Ao indicar que governo apoia Alckmin, Temer lança maldição sobre o tucano. Por Leonardo Sakamoto

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As eleições deste ano contam com um anticabo eleitoral. Por ostentar um índice de aprovação menor que a cotação do dólar comercial, Michel Temer tende a ser escondido pelas campanhas de aliados.

Na verdade, um pouco pior que isso: parte dos seus correligionários, principalmente no Nordeste, querem aparecer em santinhos ao lado de alguém que cumpre pena na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, ao invés daquele que ocupa o Palácio do Planalto.

Mesmo Henrique Meirelles, seu ex-ministro da Fazenda e candidato à Presidência pelo MDB, deseja uma distância de segurança. Ele, por exemplo, não disse muitas vezes o nome de Temer no debate eleitoral realizado pela TV Bandeirantes. Talvez lembrando o hoje já clássico ”Os Fantasmas se Divertem”, de Tim Burton, no qual repetir o nome três vezes fazia surgir a figura.

”Vou ter cautela para não fazer campanha para um ou outro. Até porque falam muito da impopularidade. Não quero nem incomodar, digamos”, afirmou Temer, em entrevista a Bruno Boghossian, na Folha de S.Paulo, desta quinta (16). Ele é uma pessoa inteligente, sabe que hoje é visto como o negativo do Rei Midas: o que toca não vira ouro, pelo contrário. Percebe que não vai ser bem-vindo em palanques ou no horário eleitoral gratuito.

Antes, ele não encarava essa impopularidade como algo tão ruim. Tentava ainda fazer do limão uma limonada. ”Um governo com popularidade extraordinária não poderia tomar medidas impopulares. Estou aproveitando a suposta impopularidade para tomar medidas impopulares”, afirmou em um café da manhã com jornalistas, em dezembro de 2016. Em outras palavras, apenas um governo não está preso à viabilidade eleitoral, foi capaz de aprovar uma quantidade grande de propostas e projetos que retiraram direitos sem a devida discussão com a sociedade em um curto espaço de tempo.

Mas como diz o livro de Eclesiastes, capítulo 1, versículo 2: ”Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade”. Até Temer, que conta com uma resiliência invejável, impõe um limite. E deixa claro que não admite ser tratado como aquele bicho de pelúcia surrado, que já foi abraçado e afagado, mas que, agora, é escondido no fundo do baú devido ao medo de seu dono, independente e crescido, sofrer bullying dos amigos.

Questionado sobre Meirelles tentar desviar-se da imagem do governo por conta da impopularidade, afirmou na mesma entrevista: ”Não pode desligar-se do governo. Dizer ‘eu não participei deste governo’ é impossível”.

Possível, possível, é. Afinal, Temer tentou fazer o mesmo com Dilma, como se ele não tivesse a parcela de culpa pela crise econômica parida no governo do qual fazia parte.

Nesse contexto, não deixa de ser interessante que, mesmo sabendo de sua capacidade de tirar vida e transformar em barro o que toca, Temer tocou em Alckmin.

Ao responder sobre o fato da base de seu governo estar com Alckmin e não Meirelles, lembrou que o PSDB deu sustentação à sua administração. E ainda mais: pode vir a dar continuidade. ”Primeiro pelo que ouço ele declarar. Segundo porque esses que ajudaram a fazer as reformas vão estar no governo se ele ganhar. Quem for eleito não vai conseguir se afastar do que começamos.” Para o eleitor que não gosta dele, isso soa como maldição.

Temer deixou claro que os tucanos também têm responsabilidade com a criação da criança e não podem dizer o contrário só porque ela apresenta ”notas baixas”: 82% de reprovação, duas denúncias criminais rejeitadas através de compra de votos no Congresso Nacional, quase 13 milhões de desempregados e 64 mil homicídios por ano.

A agenda principal do PSDB nunca foi Temer, o homem, a bem da verdade. Mas os líderes do partido queriam aproveitar a janela de oportunidade a fim de aprovar as reformas liberalizantes – essas sim pautas tucanas. Como ninguém votaria em um candidato que prometesse congelar investimentos em educação e saúde por 20 anos (PEC do Teto dos Gastos), a Reforma Trabalhista, a Lei da Terceirização Ampla e a não-aprovada Reforma da Previdência, o presidente foi a pessoa certa na hora certa. Tanto que o PSDB participou ativamente do seu governo e apenas desembarcou quando o calendário eleitoral se aproximou.

”Se você dissesse: ‘quem o governo apoia?’. Parece que é o Geraldo Alckmin, né?” Ao falar do comportamento dos partidos da base aliada, Temer acaba dando um abraço de afogado em Alckmin. Apesar de começar a campanha eleitoral com um latifúndio de partidos onde se colhe muito tempo de rádio e TV, o ex-governador paulista ainda amarga uma baixa intenção de voto. Portanto, esse tipo de declaração presidencial, a ser explorada por outras candidaturas, não ajuda.

Parece até um paradoxo, mas é fácil de compreender: ao indicar que seu governo pode continuar no de Alckmin, Temer joga contra a existência de um governo Alckmin.

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