Projeto contempla famílias de atingidos por barragens, que terão participação ativa no processo
Maíra Gomes, Brasil de Fato
Pela primeira vez no Brasil, será instalada, em Grão Mogol, no Vale do Jequitinhonha, uma usina híbrida, ou seja, que usa duas diferentes formas de geração de energia. Na já existente Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Santa Marta, que gera a energia, se construirá uma usina de geração fotovoltaica, conhecida popularmente como placa de energia solar.
“Temos uma PCH funcionando, mas com os reservatórios já depreciados pelo tempo e pouca reserva de água. Instalaremos uma usina flutuante em cerca de 30% do reservatório já existente e vamos aproveitar parte da estrutura, como a rede de distribuição subestação e outros”, explica Denio Alves Cassino, engenheiro de energia da Efficiencia, uma das empresas executoras do projeto.
O projeto de pesquisa e desenvolvimento é resultado de uma parceria entre a Cemig e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), com previsão de investimento de R$ 24,4 milhões. O convênio foi assinado pela Associação Estadual de Desenvolvimento Ambiental e Social (Aedas), com participação da empresa Axxion Soluções Tecnológicas S.A., a subsidiária da CEMIG Efficientia S.A., e a PUC Minas.
Único na história do país, o projeto prevê a participação ativa da população de 21 municípios da região, totalizando cerca de 1250 famílias de atingidos por barragens. Essas famílias serão beneficiadas com a energia produzida na usina híbrida e com redução nas tarifas.
Frederico Soares, gerente de Tecnologia e Inovação da Cemig, explica que o engajamento das comunidades se dá nos processos decisórios do próprio empreendimento, com a construção da metodologia, as questões administrativas, e até mesmo no trabalho técnico no dia a dia da usina.
“Nunca o setor elétrico havia pensado uma proposta que trabalhasse tecnologia de desenvolvimento com participação social em um mesmo projeto. Isso tem uma riqueza que nenhum outro projeto tem”, celebra Frederico.
A iniciativa já está em andamento, em sua fase inicial de formação de pesquisadores populares para a realização do diagnóstico da região. A proposta básica da usina está em elaboração e deve estar pronta até julho deste ano, com previsão do início das obras em setembro. De acordo com a Aedas, a Usina Solar Fotovoltaica deve estar em operação até abril de 2019.
Participação das mulheres
O projeto Veredas Sol e Lares foi assinado no dia 8 de março deste ano, no dia internacional de luta das mulheres. Com a presença de mais de 200 atingidas por barragens de todo o estado, o convênio foi assinado entre o governador Fernando Pimentel (PT), a Cemig, as quatro empresas executoras e o MAB.
“Isso é resultado de mais de 20 anos de luta. Para nós do MAB essa conquista não é só de Minas Gerais, é parte de um debate que estamos fazendo há anos: de que cabe ao povo o controle da energia, da riqueza. O projeto foi construído a partir das demandas das próprias comunidades, integra a construção do Projeto Energético Popular, com soberania, distribuição da riqueza e controle popular”, comemora Rogério Oliveira, militante do MAB e morador do Vale do Jequitinhonha.
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