Em Reunião com lideranças Apinajé, representantes da Empresa Suzano Papel e Celulose confirmaram a compra de terras no entorno da T.I. Apinajé

Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà

A reunião aconteceu no dia 16/07/18 na sede da FUNAI/CTL de Tocantinópolis, onde estavam presentes representantes da FUNAI, IBAMA/Prev-Fogo, lideranças indígenas e da Empresa Suzano Papel e Celulose. 

A Suzano Papel e Celulose, “Empresa familiar de base florestal”, foi instalada em Imperatriz – MA em 2013, numa região estrategicamente localizada com acesso às rodovias Belém-Brasília, Ferrovia Norte –Sul e EFC.  A empresa cultiva eucaliptos em áreas de cerrados e florestas de transição, nos Estados do Tocantins, Maranhão e Pará, em plena Amazônia legal, na região conhecida como “Bico do Papagaio”. A produção beneficiada é exportada para outros países via porto de Itaqui em São Luís – MA.

Afirmando Responsabilidade Social e Empresarial, os representantes da Suzano Papel e Celulose manifestaram desejo de ouvir as lideranças Apinajé sobre o processo de compra de terras na região do entorno da terra indígena, e confirmaram a compra da Fazenda “Maria Isabel” localizada no município de São Bento do Tocantins, que pertencia a Queiroz Galvão.

Os representantes da Suzano Papel e Celulose afirmaram ainda que precisam conhecer melhor a cultura, os costumes e as relações do povo Apinajé com a região do entorno, aonde está localizada a referida Fazenda. Enfatizaram a necessidade de construir diálogos e boas relações de vizinhanças com a comunidade indígena.

Ainda perguntaram se a comunidade utiliza a região para caçar, pescar, fazer coletas de frutas ou remédios. Quiseram saber sobre a existência de algum sitio arqueológico, cemitério ou local com valor histórico ou mitológico para os Apinajé, na referida região que compreende a área da Fazenda “Maria Isabel”.

As lideranças indígenas, se manifestaram contra a compra de terras no entorno da T.I. Apinajé para plantio de eucaliptos em razão dos impactos ambientais verificados na Fauna e Flora da região. Os líderes foram enfáticos e culparam o desmatamento do Bioma Cerrado como principal causa da degradação e seca das nascentes de águas do entorno e dentro da T.I. Apinajé, observados nos últimos quinze anos.

Os líderes Apinajé, elogiaram o comportamento da Empresa no sentido de estabelecer diálogos com vizinhos, entretanto desconfiam o fato da Empresa estar inserida no mercado global de forma competitiva e buscando sempre o lucro. Reconheceram que é compreensível que a Empresa queira dialogar, até como forma de “mascarar” sua imagem perante o mercado. E recomendaram que a Suzano Papel e Celulose acompanhe de perto a realidade das populações afetadas em toda região que atua. Pode ser que (alguns) acordos e compromissos assumidos no Papel com essas comunidades não estejam sendo efetivamente cumpridos.

Os representantes Apinajé, ainda reclamaram dos parlamentares (Deputados e Senadores) que sempre atuam flexibilizando e enfraquecendo a legislação ambiental visando facilitar o licenciamento ambiental para desmatamento de novas áreas para cultivo de eucaliptos, cana, soja, milho e outras produtos para exportação. Essa é razão do aumento dos desmatamentos, carvoarias e plantios de eucaliptos no entorno da T.I. implantados sem o devido Estudo de Impacto ambiental-EIA/RIMA e sem o conhecimento e a participação da FUNAI no Processo.

Além disso a Empresa antes de implantar plantações de eucaliptos em larga escala próximo às terras indígenas deveria ainda observar as Normas prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho-OIT, que trata da Consulta Prévia, Livre e Informada, quando se pretende construir qualquer projeto que impacte comunidades indígenas e quilombolas.

Lembrando que a não observância pela Empresa dos Regulamentos da Convenção 169 da OIT ratificada pelo Brasil, pode ser entendido como descumprimento de Legislação Internacional. Esse comportamento da Empresa contradiz o discurso de Responsabilidade Empresarial e Social e depõe contra a ética, a moralidade e honestidade, valores que a Empresa deveria assumir em suas relações com as populações do “Bico do Papagaio” afetadas pela monocultura de eucaliptos.

Por fim, os Apinajé recomendaram que a Empresa se abstenha de adquirir terras na vizinhança e nos limites da T.I. Apinajé, pois no futuro pode ter sérios problemas com a Lei, os órgãos ambientais e as próprias comunidades indígenas.

A Empresa disse que em breve será divulgado um Relatório destacando as conversas com a população indígena, e se comprometeu:

1)      Acompanhar o balanço hídrico;

2)      Fazer análise da água dentro dos limites da fazenda “Maria Isabel”;

3)      Identificar nascentes de águas e impactos a jusante.

Terra Indígena Apinajé, 26 de julho de 2018

Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà

Comments (1)

  1. A História sempre foi escrita pelo vencedor, mas hoje índios e seus descendentes têm acesso aos registros históricos e sabem que os livros didáticos não contam toda a verdade. Além do “descobrimento” do Brasil, outras interpretações de fatos históricos foram escritas pelo colonizador registrando exclusivamente seu ponto de vista. O bandeirante, por exemplo, apesar de ser homenageado em monumentos e em nomes de ruas por ter percorrido epicamente longas extensões do território brasileiro, foi antes de tudo um genocida. Entrava nos sertões à frente de uma comitiva armada e partia em busca de populações nativas. Ao encontrá-las, destruía aldeias, trucidava indistintamente homens, mulheres e crianças e aprisionava os sobreviventes, conduzindo-os – acorrentados – até os engenhos de cana-de-açúcar onde os vendia como escravos. Os índios brasileiros têm o dever de pesquisar seu passado para reinterpretar a História do Brasil, omissa em relação à política genocida praticada pelo Estado Brasileiro há 500 anos com o propósito de eliminar os originários donos das terras, exploradas, no passado, pelos primeiros colonizadores e, hoje, cobiçadas por empresas reflorestadoras que procuram grandes áreas para plantio de eucalipto, madeireiras, carvoarias, empresas mineradoras internacionais, fazendeiros, pecuaristas, complexos hoteleiros, especuladores imobiliários e até empresas engarrafadoras de água.
    http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-09-25/construcao-de-rodovias-no-governo-militar-matou-cerca-de-8-mil-indios.html
    http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/09/relatorio-contabiliza-137-assassinatos-de-indios-no-brasil-em-2015.html
    https://www.correiodobrasil.com.br/temer-encontra-presidente-nestle-negocia-venda-aquifero-guarani/

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