Quem apoiar a política de preço da gasolina da Petrobras passa ao 2º turno? Por Leonardo Sakamoto

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Brasileiros apoiam a redução no preço do combustível, mas não querem que isso seja bancado pelo aumento de impostos ou via corte de gastos em educação ou saúde – como fez o governo Michel Temer para cobrir o rombo a ser deixado pela redução no preço do diesel, promessa feita aos caminhoneiros em greve.

Quem aponta isso como uma contradição é por que desconsidera a mudança na política de preços de combustíveis da Petrobras como alternativa. Encararam isso como insanidade, irresponsabilidade ou populismo.

A busca pelo equilíbrio entre as demandas de diferentes grupos de interesse (governo, sociedade em geral, consumidores de combustíveis, outros acionistas da Petrobras) que influenciam na decisão de uma empresa de capital misto não é um trabalho fácil. Mas necessário, pois a imposição de um único ponto de vista, como o do mercado, é algo artificial. Da mesma forma que o controle de preços do governo Dilma também era.

É um ato opressor curvar a política à técnica, afirmando que essa é baseada no ”bom senso” quando sabemos que a técnica também é política. Por vezes, tecnocratas não aceitam negociação, dizendo que estão sofrendo intervenção de interesses políticos. Quando suas próprias decisões são, na verdade, ações políticas que estão intervindo no bem-estar da parte mais pobre da sociedade.

A natureza do embate presente na discussão sobre a política de preços da Petrobras se repete em outras área da vida nacional.

A maior parte dos eleitores brasileiros preferem ver o diabo na sua frente do que a proposta de Reforma da Previdência defendida pelo governo Michel Temer. E, da mesma forma, sentem-se enganados por uma Reforma Trabalhista aprovada sem a devida consulta popular sob a justificativa de que, em pouco tempo, levaria a um aumento na qualidade de vida da população e à redução do desemprego.

A Constituição Federal de 1988 afirma que o país deve buscar o desenvolvimento econômico, mas também garantir condições de bem-estar social à população. Há, portanto, dois objetivos que podem ser conflitantes e demandam constante negociação. O que fazer quando os recursos são escassos? Quais são as prioridades que devem ser adotadas pelo país?

Nesse sentido, gostaria de ver os candidatos ao Palácio do Planalto e ao Congresso Nacional discutirem duas questões na campanha eleitoral: qual o papel que acham que a Petrobras deve desempenhar e como o Brasil deve reformar seu sistema de Previdência Social. Os eleitores terão chances, dessa forma, de votarem naqueles cujas visões de mundo melhor os representam.

E que vença o modelo de país que o país optar nas urnas. A sociedade brasileira deve arcar com as consequências das decisões que as eleições tomarem, para bem e para mal.

Já chega de políticos e tecnocratas que consideram o povo incapaz de tomar decisões para sua própria vida e, consequentemente, acham válido tutelá-lo. Esses políticos e tecnocratas não conseguem perceber que tratam como equivocada qualquer interpretação de mundo diferente da sua e, como manipulação, as ideologias diferentes daquela que abraçam – apesar de acreditarem que não abraçam nenhuma.

Tristes tempos estes em que temos que implorar por democracia.

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