No Festival de Cannes, equipe de filme luso-brasileiro protesta contra genocídio indígena

Por Mônica Nunes, no Conexão Planeta

Assim que chegou ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 16/5, a equipe da produção luso-brasileira Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (The Dead and The Others) – que participava da mostra paralela Um Certo Olhar -, protestou contra o genocídio indígena no Brasil e pediu pela demarcação de suas terras. Entre eles estavam dois índios de uma aldeia Krahô, que fica no estado do Tocantins e participaram do filme.

O protesto na França se soma às mobilizações de líderanças indígenas pelo país (e fora dele, como fazem Raoni, dos Kayapó, e Almir Suruí, dos Paiter Suruí), que acusam o governo de Michel Temer de favorecer a invasão de suas terras pelos ruralistas, e, por isso, a não demarcar as terras indígenas.

Realizado durante nove meses na Aldeia Pedra Branca, na reserva dos índios Krahô, no estado do Tocantins, o longa metragem conta a história de um jovem índio, Ihjãc, que precisa lidar com o ritual de um funeral, contrapondo vida e morte. É um filme de ritmo lento, como se pode ver no segundo trailer que reproduzo no final deste texto. Certamente o ritmo da floresta e de quem vive nela.

Tudo que li a respeito do filme indica que se trata de uma obra de “beleza plástica arrebatadora!”, como divulgou o site Omelete. Segundo este, para alguns críticos presentes à mostra, trata-se de “um filme bonito”, com “uma abordagem tão íntima (a câmera passeia muito próxima deles) e poética”, que não poderia mesmo ficar de fora.

Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos foi dirigido por uma paulista, Renée Nader Messora, e um lisboeta, João Salaviza. Ela esteve nas terras dos Krahô em 2009 para registrar uma festa de fim de luto, que acontece sempre um ano depois da morte de alguém. Se encantou por aquele universo e voltou para realizar o sonho de produzir um filme de ficção sobre as transformações vividas por essa etnia.

Em entrevista à agência France Presse, os diretores destacaram o “perigoso discurso” atual que visa denegrir os índios apenas porque adotam alguns costumes dos brancos, como usar roupas, ter celular, estar na internet e nas redes sociais. “Ser indígena é um modo de ser, não de aparentar”, declarou João. Vale conhecer a campanha do Instituto Socioambiental a respeito desse assunto: Menos Preconceito, Mais Índio.

Pelos corredores do Festival, o filme de Renée e João foi considerado o favorito da mostra Um Certo Olhar, cujo júri é presidido pelo cineasta Benício Del Toro. Vamos aguardar até o último dia do festival, que termina no próximo sábado, 18/5, para saber o resultado. Se ganhar, juntará a Ex-Pajé (sobre o qual já falei aqui), que conta sobre a evangelização dos povos indígenas e a destruição de sua identidade, reconhecido com menção honrosa no Festival de Berlim, este ano.

Importante observar que vivemos uma boa fase de produções cinematográficas, que têm conquistado reconhecimento e visibilidade, desde o ano passado. Martírio, de Vincent Carelli (o segundo de uma trilogia), foi notícia no ano passado. Participou de festivais, foi muito comentado e premiado. Este ano, foi a vez de Piripkura (que teve curta exibição nos cinemas, mas está disponível na plataforma VideoCamp, que credencia interessados a fazer exibições públicas), de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge, e Ex-Pajé, de Luiz Fernando Bolognesi. Que venham mais!

Agora, assista aos três trailers do filme Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos exibidos em Cannes:

Foto: Divulgação

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