E diga ao povo que avance!

Na Mídia Ninja

A luta dos povos originários por território e respeito é constante desde que o Brasil tem esse nome. Num país onde terra significa poder, esqueceu-se o poder da terra. Todo o domínio do homem branco e exploração do solo é um dos maiores indicadores de que a cultura indígena e o seu conhecimento de manejo vêm sendo engolidos pelo capital, com a mesma brutalidade em que são exterminados os povos a quem ela pertence. Mas quem assassina um guerreiro desconhece a força dos encantados, e a luta de resistência desses povos é secular.

Dia 20 de maio de 1998, mais um assassinato pra não ser esquecido. Impunidade é quem rege a narrativa e a luta é quem traz força a história. Cacique Chicão, líder do povo Xucuru de Ororubá, é morto a tiros em frente à casa de sua mãe. Da tristeza fez-se a dança e de sua morte fez-se música, como a do Mundo Livre S/A, que diz que Chicão não foi enterrado, ele não foi sepultado, ele foi plantado para que dele nascessem novos guerreiros. E muitos jovens vieram, a cultura Xukuru atravessa gerações, e segue carregando suas tradições.

Fazem 20 anos e 7 outros assassinatos que isso aconteceu, e como cita Alceu Valença “O poder é irmão da polícia que é prima carnal do estado e de uma cega chamada justiça”; a impunidade segue junto com as cicatrizes.

Cada ano que se passa, em todo dia 20 de maio, é realizada uma assembleia em seu nome, que parte dos povos tradicionais do sertão e é aberta ao público. O novo líder, Marquinhos Xukuru, filho de Chicão, rege a cerimônia e se pronuncia junto com outros atores da sociedade organizada. A ideia é formar uma corrente, uma unidade contra a usurpação do poder e em prol das lutas dos movimentos sociais contra o golpe de estado.

A 19ª Assembleia Xukuru de Ororubá aconteceu entre os dias 17 e 20 de maio na aldeia Pedra d’água, na serra do Ororubá. Localizada próximo à cidade de Pesqueira, no agreste pernambucano, esta aldeia está dentro das demarcações de terra do povo Xukuru. Além dos temas já citados, a assembleia conta a história de lutas e retomadas de território, apresenta a comunidade como força autônoma e que não reconhece o atual governo, além de apresentar o caso de resistência de seis latifundiários em sair das demarcações de terra indígena, explicitando as emboscadas, atentados e assassinatos.

Foto: Meyriane de Mira/ Mídia NINJA

O encontro tem caráter popular e revolucionário, e este ano contou com cerca de 2000 visitantes, dentre eles estava Sonia Guajajara, coordenadora da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e força importante na luta dos povos tradicionais, candidata a co-presidente pelo Psol ao lado de Guilherme Boulos. Aconteceram rodas de conversa, encontros culturais com outros povos, danças e apresentações de peças teatrais.

No último dia, foi celebrada a missa pela morte de Chicão na igreja da aldeia, exatamente no lugar onde o ele foi plantado. Após a cerimônia, indígenas e visitantes desceram a serra do Ororubá em direção à cidade de Pesqueira dançando o Toré (ritual que envolve dança, religião e luta). Marquinhos, num ato simbólico, abre a porteira para o começo do Toré.

A descida acontece sempre às 14h da tarde, movida por força e coragem.

”E diga ao povo que avance!” (Cacique Marquinhos)

Foto: Meyriane de Mira/ Mídia NINJA

Foto: Meyriane de Mira/ Mídia NINJA

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