Emprego e segurança (e não corrupção) decidirão quem leva a Presidência, por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Se a eleição presidencial fosse hoje e Lula pudesse se candidatar, passaria com folga no primeiro turno e venceria qualquer candidato no segundo. Pelo menos, é o que aponta a última pesquisa Datafolha.

Isso continua sendo uma grande pedra no sapato do discurso de quem cisma em afirmar que vence o candidato que abraçar a Lava Jato. Com o pré-candidato do PT aconteceu exatamente o contrário: ele foi condenado pela operação, descendo a lenha sem dó, nem piedade, mas seguiu surfando nos números mesmo após preso.

Não estou dizendo que o combate à corrupção não seja importante para qualquer projeto decente de país. Apenas estimando que ele estará em segundo plano, sendo a preocupação principal apenas de um nicho de eleitores.

Mais relevante para o grosso da população vai ser saber como seu candidato irá reduzir o desemprego e os mais de 60 mil homicídios anuais no país.

Quem conseguir elaborar propostas de geração de postos de trabalho formais e de apoio ao microempreendedor, apresentar um plano exequível para, no curto e médio prazos, resolver o nó da segurança pública e for capaz de comunicar tudo isso de forma clara e direta ao brasileiro médio tem mais chances de fazer sucesso na campanha.

Até agora, porém, poucos foram os que formularam publicamente algo a respeito com um mínimo de solidez. Olhando para os candidatos de todo o espectro ideológico e para a cobertura da própria imprensa, a população tem a impressão de que o tema central da campanha será o próprio Lula. Claro que as eleições dependem do que vai acontecer com ele como pré-candidato  se será capaz de transferir votos a outra pessoa, se necessário. Mas seria bom os pré-candidatos começarem a abrir esse debate. Pelo menos, aqueles com capacidade cognitiva para tanto.

Se a recuperação econômica seguir soluçando, como está hoje, e não se traduzir em melhoria real para os trabalhadores, o eleitor médio vai privilegiar quem o convencer, mesmo que de forma vazia, de que produzirá empregos em grande quantidade e devolverá sua ”cidadania através do consumo” – situação alcançada durante o governo Lula e da qual muitos têm saudade.

Ao mesmo tempo, a situação da economia aprofundou a crise de segurança no país. O aumento da pobreza e do desemprego, a falta de recursos para garantir segurança pública, a incompetência na gestão de governos, a ampliação da desigualdade estrutural levou à explosão do medo da violência numa escala muito maior que o crescimento da violência em si. O eleitor não quer mais sentir esse medo. E vai atrás de quem prometa isso.

Com um agravante. O estudo ”Medo da Violência e Autoritarismo no Brasil”, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com levantamento do Datafolha, mostrou que, em uma escala de zero a dez, a sociedade brasileira marca 8,1 na propensão a endossar posições autoritárias. Com a crise institucional e de perda de fé na política como solução pacífica dos conflitos nacionais, abrem-se as portas para indivíduos que se colocam como ”salvadores da pátria” a fim de ganhar espaço a fim de nos ”tirar das trevas” sem o empecilho da ”política” – ou seja, de regras e limites dados pela construção coletiva.

Como já disse aqui, ao contrário do que prega o preconceito do senso comum, de que a massa da população é irracional e não sabe votar, o eleitor pode ser bastante pragmático em seus cálculos políticos.

Com a economia indo bem e o país crescendo, a população reelegeu o PT, em 2006, mesmo após as denúncias de corrupção envolverem seu partido. A Lava Jato é muitas vezes maior que o Mensalão, mas se o país estivesse crescendo e empregos e poder de compra sendo preservados, dificilmente Dilma Rousseff teria um governo frágil e impopular a ponto de sofrer impeachment.

Da mesma forma, Donald Trump não ganhou as eleições presidenciais nos Estados Unidos por conta de seu discurso de campanha ultraconservador. Isso contribuiu, porém ele não conseguiu o voto de eleitores de Estados que desempataram a corrida eleitoral por discursos machistas, xenófobos e homofóbicos. Mas, sim, por prometer ao trabalhador médio norte-americano a recuperação de seus empregos, perdidos com a globalização. Discurso que atingiu o lugar certo usando serviços como o da Cambridge Analytica. Para muitos, o restante do que ele disse foi relevado. Não porque concordassem com os preconceitos de Trump, mas por causa desse cálculo racional.

Quando um eleitor votar em Bolsonaro, por exemplo, não será necessariamente por seu apoio ao seu discurso machista. Pode ser também apesar dele, acreditando que traga, com seu discurso autoritário, um diferencial na segurança pública – por mais que as soluções que apresente para o tema sejam as mesmas das que estão aí desde sempre e nunca deram certo.

Quem ouve os lugares-comuns proferidos pela maioria dos pré-candidatos a respeito de geração de empregos e da segurança pública, sem ações efetivas e concretas de curto prazo e sem considerar mais um Congresso Nacional terrível que vai surgir, vai dormir mais triste e preocupado.

Os que entendem um pouco mais do riscado parecem não consegui falar com o povo, dando palestras acadêmicas, não entrevistas. Estamos em maio. Se o campo democrático, da direita à esquerda, não abrir o olho e perceber que suas preocupações não são necessariamente as mesmas do grosso da população vai ser atropelado sem conseguir anotar a placa do caminhão que o abateu.

Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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