada, já deu voto pra candidato de esquerda por perceber que talvez ele agregasse, ali, naquela eleição, algo parecido com seus anseios. Minha avó materna já anulou voto no segundo turno presidencial por acreditar que José Serra era comunista. Muito conservadora, alertava que vários militantes comunistas dos anos de chumbo estavam de mãos dadas com ele. Eu já votei (e me arrependi) no Fleury contra o Maluf. Carandiru veio para me fazer pensar. Isso. Que candidatos e figuras políticas estão num campo. E não é por fofura que se escolhe. Inegavelmente mais fofo que Maluf, Fleury estava alinhado com algumas forças reacionárias e violentas que eu não deveria ter chancelado com meu voto.

Então, me parece, nós, da esquerda, brincamos com vocês. Vocês que simplificam tanto o voto no Lula. Então a gente fica. “Lindo”, “meu amor, barbudo”. Mas não é no Lula que a gente vota. A gente vota no candidato que reúne as FORÇAS POLÍTICAS que podem construir um Brasil melhor.

Esse apoio não é absoluto. É RELACIONAL. Por exemplo, eu estou assustada com a escalada conservadora do governo Temer. Se antes acreditava que podíamos pensar em alternativas, hoje acho que devemos nos abrigar num guarda-chuva comum. O Lula é a antítese do governo Temer porque ele governou de outro jeito. Com erros que todos sabemos. Inclusive o de bajular essa força retrógrada que agora deita e rola. Mas ele pelo menos TENTA. Fala demais, mas fala.

O Lula chama. O sindicato, os movimentos. Numa atitude um tanto irritante. Porque governou alisando empresários e banqueiros. Mas os avanços do governo dele são os avanços que muitos de nós queremos.

Eu dou aula numa universidade pública criada por Lula/Haddad no interior do país. Nunca houve educação de qualidade aqui. E meus alunos são pobres e quase 100% deles são a primeira geração a chegar na universidade. Eu sei porque pergunto no primeiro dia de aula.

O outro lado não apenas desdenha disso. Diz com todas as letras que talvez seja melhor ACABAR com a universidade pública. Plmdds. Quem quer estar desse lado? Só aqueles que consideram que estudar é algo natural da vida. Não percebem que é uma conquista pessoal e política imensa chegar a universidade. Universidade é a continuação do ensino médio? Só para uma minoria.

As outras forças políticas são assim. Descontextualizadas (ou sonsas). Não é preciso um grande esforço de memória para se lembrar de que havia um país melhor (real ou como expectativa). O governo Lula deixou as pessoas com mais dinheiro e mais planos. E as inúmeras críticas encontravam eco e desconforto no mesmo governo. Quando a Dilma vetou o kit anti-homofobia, cedeu às bases evangélicas para livrar a cara do Palocci. É horrível mas o governo se constrangia e tentava explicar. Hoje lidamos com um governo que sequer cogita fazer algo em relação à homofobia nas escolas. Pelo contrário, acena para o fim da “ideologia de gênero” (sic, oi?, irc) e fomenta uma tal de “escola sem partido”. Se denunciávamos a lerdeza com que os governos petistas lidavam com as demarcações, hoje temos um grupo político que considera as reservas anacrônicas e coisa do passado. Cito esses dois grupos porque fomos muito críticos ao governo petista.

Posição política é RELACIONAL. Somos Todos Lula porque a reação veio a galope e não veio para retroceder. Veio para matar tudo que acreditamos. Eles negam que os nossos debates devam existir. Veja. Não discordamos deles quanto à solução do debate. Eles NEGAM a legitimidade do debate.

Então, se reunir em torno do Lula, ontem, foi mais. Foi dizer sobre justiça, igualdade, alegria. Depois da prisão, os grupos que o detestam não estavam felizes. Estavam ainda com raiva, com ódio. Alguns pediam a morte dele. Nada será suficiente. Porque são grupos que odeiam a democracia e a diversidade. Nos odeiam porque somos nós. Lá vem essa sapatão gorda encher o saco. No governo deles, a sapatão não terá vez.

Porque eles se articulam com um único agente político. O tal Mercado. E não há povo na articulação que desenham. O povo é burro. O povo é alienado. O povo, quando se manifesta, é através de equações religiosas. O Lula é nosso Deus. Não é. É o presidente que tinha um projeto pro povo. E, hoje, que não há mais, me parece quase racional que fiquemos ao lado dele. Porque a gente não é tonto. É o contrário. Sabemos onde a “alternativa” política ao projeto petista vai nos levar. Vai nos empalar a la conde Drácula.

Todos queremos superar 2014, o lulismo etc. Mas parece que não é possível ainda. Ontem prenderam nossos sonhos, ué. Falar o quê? E vamos rumo à Era da Classe Média Anarfa. Aos burocratas da economia. Vamos. Mas não sem gritar, né?

Olê olê olê olá
Lulá Lulá

PS: é uma gente sem noção de empatia e alteridade. Cristovam Buarque criticou, no twitter, a política de universidades federais do Lula. Reação imediata, pessoas que se beneficiaram dessa política começaram a contar suas histórias. A direita nem ouviu. Começou a “esclarecer” para essas pessoas que não era a política que era boa, mas o esforço delas, pessoas. Minha namorada, beneficiária dessas políticas, me mostrou. Que era uma tentativa de cooptar pela vaidade “é você que é bom, princípe”. E disse que era duplamente desrespeitoso. Porque tentavam tutelar até a maneira como os pobres que estudaram contavam sua própria história. E um desrespeito com os pais e avós dessas pessoas (não estudaram por que não quiseram?). Enfim. A falta de empatia e respeito com essas histórias é uma falta de empatia e respeito com essa POLÍTICA.

O que eles tem a dizer para o povo brasileiro? NADA. Nem escutar uma história simples conseguem.

Nós estamos tristes pelo nosso projeto POLÍTICO. Que o barbinha lindamente incorpora. Porque vai ser lindo assim… GOSTOSO!

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