Crime e impunidade: as balas que dispararam Gouveia seguem sem dono

Gouveia incomodou os fazendeiros da região com sua ousadia questionadora, que colocou o dedo na ferida de quem fazia uso indevido de terras e questionou a forma como a agricultura local funcionava. Sua sentença foi receber 10 disparos

Por Agatha Azevedo, na Página do MST

No último dia 23 completou-se um ano do assassinato de Silvino Nunes Gouveia, de 51 anos, que foi morto no assentamento Liberdade, na cidade de Periquito, em Minas Gerais. Neste curto intervalo de tempo, também ocorreu no dia 28 o ataque ao acampamento Lula Livre em Curitiba (PR), que deixou dois feridos.

O excesso de balas em ambos os casos denota o desejo de vingança e a sensação de impunidade por parte dos agressores dos direitos humanos, da liberdade de expressão e da reforma agrária. Gouveia incomodou os fazendeiros da região com sua ousadia questionadora, que colocou o dedo na ferida de quem fazia uso indevido de terras e questionou a forma como a agricultura local funcionava. Sua sentença foi receber 10 disparos.

O caso do homem que foi acampado na região do Vale do Rio Doce por 9 anos, próximo à rodovia, e que foi cultivar em áreas comuns do Assentamento Liberdade, segue sem solução, e o que afirma a Polícia é que as investigações não apontam para os mandantes e executores, existem apenas suspeitos. O clima no local é de insegurança, e Gouveia não foi uma vítima isolada, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão ligado à Igreja Católica, afirma que em 2016 os conflitos agrários causaram a morte de 61 pessoas no Brasil.

Positivo e disposto a ajudar a comunidade, Gouveia não falava com os companheiros e companheiras de luta sobre as ameaças que sofria. Nas vésperas de seu assassinado, a cerca de seu lote foi cortada e invadida por gado e ele teve que se esconder na casa da vizinha e amiga, Vaninha.

Segundo ela, a insegurança que ele vivia por conta de sua atuação política contribuiu para o crime, mas a comunidade não irá descansar enquanto não encontrarem os culpados. “Nós temos medo, porque a razão da violência é a impunidade e essas pessoas continuam por perto, transitando no assentamento, procurando terras para arrendar, e isso deixa muito medo na nossa comunidade, mas nós aguardamos para que a justiça seja feita.”, desabafa Vaninha.

Este crime carrega a sede de justiça de diversos outros que a classe trabalhadora sofreu nos últimos anos e é lembrado também como um foco de resistência no Vale do Rio Doce. Gouveia, assim como os integrantes da Vigília Lula Livre, também já tinha sofrido diversas represálias por suas ações, e tão “crônica anunciada” quanto os disparos que a Vigília sofreu, o assassinato de Gouveia reforça a tentativa de eliminar os que ousam lutar. Contudo, Gouveia vive, assim como Marielle Franco, os mortos do massacre de Carajás, de Felisburgo, e tantos outros guerreiros. O recado dos movimentos sociais é o de continuar lutando, resistindo e se forjando na classe trabalhadora no povo brasileiro.

*Editado por Gustavo Marinho

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