PUC-Rio é banida dos Jogos Jurídicos após casos de racismo

Uma comissão disciplinar vai apurar os episódios racistas para identificar os responsáveis

Por Catraca Livre

Durante os Jogos Jurídicos Estaduais de 2018, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, três casos de racismo por parte de alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) vieram à tona nas redes sociais. Após as denúncias, a Liga Jurídica Estadual decidiu punir a Atlética de Direito da instituição.

De acordo com a Liga, a PUC do Rio perdeu pontos e, consequentemente, o título de campeã geral da competição deste ano. Além disso, a atlética da universidade não poderá participar dos Jogos Jurídicos Estaduais do Rio de Janeiro em 2019. Veja a nota que enumera as punições aplicadas:

Segundo relatos feitos na internet, ocorreram três situações discriminatórias envolvendo estudantes que fariam parte da torcida da PUC. A primeira delas aconteceu no sábado: uma jovem teria jogado uma casca de banana na direção de um atleta negro da Universidade Católica de Petrópolis (UCP).

Já no domingo, após a final do basquete masculino, integrantes da torcida da PUC teriam imitado macacos diante dos torcedores negros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O último caso, no mesmo dia, também envolveu torcedores da PUC, que teriam chamado uma das jogadoras da Universidade Federal Fluminense (UFF) de macaca.

O movimento Jogos Sem Racismo, que reúne alunos negros de universidades do Rio de Janeiro, publicou um comunicado nesta segunda-feira, 4, no qual repudia os casos e cobra medidas da universidade.

“Hoje, depois do que podem ter sido os quatro mais dolorosos dias das nossas vidas enquanto negros estudantes de direito, pudemos começar a fazer justiça com nossos atletas, torcedores e torcedoras agredidos. Esperamos, ao menos, que essa dor descomunal se revele uma oportunidade para que TODAS as Faculdades de Direito repensem suas práticas e tornem os Jogos um ambiente mais inclusivo”, diz o texto do movimento.

As denúncias estão sendo investigadas pela 105ª Delegacia de Polícia, que busca informações sobre os suspeitos de envolvimento nos episódios de injúria racial.

Ao Catraca Livre, a Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários e o Departamento de Direito da PUC-Rio informaram que decidiram criar uma Comissão Disciplinar para averiguação das informações e, caso confirmada a veracidade, a apuração e individualização das responsabilidades de membros do corpo discente.

Leia o posicionamento na íntegra:

“Após tomar conhecimento, pelas redes sociais, de informações sobre atos de racismo possivelmente ocorridos durante os jogos jurídicos, a Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários e o Departamento de Direito da PUC-Rio decidiram constituir Comissão Disciplinar para averiguação das informações e, caso confirmada a veracidade, a apuração e individualização das responsabilidades de membros do corpo discente. A Comissão Disciplinar será composta pelos professores Breno Melaragno, professor de Direito Penal, Job Gomes, professor de Direito do Trabalho e de Direito Desportivo, e Thula Pires, coordenadora do NIREMA (Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente) e professora de Direito Constitucional, e terá prazo de quinze dias para elaboração de relatório.

Permanecemos fieis ao pioneirismo na promoção da diversidade e da igualdade racial, pois foi a PUC-Rio o berço dos pré-vestibulares comunitários para negros e carentes, a primeira instituição particular brasileira a instituir política de acesso e permanência de alunos negros e carentes, mediante concessão de bolsas de estudo, auxílio financeiro para custeio de despesas de alunos bolsistas, por meio do programa FESP (Fundo Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio) e a primeira instituição a oferecer disciplina na graduação sobre ações afirmativas.

Aproveitamos a oportunidade para reiterar o compromisso da PUC-Rio com os princípios que constituem nossa missão pedagógica e cidadã. Com base nesses princípios, acreditamos que o racismo, violência que ainda corrói a sociedade brasileira, deve ser enfrentado por medidas repressivas e inclusivas. Não tergiversamos em combater qualquer forma de manifestação de racismo por meio de punições disciplinares e preservaremos o esforço de contínua melhoria das políticas de promoção da diversidade e da igualdade racial em nossa Universidade.

Professor Augusto Sampaio
Vice-Reitor Comunitário da PUC-Rio

Professor Francisco de Guimaraens
Diretor do Departamento de Direito da PUC-Rio”

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