CPT Bahia realiza formação de lideranças sobre relações sociais de gênero e poder em Jacobina (BA)

Por CPT Bahia – Centro Norte

A Comissão Pastoral da Terra – Centro Norte Bahia, realizou entre os dias 19 e 21 deste mês, a 5ª etapa da formação do Curso de Lideranças, o Liderar, no Centro de Educação Integrada (CEI), em Jacobina (BA). A formação teve como tema principal “Relações sociais de gênero e poder” e contou com a participação da arte educadora, agricultora e terapeuta holística Terezinha Bauer.

Através da arte em desenho da figura patriarcal da família, os participantes deram início a reflexão com a partilha das histórias de vida. Nas palavras das/os liderandas/os ficaram evidentes, que o homem detém o poder centralizador sobre os demais membros familiares, mas que na ausência masculina, as mulheres assumem esse lugar.

Segundo Tiago Silva Oliveira, morador da área de Lagoa de Dentro, em Ourolândia, também tem as mães e avós, que mesmo sofrendo uma diversidade de preconceitos e limitações, se doaram para dar sustentação na sobrevivência e permanência dessas famílias. “Minha avó é um símbolo forte de resistência para mim”, disse.

O encontro teve como objetivo principal a troca de experiências, a atenção para o sentimento de responsabilidade e compaixão diante dos cenários pessoais que foram partilhados, afinal são experiências vivenciadas de forma particular por cada uma/um ali presente. Dentro dessa roda de conversa, questionamentos surgiram e instigaram a turma a pensar em como encarar a diversidade de construções familiares que os cercam sem o pré-julgamento.

Um dos temas também trabalhados foi o racismo, que está presente em diversos espaços onde atuam as lideranças. A discussão do texto “A Máscara”, de Grada Kilomba, contribuiu na reflexão do tema, que apresenta a diversidade de racismo e opressão que as pessoas sofrem no cotidiano, assim como a necessidade da classe dominante de sempre manter quem está em uma situação de opressão presa a ela, porque esse fato é o que alimenta o ego/poder de uma classe que manda.

De forma pedagógica, a facilitadora fez os/as liderandos/as contemplarem a opressão que o machismo secularizado tem gerado na base da sociedade, fazendo uma ligação com o histórico exposto pela turma, fato que vem desde a nossa ancestralidade, seja em casa ou na comunidade local.

Ao final do encontro perguntas sugestivas e reflexivas foram feitas para os participantes, tais como: Como trabalhar para que o homem seja um companheiro na relação e não a figura que manda, que tem o poder sobre o lar? Como fortalecer as mulheres dentro da relação para garantir os mesmos direitos que tem o companheiro?

Para Marcelo Canto de Deus, da Comunidade de Fundo de Pasto de Umbiguda, em Mirangaba, essa foi uma etapa diferente das demais, o fato de trazer a questão familiar para a roda de conversa ajudou a entender e querer fazer diferente. “Hoje somos bons frutos. A formação da nossa família é bem especifica, vamos aprender a enxergar a nossa realidade e depois o além, a minha comunidade é meu mundo”, relatou.

Já para Alijane de Souza Pereira, moradora da área de Nova Canaã, em Pindobaçu, a cada etapa os participantes vão adquirindo mais conhecimentos. “Saio dessa etapa reconhecendo muito mais esse meu eu. Temos esse machismo dentro da gente e vou agora trabalhar isso na minha casa para sermos novas pessoas”, concluiu.

A seguir, um cordel sobre o racismo e a diversidade feita pelos/as liderandos/as nesta etapa:

Cordel (Akaine, Etevaldo, Alisson e Arlete)

É para começar vamos fazer uma narrativa

Pois nem sempre a realidade corresponde expectativa

Numa escola onde negros, lutam pela própria vida, mais não é somente os negros que sofrem desse mal.

Pois ainda temos brancos no sistema racial

Onde quem pode nos ajudar se passam por mudo e surdo e assim vai se passando a luta pelos estudos;

Onde cada dia buscamos novos atalhos, que seja um espaço no mercado de trabalho;

Desenhamos essa história, mesmo sem ser um artista em busca de acabar com a ideologia racista;

Que temos na sociedade, diferenças como gênero, raça e identidade;

Que seja a amostra que as escondidas

É muito difícil curar as feridas

É tem palavras que não nos enganam, o que nós precisamos é de formação humana.

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